Depois de tudo na semana passada ou, melhor, durante tudo na semana passada, tive tempo para pensar que isto do sofrer também é uma coisa que nos distingue muito, pessoa a pessoa. Quando o nosso clube de futebol perde, há os que batem na mulher e há os que querem lá saber. Quando uma coisa daquelas mesmo más, mesmo omnipresentes, mesmo incontornáveis nos arrastam para o fundo do poço, também agimos todos de maneira muito diferente.
Eu percebi que tenho tendência para a dor exibicionista (que surpresa...). No dia em que me acontecer uma grande desgraça, não vou ser daquelas que se fecham num casulo; também não vou fazer de conta que nada se passa. Não, eu vou chatear toda a gente à minha volta, vou chorar toda a água e cloreto de sódio que tiver em mim, vou deitar cá para fora todas as palavras do dicionário e mais uns quantos neologismos, vou purgar aquela dor toda até perceber que, mesmo assim, ela não passa. Que não há grande dor que passe por método nenhum. O tempo lá a há-de transformar, mas não eliminar.
E o que é que ganhei com esta aprendizagem? Nada. Auto-conhecimento, vá. Mas o auto-conhecimento é uma característca claramente sobrevalorizada. Um subproduto da literatura de auto-ajuda. Ao contrário do sarcasmo, que também não serve para nada mas sempre nasce connosco.
Ah pois é, posts optimistas e com passarinhos só lá para Março. Fevereiro, se continuar sem chover e a EDP decidir que se enganou num zero da nossa última factura.
30 janeiro 2012
28 janeiro 2012
já passou
Em primeiro lugar, muito obrigada a todos pelas vossas palavras de preocupação e de apoio durante esta nossa semana tão difícil. Felizmente, parece que o pior já passou.
O Diogo teve uma infecção urinária, que até foi detectada relativamente cedo - até porque coincidiu com o que parecia ser, inicialmente, só uma virose. O pior foi que reagiu mal ao primeiro antibiótico e esteve quatro dias inteiros sem comer e quase sem aguentar líquidos. Por duas vezes esteve próximo de ser internado mas, com muita paciência e dedicação, com a tolerância possível ao sofrimento dele, e com o apoio dos avós, lá fomos conseguindo, mililitro a mililitro, que ele não desidratasse. Perdeu muito peso e ficou absolutamente de rastos, mas agora já voltou a comer e está bem disposto.
Eu tive muito medo. O tempo passava, eu via-o a não melhorar e só pensava em coisas piores. Consegui apenas vislumbrar como uma doença grave de um filho é uma chaga permanentemente acesa na alma de um pai. E agora tiro uma alegria absolutamente brutal de cada pequeno gesto que nos revela que estamos de volta ao quotidiano. Cada sorriso naquela carinha que é só dentes e olhos pestanudos enche-me o coração de uma maneira indescritível. Espero que tempos mais pacíficos se avizinhem.
O Diogo teve uma infecção urinária, que até foi detectada relativamente cedo - até porque coincidiu com o que parecia ser, inicialmente, só uma virose. O pior foi que reagiu mal ao primeiro antibiótico e esteve quatro dias inteiros sem comer e quase sem aguentar líquidos. Por duas vezes esteve próximo de ser internado mas, com muita paciência e dedicação, com a tolerância possível ao sofrimento dele, e com o apoio dos avós, lá fomos conseguindo, mililitro a mililitro, que ele não desidratasse. Perdeu muito peso e ficou absolutamente de rastos, mas agora já voltou a comer e está bem disposto.
Eu tive muito medo. O tempo passava, eu via-o a não melhorar e só pensava em coisas piores. Consegui apenas vislumbrar como uma doença grave de um filho é uma chaga permanentemente acesa na alma de um pai. E agora tiro uma alegria absolutamente brutal de cada pequeno gesto que nos revela que estamos de volta ao quotidiano. Cada sorriso naquela carinha que é só dentes e olhos pestanudos enche-me o coração de uma maneira indescritível. Espero que tempos mais pacíficos se avizinhem.
26 janeiro 2012
psicologicamente de rastos
Fazia agora 3 maratonas para ter o Diogo bom de novo. Ele sofre e nós sofremos. Ele, prostrado. Nós, impotentes. Pessoas que ainda não têm filhos: não tenham filhos. Não saber, não poder ajudar, não ver a saída, não conseguir curar, duvidar, esperar, desesperar, não conseguir dar resposta aos olhos que nos miram e esperam que os façamos sentir melhor. É demais.
