28 julho 2011
um mau humor que é uma coisa inexplicável
Às vezes, ser boa mãe (boa, não, mas satisfaz pouco), é ir um bocadinho para o quarto e fechar a porta.
27 julho 2011
a preguiça, a falta do que fazer e a procrastinação
Já toda a gente se apercebeu de que quanto menos temos para fazer, menos fazemos, certo? Eu percebi isso no último ano de faculdade, em que só comecei a fazer a tese de licenciatura quando comecei a trabalhar a tempo inteiro.
O que é que uma pessoa faz quando tem muito tempo livre? Arrasta-se. Engonha. Feicebuca de cinco em cinco minutos. Adia a preparação de uma mudança familiar de continente para os últimos minutos.
E depois percebe que há muito quem ache que acordar às 9h30 é cedo, quando já não se lembra da última vez em que acordou depois das 7h30. E que há outras mães a tempo inteiro que afirmam que não têm tempo para levar os miúdos ao parque. O que é que fazem ao longo do dia, deixam-se hipnotizar pelo canal de televisão da Oprah?
A sério, nesta altura da vida, eu durmo oito horas por dia, cuido de dois filhos, brinco com eles, não vejo televisão, leio muito, cozinho todos os dias e não tenho empregada doméstica. E tenho imenso tempo livre. Imenso.
O que é que uma pessoa faz quando tem muito tempo livre? Arrasta-se. Engonha. Feicebuca de cinco em cinco minutos. Adia a preparação de uma mudança familiar de continente para os últimos minutos.
E depois percebe que há muito quem ache que acordar às 9h30 é cedo, quando já não se lembra da última vez em que acordou depois das 7h30. E que há outras mães a tempo inteiro que afirmam que não têm tempo para levar os miúdos ao parque. O que é que fazem ao longo do dia, deixam-se hipnotizar pelo canal de televisão da Oprah?
A sério, nesta altura da vida, eu durmo oito horas por dia, cuido de dois filhos, brinco com eles, não vejo televisão, leio muito, cozinho todos os dias e não tenho empregada doméstica. E tenho imenso tempo livre. Imenso.
25 julho 2011
norte e sul
(olhando para os nossos vizinhos dinamarqueses, de quem gosto muito)
Nós somos tão barulhentos. Um chinfrim que não tem discrição. Rimo-nos muito. Rimo-nos de coisas parvas, só porque sim. E abraçamo-nos, tocamo-nos, empurramo-nos, mimamo-nos. Tecemos os laços desta família com braços, pernas e tudo. Ostentamos os nossos gestos de carinho, o nosso amor não cabe apenas em palavras contidas. Até o mais pequeno já se habituou a trepar pelo maior e dar-lhe beijos lambuzados sem razão aparente. Gosto desta nossa essência do Sul, por muito que admire a civilidade do Norte.
Nós somos tão barulhentos. Um chinfrim que não tem discrição. Rimo-nos muito. Rimo-nos de coisas parvas, só porque sim. E abraçamo-nos, tocamo-nos, empurramo-nos, mimamo-nos. Tecemos os laços desta família com braços, pernas e tudo. Ostentamos os nossos gestos de carinho, o nosso amor não cabe apenas em palavras contidas. Até o mais pequeno já se habituou a trepar pelo maior e dar-lhe beijos lambuzados sem razão aparente. Gosto desta nossa essência do Sul, por muito que admire a civilidade do Norte.
23 julho 2011
barrela
Nunca retirei prazer das pequenas tarefas domésticas. Invejo um bocadinho quem sente profunda satisfação ao contemplar a transparência das vidraças que acabou de lavar, a lisura de uma camisa imaculadamente engomada. Ao contrário da minha mãe (a minha mãe anda a aparecer muito por aqui, pergunto-me por quê), não estou sempre à procura de mais alguma coisa para arrumar ou limpar. Mas é verdade que gosto de ter as coisas arrumadas e limpas, e isso consegue-se muito graças a detalhes que escapam aos homens. E pronto, lá descamba este post para o sexismo. Não há problema, os (para aí) três leitores do sexo masculino que tinha - e já estou a fazer uma estimativa optimista baseada nos meus seguidores no Uganda - abandonaram-me desde que reconheci publicamente a modéstia da minha copa de soutien.
