13 novembro 2013

lodo

Sabemos que estamos a entrar em queda livre quando o círculo vicioso do cansaço, da desmotivação e do desânimo, apatia e culpa, não dá mostras de ter saída. Tapamos os ouvidos às grandes tragédias do mundo e tentamos não nos perder nos nossos pequenos males, irrisórios e desprezíveis à luz da razão. Alarga-se mais a espiral da culpa, desânimo, apatia. E não há sentido que desperte com a ideia do café acabado de fazer. Não há perspectiva de horizontes por estrear. Não há sequer o consolo murcho do sarcasmo – maldita a hora em que percebemos que não passa de um jogo de espelhos – ou da falsa sensação de superioridade sobre outras vidas aparentemente absurdas e minúsculas. Ouvimos o eco das nossas orações e questionamos a Fé sob novas perspectivas. Os valores relativizam-se. Os pequenos prazeres diluem-se. A televisão de lixo já não hipnotiza e as montras electrónicas de vaidades não causam reacção. Diz que as drogas não compensam. No meio disto tudo, pouco mais há a fazer do que esperar que passe. Vai passando. Enquanto não passa, rastejamos como vermes viscosos e cinzentos, presos por correias de que não nos conseguimos libertar. Isto de viver todos os dias ao sabor da nossa própria flutuação de humores é o mais indissolúvel e involuntário dos compromissos. É uma partida da natureza que arrastamos fastidiosamente como um membro inerte. Nós, cada um com o seu peso morto. Reparamos nisso quando escrevemos no plural e há uma sugestão de alívio na condição colectiva de nadadores em areia movediça.

7 comentários:

  1. "Nós, cada um com o seu peso morto."...

    Andaste a escarafunchar-me nos pensamentos?!

    Resta a convicção que passa, sim! Não há nada que dure para sempre...

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  2. Alivia-te sim, que não estás sozinha. Isto há-de ser do tempo, este sol de novembro cansa, aborrece, desmotiva. Sim, deve ser isso...

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  3. E esperamos que a nuvem cinzenta passe e que o nosso humor se alegre e nos ajude a olhar para o exterior novamente com um sorriso. E “enquanto não passa, rastejamos como vermes viscosos e cinzentos, presos por correias de que não nos conseguimos libertar”.

    É mesmo... há dias difíceis que nos deixam cinzentos (lá está o uso do plural para o colectivo das nossas sensações)
    :-)
    Ana

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  4. Ai gralha do meu cuore, onde é que assino? Como diz a Naná e muito bem, andaste a escarafunchar na minha psique? Só não rezo, não tenho grande fé, porque de resto...

    "Isto de viver todos os dias ao sabor da nossa própria flutuação de humores é o mais indissolúvel e involuntário dos compromissos".
    Caraças, pá...
    Vou levar, tá?

    ;)

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  5. Se a consequência do lodo é escreveres assim, o meu egoísmo grita: Chafurda.

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  6. Olha...escreveste sobre mim!

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  7. :) (só um sorriso, porque sei que percebes)

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