20 janeiro 2012
amanhã é que é
Ele não acredita em Deus. Ele não acredita (realmente) no Benfica. Ele desconfia da homeopatia, da meditação e das ciências sociais em geral. Mas ele acredita em si próprio, com uma fé inabalável. Todas as noites, antes de se deitar, o meu homem prepara a roupa do dia seguinte e pendura-a na casa-de-banho para não me acordar. Acredita que no próximo dia é que vai mesmo acordar antes de mim e, para não perturbar o meu descanso, vestir-se-á onde não o ouço. Tão querido.
Eu acredito em tudo e mais alguma coisa mas desconfio muito das minhas boas intenções.
Eu acredito em tudo e mais alguma coisa mas desconfio muito das minhas boas intenções.
18 janeiro 2012
tanto tempo depois
Deixar uma vida para trás é fácil quando imaginamos o que fica cristalizado, intocado. As coisas e as pessoas daquele tempo e daquele lugar continuam a mover-se dentro das suas rotinas e isso é fácil de gerir, o previsível não faz tanta falta. É só quando algo se desequilibra, quando há dor e angústia lá muito longe, onde não podemos chegar, que percebemos a distância e a dimensão da ausência. Quando há pessoas do nosso antigo dia-a-dia que não estão bem, e nós não estamos lá. Então, o nosso coração atravessa oceanos e faz-se próximo. Conseguimos cheirar o ar daquele lado, sentir o frio seco na pele, redimensionar-nos pequenos, num mundo demasiado grande. Hoje, pela primeira vez desde o regresso, quis estar em Princeton para dar um grande abraço a quem está a precisar.
pelas magras
As minhas amigas de todos os tipos de corpo e IMC que me perdoem, mas isto não passa de hoje: estou um bocadinho cansada de ouvir e ler dizer mal da magreza. Ninguém pode andar por aí a dizer mal da gordura, que é logo trucidado, mas as pessoas magras acabam todas enfiadas no mesmo saco de doença e irrealismo, sem apelo nem agravo, e está tudo muito bem.
Hoje comi uma gigante fatia de bolo de banana e canela com doce de ovos ao pequeno-almoço e não tenho de pedir desculpa a ninguém por isso. Clinicamente, tenho um peso um pouco abaixo do normal para a minha altura. Não faço dietas. Não sou obcecada com a imagem. Sou assim e tenho direito a isso, como qualquer outra pessoa. Por isso, se não gostam de ver actrizes magras, paciência. Eu também não gosto de ver pessoas morenas com o cabelo pintado de loiro platinado, mas não ando para aí a dizer que alguém "devia dizer-lhes" que aquilo lhes fica mal, nem que os homens que gostam daquilo devem estar todos desorientados. AR I ESS PI I CI TI.
Hoje comi uma gigante fatia de bolo de banana e canela com doce de ovos ao pequeno-almoço e não tenho de pedir desculpa a ninguém por isso. Clinicamente, tenho um peso um pouco abaixo do normal para a minha altura. Não faço dietas. Não sou obcecada com a imagem. Sou assim e tenho direito a isso, como qualquer outra pessoa. Por isso, se não gostam de ver actrizes magras, paciência. Eu também não gosto de ver pessoas morenas com o cabelo pintado de loiro platinado, mas não ando para aí a dizer que alguém "devia dizer-lhes" que aquilo lhes fica mal, nem que os homens que gostam daquilo devem estar todos desorientados. AR I ESS PI I CI TI.
16 janeiro 2012
no bom caminho
Chegam do supermercado com a cesta cheia. Preparam o jantar, limpam a cozinha (vassoura, esfregona, tudo em ordem), comem. A sopa está quente, está sempre demasiado quente. No fim, arrumam a louça e pegam na cota de malha, no escudo, capacete, machado, espadas. São cavaleiro e escudeiro, e esta é a hora de praticar as artes da guerra. Os meus filhos e os derradeiros (e preferidos) presentes de Natal.
14 janeiro 2012
sopeiro-log, versão gralha
Aproveitando a irritação do momento, com a suposta promoção Continente-EDP, não resisto partilhar como passámos a poupar 15€ semanais com o supermercado. Pelo simples facto de ter deixado de consumir Belmiro e ter passado a Jerónimo + frutaria, o nosso orçamento semanal para comida passou de 60€ para 45€, incluindo tudo menos os almoços semanais dos meninos, que são na escola. Obrigadinha, EDP, podem lá ficar com o desconto. Só gostava de ter onde colocar paineis solares para me ver livre da vossa raça.