Nunca nenhum homem em todo o mundo fez uma barrela, por exemplo. Há nesse gesto uma antecipação, uma preparação do que vem a seguir. A postura masculina perante a nódoa é a da máxima agressividade, o anti-nódoas em spray mais caro que encontrar no supermercado, aplicado mesmo antes de atirar a roupa para a máquina, no ciclo super-power plus. A nódoa é, contudo, uma problemática que reage com mais eficácia a uma abordagem com jeitinho e dedicação alongada. Há que deixá-la de molho no bicarbonato de sódio. Ela dorme uma noite naquela solução e começa a dar de si. E depois há que cobri-la de sabão, o sabão Clarim que peço à minha mãe (olha ela de novo!) para me trazer de Portugal, e deixá-la soçobrar de livre vontade. Quando chega à máquina de lavar roupa, a nódoa já deve estar no purgatório da sujidade, mera lembrança ténue de uma peça de fruta, de uma fatia de bolo de chocolate. E é assim, neste jeitinho feminino de entrega, que a roupa sai fresca e nova do tambor, cumprindo promessas de publicidade a detergente. Parece que, afinal, tenho algum prazer nestas coisas.
Nunca nenhum homem em todo o mundo fez uma barrela, por exemplo. Há nesse gesto uma antecipação, uma preparação do que vem a seguir. A postura masculina perante a nódoa é a da máxima agressividade, o anti-nódoas em spray mais caro que encontrar no supermercado, aplicado mesmo antes de atirar a roupa para a máquina, no ciclo super-power plus. A nódoa é, contudo, uma problemática que reage com mais eficácia a uma abordagem com jeitinho e dedicação alongada. Há que deixá-la de molho no bicarbonato de sódio. Ela dorme uma noite naquela solução e começa a dar de si. E depois há que cobri-la de sabão, o sabão Clarim que peço à minha mãe (olha ela de novo!) para me trazer de Portugal, e deixá-la soçobrar de livre vontade. Quando chega à máquina de lavar roupa, a nódoa já deve estar no purgatório da sujidade, mera lembrança ténue de uma peça de fruta, de uma fatia de bolo de chocolate. E é assim, neste jeitinho feminino de entrega, que a roupa sai fresca e nova do tambor, cumprindo promessas de publicidade a detergente. Parece que, afinal, tenho algum prazer nestas coisas.
22 julho 2011
trinta e nove cê
Os miúdos andam em pelo pela casa. Fechamos as janelas e só as abrimos à noite, que a minha mãe é Alentejana e eu aprendi qualquer coisa com ela. Aqui ainda há quatro estações do ano e isso é muito reconfortante. À tarde vou passar a ferro e cozinhar no forno, vou soar as estopinhas e sonhar com a cerveja gelada do jantar, depois de os deitarmos. Este Verão é (quase todo) longe do mar mas é cheio de cigarras e pirilampos. Passamos dias inteiros a brincar, a ler, a descansar, até ao aborrecimento que chame pelo regresso ao trabalho e à escola. É para isso mesmo que servem as férias grandes. E os meus meninos estão felizes, cor de caramelo.
21 julho 2011
continuam os posts com conteúdo elevadíssimo
"Ai, e tal, e se agora só pudesses escolher uma loja onde irias comprar toda a tua roupa, sapatos, acessórios, produtos de beleza, artigos de decoração?" Era esta. Estou a pensar acampar lá dentro durante a noite quando aquilo fechar. Ou então levo meia dúzia de vestidos para o provador, enfio-os uns em cima dos outros, e fujo a correr muito, muito depressa. Pode ser que me extraditem, mas vou feliz.
20 julho 2011
a verdade, verdadinha
Eu e o meu homem, noite de Verão, quarto, janela aberta.
Ele: Estás assim contente porque vamos voltar para Portugal.
Eu: Pois estou. E já sei que tu não estás, tenho pena.
Ele: Não, vou arranjar um bom emprego e vamos poder viajar. Vamos às Seychelles.
Eu: Isso. Mas dispenso as Seychelles. Vamos à Costa Rica. Ao Equador. Ao Senegal.
