26 setembro 2013
apurando sabores
Tenho reparado que o cansaço é uma espécie de destempero secreto neste complexo cozinhado que é a educação que tentamos dar aos filhos. Quando estamos de rastos, afinam-se os nossos piores defeitos e estraga-se a harmonia de um prato que se quer nutritivo e saboroso. Nesses dias, eu torno-me ainda mais permissiva e deixo passar uma quantidade pouco recomendável de disparates, bufando qual panela de pressão a tentar não rebentar; já ele perde a mão à temperança e abusa dos indigestos castigos e do tom exaltado. Somos todos humanos e somo-lo ainda mais quando já nos arrastamos ao fim da tarde. Num mundo perfeito, todas as famílias cozinhariam a quatro mãos, um daria conta da entrada e da sobremesa, o outro do prato principal e das bebidas, equilibrando ingredientes e mantendo o fogo em lume brando. Nos dias de cansaço é quando mais sinto admiração por quem tem de cozinhar sempre sozinho, tantas vezes para uma clientela mais exigente do que um batalhão de críticos culinários.
Quando em presença do senhor cansaço, eu ganho entrada imediata no clube do teu marido...
ResponderEliminarE normalmente, nesses dias, o prato cozinhado é sempre uma barrigada de fome...
Não cozinho sempre sozinha, mas faço-o por demasiadas vezes e por isso tenho uma noção mini do que é cozinhar solo sempre... é a vida de mulher-a-dias e guarda-nocturno!
"eu torno-me ainda mais permissiva e deixo passar uma quantidade pouco recomendável de disparates, bufando qual panela de pressão a tentar não rebentar; já ele perde a mão à temperança e abusa dos indigestos castigos e do tom exaltado"
ResponderEliminarPois, lá em casa também é mesmo isto... Sem tirar nem por. Deve ser isto a perfeição do ser humano que sente. Mas que sente tudo, de bom e de mau.
delicioso post :)
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