31 março 2011

boa vizinhança

Dizem que os Dinamarqueses são o povo mais feliz do mundo (apesar de terem taxas de IRS que chegam aos 70 porcento, ouch!). Não tenho a certeza disso, mas são os mais queridos, isso são. O nosso carro - chamemos-lhe isso para não dizer asneiras, pelo menos durante a Quaresma -, dizia eu, o nosso carro avariou outra vez. E os nossos vizinhos emprestaram-nos o deles, sem hesitar, e foram para fora uma semana. Isso poupou-nos centenas de dólares em aluguer de um veículo que nos permitisse ir trabalhar. Estes gestos de generosidade e confiança fazem-nos acreditar um bocadinho mais no lado bom da humanidade. Se fosse assim com toda a gente, mesmo com a crise e com todos os imprevistos da vida, as coisas seriam tão mais fáceis.

30 março 2011

do bom feitio

Uma pessoa só se apercebe realmente de quão bom feitio tem o marido quando ele passa dois dias seguidos com a telha (com todas as razões do mundo). É estranho, é muito estranho. É como passar toda a vida numa ilha grega a contemplar o Egeu e, de repente, descobrir que também existe o Mar do Norte.
Como é que ele me atura com os meus altos e baixos, com as minhas reacções imprevisíveis, com a minhas respostas demolidoras só porque sim...?

25 março 2011

Portugal visto de longe

A Vera perguntava como é estar de fora a observar a situação do nosso país. É mais ou menos como ser um pássaro pousado no ramo alto de uma árvore a ver uma ninhada de pintainhos a caminhar alegremente para um precipício. Tão queridos e desorientados. (a galinha fugiu da capoeira, não aguentou a pressão)

23 março 2011

o casamento real

Dizem que estamos todos no máximo a 6 pessoas de conhecer seja quem for. Pois bem, eu estou só a duas de conhecer o Príncipe William, por dois ramos diferentes. Vai daí fomos convidados para uma festa a propósito do casamento do Bill e da Kate. Um primo dela, um senhor que anda sempre descalço (sim, mesmo na rua) e trabalha com o meu amantíssimo esposo, resolveu encenar a festa do ano aqui em Princeton. A minha maior tristeza por não irmos deve-se ao facto de nunca mais vir a ter oportunidade de usar um daqueles chapelinhos minúsculos e excêntricos. É muito injusto, há uma velhota excêntrica dentro de mim que quer sair e acho que vou ter de esperar mais uns anos antes de poder pintar o cabelo de vermelho e ninguém achar estranho.

22 março 2011

porquê querer voltar

A maior parte as pessoas a quem digo que desejo voltar a Portugal pensa que o problema está nos EUA ou na minha maneira de ver os EUA; não está, a questão está em gostar mesmo muito de Portugal. Há a família, os amigos, o cão, a casa, mas há também todo um país - tudo, com coisas boas e más. O meu país é como um Avô: pode dizer disparates, pode nem sempre nos compreender, mas é parte de nós. É parte de nós. Já estive em vários países e há alguns onde teria muito prazer em passar algum tempo. Mas sempre com bilhete de regresso a casa. Compreendo perfeitamente que haja outros que não pensem assim mas eu já me conheço. Eu quero voltar a casa. E fá-lo-ei assim que possível.
E, sim, tenho medo das dificuldades no regresso. Mas dificuldades temos nós vencido neste ano e meio.

21 março 2011

se hoje é segunda-feira

...e acordamos depois de uma noite de indisposição, a chuva mistura-se com a neve, ainda é noite, o café não presta, temos uma borbulha no queixo e, mesmo assim, temos vontade de começar a trabalhar e sorrimos, é porque estamos mesmo de bem com a vida.

19 março 2011

o meu pai

Muito do que sou como mãe, aprendi-o com o meu pai. As estórias, o entusiasmo com as conquistas filiais, as provocações, os gestos carinhosos sem motivo aparente, os pequenos rituais só nossos. Ambiciono ser a super-mãe dos meus filhos como ele é o meu super-pai. Ainda acredito que está muito próximo da omnisciência e da omnipotência. Alem do mais, é o melhor avô do mundo, adorado pelos netos. Por isso, hoje custa mesmo não estar com ele, apesar de aqui não ser hoje o Dia do Pai. Vamos ter de esperar mais um mês para o termos aqui connosco.