Ele: Ao Japão. Ao Cambodja.
Eu: À Índia. À Argentina.
Ele: Ao Perú.
Eu: Boa. E a Nova Iorque.
Ou, como uma pessoa pode passar dois anos mesmo, mesmo ali ao lado e não estar lá, comprar o bilhete de ida-e-volta de comboio meia dúzia de vezes mas não ver um espectáculo, não experimentar um restaurante, não conhecer os recantos improváveis, não a-pro-vei-tar. Porque não dá. Porque não somos um casal de turistas em férias, nem sequer a fingir por umas horas. E isto, senhores, há que dizê-lo, deixa-me chateada que nem um boi.
Ele: Estás assim contente porque vamos voltar para Portugal.
Eu: Pois estou. E já sei que tu não estás, tenho pena.
Ele: Não, vou arranjar um bom emprego e vamos poder viajar. Vamos às Seychelles.
Eu: Isso. Mas dispenso as Seychelles. Vamos à Costa Rica. Ao Equador. Ao Senegal.
Ele: Ao Japão. Ao Cambodja.
Eu: À Índia. À Argentina.
Ele: Ao Perú.
Eu: Boa. E a Nova Iorque.
Ou, como uma pessoa pode passar dois anos mesmo, mesmo ali ao lado e não estar lá, comprar o bilhete de ida-e-volta de comboio meia dúzia de vezes mas não ver um espectáculo, não experimentar um restaurante, não conhecer os recantos improváveis, não a-pro-vei-tar. Porque não dá. Porque não somos um casal de turistas em férias, nem sequer a fingir por umas horas. E isto, senhores, há que dizê-lo, deixa-me chateada que nem um boi.
19 julho 2011
força, tu vais conseguir
Aqui há dias, segui uma ligação (acho que da Melissa) para um texto que falava do problema da educação das crianças de hoje, que esperam a felicidade como um direito de nascença. Aquilo fez tudo um grande sentido para mim, à excepção da ideia de que não se valoriza o esforço. Parece-me que, em muitas situações, sobrestimamos o poder do esforço. Vende-se muito a ideia de que, se nos esforçamos o suficiente, conseguimos alcançar seja o que for. Não conseguimos, não senhor. Eu nunca poderia ser uma boa jogadora de vólei, nem que treinasse oito horas por dia. O meu marido nunca conseguiria dançar com desenvoltura, nem que o Nureyev descesse à terra e o encostasse à barra meses a fio. O talento existe, não é um mito maldoso inventado por um grupo fechado de perfeccionistas que não deixa mais ninguém entrar. Há pessoas com talento, pessoas com vários talentos e pessoas com imenso talento; e também há pessoas que não têm jeitinho nenhum para nada. É injusto, como tantas outras coisas na vida. É claro que o esforço é essencial e nada resulta apenas do talento. Mas já é tempo que alguém tenha a coragem de dizer you don't have it in you. E nós, comuns mortais, prosseguimos com a nossa vida banal de adoração dos escolhidos. Pelo menos o dom da apreciação foi distribuído mais democraticamente.
18 julho 2011
o poder da visualização
Sandes de manteiga de amendoim com doce de mirtilos, tu que acabaste de ser engolida com a ajuda de uma caneca de café adubada com leite condensado, estou a ver-te. Semi-desfeita numa papa acastanhada, desces até ao meu estômago e começas a decompor-te. Atravessas agora o meu aparelho digestivo e és absorvida por minúsculos vasos sanguíneos que me irrigam as vilosidades. O meu sangue está agora cheio de ti e corre direito às minhas coxas. Não vás por aí, sandes. Estou a ver-te, decidida, navegando em sentido ascendente. Chegas à minha caixa torácica e penetras o tecido adiposo das minhas maminhas (gostava de lhes chamar tecnicamente "mamas", mas não estaria a visualizar a realidade). Estás a preenchê-las, sim, a insuflá-las generosamente, numa adolescência inesperada. Obrigada, sandes, agora já posso usar blusas sem parecer um travesti com muito pouca maquilhagem.
Nunca li O Segredo, mas é assim que funciona, não é?
Nunca li O Segredo, mas é assim que funciona, não é?
16 julho 2011
o meu corpo
Isto agora vai soar muito New Age mas é verdade: vivemos (no Ocidente, hoje em dia) muito desligados do nosso corpo. Cobrimo-nos de cremes, adornamo-nos, perfumamo-nos, dopamo-nos, mas não sentimos o pulsar do sangue nas veias nem as endorfinas que acalmam um músculo dorido. Vivemos de costas voltadas para os ossos, tendões, cartilagens que nos sustentam e só dão sinal de vida quando alguma coisa dói.
Mais do que pela imagem ou por um conceito mais ou menos abstracto de saúde, é por isso que gosto de fazer exercício. Para sentir o meu corpo. Para usar o meu corpo. Porque é tão estúpido desprezar o corpo como desconhecer o tipo de música que nos faz vibrar, os livros que nos alimentam, as imagens que nos tocam. Nem sempre gostei de fazer exercício. Até aos 17 anos, e graças à formatadíssima e limitada Educação Física de tantas escolas portuguesas, detestava tudo o que tinha a ver com mexer-me. E depois conheci o remo, a corrida, a dança, o yoga, e não quis mais parar. Quando paro, definho. Definham os músculos e definha-me o ânimo. Fico velha, (ainda mais) chata, cansada. Por isso, gente, a sério, mexam-se. Toquem-se. Sim, isso mesmo que estão a pensar.
Mais do que pela imagem ou por um conceito mais ou menos abstracto de saúde, é por isso que gosto de fazer exercício. Para sentir o meu corpo. Para usar o meu corpo. Porque é tão estúpido desprezar o corpo como desconhecer o tipo de música que nos faz vibrar, os livros que nos alimentam, as imagens que nos tocam. Nem sempre gostei de fazer exercício. Até aos 17 anos, e graças à formatadíssima e limitada Educação Física de tantas escolas portuguesas, detestava tudo o que tinha a ver com mexer-me. E depois conheci o remo, a corrida, a dança, o yoga, e não quis mais parar. Quando paro, definho. Definham os músculos e definha-me o ânimo. Fico velha, (ainda mais) chata, cansada. Por isso, gente, a sério, mexam-se. Toquem-se. Sim, isso mesmo que estão a pensar.
14 julho 2011
stay at home mom
Olhado para os últimos posts, nota-se que estou a precisar de voltar ao trabalho. Só falo de filhos, compras, filhos, assuntos de importância nacional sob uma perspectiva infantil, e filhos. O que vale é que é só mais um mês e meio disto, que ainda começava a preocupar-me com a problemática do encaixar marcações no cabeleireiro com as aulas extra-curriculares dos piquenos. E eu nem vou ao cabeleireiro nem os meus filhos têm idade para aulas extra-curriculares. Nem eu lhes chamo piquenos. Ainda, porque agora tenho uma carrinha nova e acho que vou começar a falar com voz nasalada.
13 julho 2011
spiderman
Há 4 anos e 4 meses que estava à espera do dia em que o meu filho ia parar de ser mais querido, giro e delicioso a cada momento. Acho que esse dia chegou, é verdade. Chegámos ao topo da montanha da adorabilidade e agora é o downhill até às borbulhas, barba, não-sejas-chata-mãe, amigos com motas, mãe-vou-casar. O Gugas está a deixar de gostar de desenhos animados irritantes de pequenino. E aprendeu a dizer mentirolas. E só quer nadar debaixo de água, aprender a escrever, saber tudo sobre automóveis, aviões, países, planetas. Já sei, já sei, "eles crescem tão depressa". Mas eu recuso-me a aceitar que um dia não vou ser o centro do mundo e o cúmulo da perfeição para ele. Desculpem lá, mas exijo que ele me olhe embevecidamente, me abrace como se não houvesse amanhã, me faça declarações de amor todos os dias. Uma mãe tem direitos e o spiderman é uma seca.
Nem tudo está perdido, acabou de se vir aninhar no meu colo. Ah, bom!
Nem tudo está perdido, acabou de se vir aninhar no meu colo. Ah, bom!