18 março 2011

existem dois tipos de pessoas

(as que acham que só há dois tipos de pessoas, e as que não estão de acordo com isso)

Nos tempos que correm, não distingo crentes de não crentes, altos de baixos, gordos de magros, esquerda de direita, portistas de adeptos de outras coisas, louros de morenos, nacionais de estrangeiros. A distinção que faço é só uma: entre as pessoas que, independentemente da sua situação profissional/financeira, conseguem ter empatia com quem não tem uma vida fácil, e as que não conseguem. É que cansam-me tanto os embirrentos com a história da geração à rasca, "ah porque eu também tive de trabalhar para comprar um carro e lá lá lá", como os que têm um emprego espectacular (hoje. amanhã...?), a casa de sonho, as viagens trimestrais de férias, e não fazem a mais pálida ideia de quão injusta, difícil e filha da mãe a vida pode ser.

o primeiro filho

Quando nasce o segundo filho, o primeiro é impiedosamente desapossado do título de bebé. Deixa de ser o epicentro da vida dos paizinhos (ainda bem), aprende a fazer montes de coisas sozinho, cresce, desenvencilha-se, partilha espaços, brinquedos e festas. Na minha opinião de irmã mais velha, o saldo é largamente positivo.
E depois chega o dia em que o mais velho adoece e o aperto no coração de mãe é o mesmo em que quando tinha 7 meses e teve as primeiras noites febris. Agora, o cólo já chega mal para um bebé tão grande. Em compensação, há festinhas de mano mais novo que ajudam a curar febres e alegrar dias a fio fechado em casa.
O meu Guguinhas já não é bebé mas está com pneumonia. Hoje não digo mal da indústria farmacêutica.

17 março 2011

goodreads

Não sei se já conheciam esta rede social mas eu só a descobri na semana passada e estou contentinha da vida. Finalmente, uma rede social que me ajuda a definir os meus gostos literários, faz sugestões de leitura em função disso, permite-me encontrar pessoas que gostam do mesmo que eu e avisa-me dos novos lançamentos que me podem interessar. Mais, num retoque geekfreak, através da aplicação do iPhone posso registar o código de barras de qualquer livro do mundo e ele passa automaticamente para a minha lista de lidos/a ler. Finalmente vou conseguir começar a reunir a minha colecção bibliográfica e estabelecer prioridades para o que quero ler no futuro. Adeus Facebook e suas mensagens irritantes de jogos que não interessam ao Baby Jesus, mais as correntes de poesia de bolso com imagens de unicórnios em tons pastel. Olá co-bibliófilos, o que é que recomendam que tenha saído recentemente?

15 março 2011

a promoção

Face aos actuais acontecimentos em Portugal e no mundo, inibo-me um bocadinho ao dizer isto: estou feliz. Mas estou-o porque estava a precisar desta promoção, depois de anos a dar passos atrás a nível profissional. Sabe bem saber que, sim, uma mãe-de-dois também pode ser reconhecida pela qualidade do seu trabalho. Sabe bem ir liderar uma equipa de quatro americanos de gema. Sabe bem e leva-me a reconhecer que isto só é mesmo possível nos EUA, uma estrangeira cair de pára-quedas e, ao fim de dois meses e meio, passar à frente de nacionais há muito mais tempo na empresa, exclusivamente em função do mérito. Por isso, eu sei que o mundo está mal e a vida é injusta mas hoje, só hoje, deixem-me gozar esta pequenina vitória.

13 março 2011

à rasquismo explicado às criancinhas

(enquanto víamos um vídeo da manifestação de ontem)
Gugas: Por que é que essas pessoas estão a fazer tanto barulho?
gralha: É uma manifestação. Uma manifestação é quando um grupo de pessoas acha que alguma coisa está mal e precisa de mudar, juntam-se e fazem muito barulho.
G: E por que é que estas pessoas estão a fazer barulho?
g: Porque as coisas estão muito más em Portugal, filho. Há muitas pessoas sem trabalho, há muitas pessoas com trabalhos maus. Há pessoas que não conseguem ter dinheiro para comprar comida, roupa, brinquedos para os meninos...
G: Isso é muito triste, mamã.
g: Pois é.
G: Tive uma ideia! As pessoas que têm dinheiro podiam dar dinheiro às outras.
g: Pois, mas nem toda a gente gosta de partilhar.
G: Ah...