11 julho 2011
iAminhavida
Ora pois, visto que o meu filho mais miúdo me roeu o cabo de alimentação do computador (deve ser por isso que ele próprio não se alimenta), tive de ir comprar um novo. Desloquei-me, consequentemente, à Casa da Maçã mais próxima e procedi à compra. Aquilo parece a Chanel dos electrodomésticos, só falta mesmo servirem-nos champanhe em flute (falta lamentável). Uma pessoa entra ali um bocado aparvalhada e só se vê rodeada de ecrãs e funcionários trendy-geek. Quando o primeiro se aproximou de mim e lhe disse o que queria, ele pegou numa caixa preta muito catita, deu-ma para as mãos e perguntou se era tudo. Era tudo, era, que o meu agregado familiar já tem 3 portáteis, um fixo, um tablet, dois leitores de mp3 e dois telemóveis, tudo começado por i. Se houvesse sanitas daquela marca, com certeza que o senhor meu esposo justificaria como comprar uma. Voltando ao cabo, olhei em volta para pagar e o funcionário sorriu e, logo ali, estendeu mais uma maquineta, que é só uma espécie de um mini-iPadezinho para enfiar o cartão de débito. Qual fila para pagar, qual caixa registadora, qual recibo (mandou-mo por e-mail, se isto já se viu?, foi mas é desculpa para ficar com o meu contacto). E trunfas! Deixei 80 dólares por um bocado de cobre coberto de branco e saí dali a achar que tenho mesmo muita pinta. Pelo menos é isso que o Steve Jobs quer que eu acredite.
10 julho 2011
08 julho 2011
do 8 para o 80
Confesso que me anda a angustiar um pouco a ideia de voltar a Portugal e, de repente, estar de novo rodeada de gente - sim, que isto aqui é o mato. É claro que é maravilhoso deitar as saudades para trás das costas. É óptimo estar com alguém só porque sim, para um almoço, um café - não vou "tomar café" com alguém há um ano! -, um nada. É supimpa ter todo o baby-sitting que possa desejar. Mas o reverso da medalha é o fim desta existência de ilha, em que tudo depende da nossa escolha, da nossa vontade, da nossa responsabilidade, e não há ninguém a interferir, a opinar, a aconselhar. É um bocadinho como obrigarem um adulto a voltar ao lar paterno e ter quem lhe proíba uma minissaia e faça cara feia se não chegar a casa antes da meia-noite. Para quem fez Erasmus e voltou, é isso mas ao cubo. Claro que estou a exagerar, mas que vai obrigar à redefinição de papéis sociais, isso vai. E isso é sempre tão delicado...
07 julho 2011
no bom caminho
Depois da noção do tempo, a noção do espaço começa a desenhar-se com contornos mais nítidos na cabeça de four-and-a-quarter (como ele faz questão de dizer) do Gugas. Explico-lhe o mundo, os continentes, os países, os oceanos. Aproveito para a primeira lição sobre os Navegadores Portugueses, que nós não somos e nunca fomos lixo. E agora a brincadeira preferida do meu filho mais velho é desenhar grandes planisférios ao seu gosto - com África, Dinamarca, Portugal, Itália, China, Brasil, América e Disneyworld com as devidas dimensões emocionais - e sobrevoá-los com a crescente colecção de aviõezinhos. Espero que tenhas oportunidade de voar isso tudo e muito mais, filho.
06 julho 2011
eu também quero dizer uma coisa sobre as agências de rating
Os senhores que as fundaram e os que lá trabalham têm mau hálito, pelos púbicos encravados, pústulas genitais, rabo de babuíno, pés tortos, corcunda, falta de gosto no vestir e, sobretudo, uma pilinha muito pequenina. Espero que as vossas mulheres vos adornem o crónico par de chifres com novas hastes a cada dia, e que vos peguem chatos e coisas piores.
gralha
O Diogo aprendeu a dizer "gralha", coisa boa da mãe! E, como vê que me derreto, agora passa o tempo todo: "gálha, gálha, gálha". Bom demais.
05 julho 2011
educação para a igualdade
Chegou o dia em que os meus familiares do sexo masculino me vão cair em cima: acabei de pintar as unhas do meu filho mais velho. Ele escolheu o tom Cherry Glacé, da Nivea. Talvez me salve de uma morte por apedrejamento porque a coisa só durou 2 minutos e a acetona apagou todas as provas do "crime".
Sempre defendi que, na educação dos meus filhos, não ia haver coisas de "menina" e de "menino". Meninas e meninos têm diferenças biológicas e neurológicas, sim, mas eu não vou reforçar estereótipos de base essencialmente social. Não incentivo a experimentação de coisas tipicamente do género oposto; advirto para o facto de muita gente achar que isso não é "normal"; mas não proíbo nem tento dissuadir. Depois de muitas vezes em que disse ao Gugas que, ou cortava as unhas, ou eu lhas pintava, ele escolheu a segunda opção. "Não te importas que os outros meninos digam que o verniz é só para as meninas?", perguntei. "Não. Os meninos também podem usar.", retorquiu. Quando percebeu que tinha de esperar 10 minutos para que secasse: "Quero tirar, quero tirar! Quero ir brincar com os carrinhos."
E eu suspirei intimamente, que isto uma pessoa é muito moderna mas não gosta que os filhos sejam alvo de chacota na piscina.
Sempre defendi que, na educação dos meus filhos, não ia haver coisas de "menina" e de "menino". Meninas e meninos têm diferenças biológicas e neurológicas, sim, mas eu não vou reforçar estereótipos de base essencialmente social. Não incentivo a experimentação de coisas tipicamente do género oposto; advirto para o facto de muita gente achar que isso não é "normal"; mas não proíbo nem tento dissuadir. Depois de muitas vezes em que disse ao Gugas que, ou cortava as unhas, ou eu lhas pintava, ele escolheu a segunda opção. "Não te importas que os outros meninos digam que o verniz é só para as meninas?", perguntei. "Não. Os meninos também podem usar.", retorquiu. Quando percebeu que tinha de esperar 10 minutos para que secasse: "Quero tirar, quero tirar! Quero ir brincar com os carrinhos."
E eu suspirei intimamente, que isto uma pessoa é muito moderna mas não gosta que os filhos sejam alvo de chacota na piscina.
04 julho 2011
auto-conhecimento de fêmea
Consigo adivinhar em que fase do ciclo estou pelo meu nível de paciência em relação às dissonâncias domésticas. Durante a ovulação, uma tampa de sanita (que acabei de limpar) com salpicos amarelados dá-me vontade de chorar. Mesmo antes do Dia P, uma bola de roupa (que lavei e dobrei amorosamente) atirada para o armário dá-me vontade de lhe despejar o cesto de roupa suja na cabeça. No resto do tempo, costuma ser suficiente entoar o mantra "nãosejasumamulherchata, nãosejasumamulherchata, nãosejasumamulherchata" para conseguir lidar com estes pequenos nadas e pedir, com o sorriso possível, que as coisas sejam feitas de outra forma.
03 julho 2011
ainda vais a tempo
Pessoas que gostam de mim continuam a alertar-me para o poço dos infernos que é voltar a Portugal, neste momento. São queridas e bem intencionadas. Mas deixem-me tentar explicar, sem ser com o argumento fatalista da pátria e da alma e do Tejo: isto tudo, meus amigos, é só um mundo. É todo ele mais ou menos o mesmo. O céu é o mesmo. As pessoas são basicamente as mesmas. Os sorrisos são os mesmos. A escuridão é a mesma. As regras de trânsito, a comida, a música, os cheiros não são os mesmos. Mas o fundamental não difere assim tanto. Há dias fáceis e há dias difíceis em todo o lado. E chega uma altura em que temos de decidir se queremos estar onde somos realmente felizes ou se queremos continuar a forçar a felicidade só para dizermos que if I can make it there, I'll make it everywhere. Recuso-me a desempenhar um papel quando não fui eu a escrever o guião, ainda que a história pareça ter mais consistência. A minha vida pode ser americana, pode ser outra coisa qualquer. Mas a vida que eu quero construir para mim - e para os meus filhos, já agora - é portuguesa. Com muitos temperos e amigos do resto do mundo, se possível.
02 julho 2011
fátinha
Ainda no top 10 das desvantagens do regresso: a miséria da nossa justiça. Tenho muita, muita vergonha. É medieval. (e quem diz a fátinha diz os outros todos, não é uma questão partidária)
Subscrever:
Mensagens (Atom)