12 março 2011

4 anos de gugas

Como é que é possível um menino tão bom, lindo, inteligente, curioso, bem-disposto, comilão, generoso, sonhador, meigo, e lindo (já disse lindo?) ter saído de mim há 4 anos? É muita sorte demais. O melhor deste dia, hoje, é poder fazer dele exactamente o que o Gugas deseja: uma festa cheia de amigos, muita animação, muitos mimos. Só falta o resto da família estar connosco para que seja perfeito.
Muitos parabéns filhote querido!

10 março 2011

a americanização da gralha

Parecendo que não, uma pessoa vai deixando entrar as estrelas e riscas pela pele adentro. É a manteiga de amendoim, é o tratar as pessoas por tu, é o comer só com um garfo (pronto, esta é mentira. ainda). Hoje fiquei estupefacta comigo mesma - e olhem que eu me tenho sempre em grande conta, é difícil surpreender o meu ego permanentemente inchado - ao falar com o Grande Chefe (Mórmon) da minha empresa. Como é que é possível eu já conseguir representar o papel do Yes Sir I'm All For It com tanta facilidade? É que sai-me como o ar que expiro. Será que alguma vez voltarei a ser uma humilde portuguezinha? Será que vou conseguir voltar a tratar as pessoas por Senhor Doutor, fazer vénias, diminuir-me à minha insignificância perante chefias tantas vezes broncas? Será que consigo voltar a suportar esperas de 4 horas em repartições públicas, incumprimentos de horários, trânsito louco, meias doses de refeições, pacotes de leite só de 1 litro?
Sim. Mas vou ter de me habituar a tudo isso de novo.

09 março 2011

pessoas

Não sei se sou eu que tenho expectativas baixas ou se é o mundo que é melhor do que o pintam. Só sei que todos os dias vou conhecendo pessoas boas, interessantes, com quem vale a pena estar. Serei muito ingénua ou os falsos, estúpidos, desonestos e egoístas andam todos a esconder-se de mim?

07 março 2011

atirem-me tomates, atirem-me a mercearia inteira

(título roubado com grande descaramento à Mãe Capotada)

Neste bonito processo que é a educação dos nossos filhos, há alturas em que nos deparamos com cruzamentos em que temos de fazer escolhas fracturantes. Quero ser a mãe fixe ou quero ser a mãe assertiva? Deixo-o tirar macacos do nariz, desde que seja com descrição e não os coma, ou incentivo a hipocrisia?
Pois bem, a festa de aniversário do Gugas aproxima-se e tive de fazer uma destas escolhas. Decidimos não fazer o (americanamente) politicamente correcto, convidar a turma toda, e deixámos que fosse ele a escolher quem queria convidar. Claro está que não quis convidar os rapazes que lhe andaram a fazer a vida negra nos primeiros meses na escola. Até que houve um deles que veio pedir-lhe para ir à festa. Resposta do Gugas: "pois claro que sim." E agora? Seguir a moral cristã e ensinar o perdão, ou seguir o instinto mais primário e ensinar-lhe que as (más) acções têm consequências? Se fosse com outra pessoa, tinha ido pela primeira opção. Tratando-se do meu filho mais velho que, temo, tem tendência a ser feito gato-sapato pelos espertalhões, achei que era mais importante mostrar-lhe que podemos dizer que não, que valemos por nós próprios e não pelos níveis de popularidade que atingimos junto deste ou daquele. Outras crianças precisam que lhes ensinem a dar. Esta precisa de aprender a não dar tudo a todos, indiscriminadamente. Posso bem com a fama de má, se for esse o preço de criar um adulto com o ego no sítio. Além disso, ele já pratica o perdão diariamente de cada vez que o Diogo lhe estraga uma construção de Lego. É uma questão de prioridades.

02 março 2011

motivo número 1 porque encerrei a loja

Ao segundo filho já faço muitas vezes como fosse o terceiro. Fantástico, aqui

01 março 2011

motivo número 1 porque nunca vou ser rica

Recusar-me a trocar um emprego de cão, mal pago, mas que me dá gozo, por outro que paga bem mas torna os meus neurónios infelizes.