13 janeiro 2012
a visibilidade da dor
Estava agora a ler a notícia do casal italiano que se suicidou por causa da crise e pareceu-me mesmo sintomática deste momento na nossa história colectiva. (Não ponho a hiperligação porque a qualidade jornalística da notícia está má demais, como a encontrei, e ainda não a vi noutras fontes de informação)
Deus abençoe os italianos e a sua expressividade. Como é bom que haja quem esperneie sonoramente, quem não esteja satisfeito e não se satisfaça com likes em movimentos sociais online, ou com manifestações que são pouco mais que o ajuntamento diurno dos mesmos que estão no Largo do Camões à uma da manhã.
Este casal insatisfeito apelou às mais altas instâncias. E não foi ouvido. E, tristemente, tomou a drástica decisão, para a vida e para a morte, de dizer que assim não dava. É que este sistema não dá mesmo. Não sou de esquerda, não acho que a distribuição dos bens deva ser igualitária mas meritocrática (não falo de oportunidades, atenção!). Mas não faz mesmo sentido que um conjunto de empresas do sector financeiro continue a engordar quando há cada vez mais pessoas a pagar essa engorda à custa de dificuldades que já entram na definição socioeconómica de efectiva pobreza. Não é que um casal de meia idade e o seu acto neo-shakespeariano vão mudar o mundo. Pode ser que aumentem só um bocadinho a visibilidade da dor colectiva, que é demasiado silenciosa, demasiado envergonhada.
Deus abençoe os italianos e a sua expressividade. Como é bom que haja quem esperneie sonoramente, quem não esteja satisfeito e não se satisfaça com likes em movimentos sociais online, ou com manifestações que são pouco mais que o ajuntamento diurno dos mesmos que estão no Largo do Camões à uma da manhã.
Este casal insatisfeito apelou às mais altas instâncias. E não foi ouvido. E, tristemente, tomou a drástica decisão, para a vida e para a morte, de dizer que assim não dava. É que este sistema não dá mesmo. Não sou de esquerda, não acho que a distribuição dos bens deva ser igualitária mas meritocrática (não falo de oportunidades, atenção!). Mas não faz mesmo sentido que um conjunto de empresas do sector financeiro continue a engordar quando há cada vez mais pessoas a pagar essa engorda à custa de dificuldades que já entram na definição socioeconómica de efectiva pobreza. Não é que um casal de meia idade e o seu acto neo-shakespeariano vão mudar o mundo. Pode ser que aumentem só um bocadinho a visibilidade da dor colectiva, que é demasiado silenciosa, demasiado envergonhada.
10 janeiro 2012
voltar a estar bem
Culpo a crise, culpo o discurso sobre a crise, os media em geral, o mês, as incertezas, a falta de exercício físico, o excesso de carne vermelha, o incompetente que só nos montou meia janela, o fim da segunda visualização de todas as temporadas do Lost; mas o problema está lá, no atirar culpas para tudo. No estar permanentemente zangada, irritada, afrontada. Gostava que me passassem uma receita médica para esta condição, que a receita espiritual que geralmente funciona parece estar suspensa por tempo indeterminado. Em não sendo possível, se me arranjarem uma boa receita de bolo de chocolate branco (era isso, não era, Melissa?), acredito que também possa ajudar.
09 janeiro 2012
penedos, castelos e o Tejo
Fim-de-semana bom, bom, de passeio pela Beira Baixa e Alto Alentejo e muito tempo só para andar, parar, conversar, comer, descansar a dois. Vimos e revimos terras lindas desde Monsanto até Marvão (onde conheci finalmente a Catarina e a sua linda Mercearia), enchemos o coração de orgulho da nossa terra e tivemos só um bocadinho de pena que haja já tão pouca gente em muitos destes sítios. O melhor de tudo foi mesmo rever o lugar onde a nossa história, enquanto casal, começou - uma terra linda onde fazíamos os estágios de remo na adolescência. É maravilhoso voltar onde fomos tão felizes, onde nos ríamos até doer a barriga, e onde tudo era tão simples.
06 janeiro 2012
da vida nova
Anda tudo um bocado de pernas para o ar. Gosto de rotinas e não gosto de passar a vida a ter de alterar rotinas. Mas também gosto muito do meu trabalho novo e, por isso, vale a pena todo o stress e confusão do malabarismo com casa, filhos, e trabalho a tempo inteiro sem flexibilidades. Faz-me muita falta ler e correr, não sei ainda como reencaixar isso nas vinte e quatro sobre sete. Detesto Janeiro, detesto estar com este humor de cão. Mas o céu está azul, os meninos não estão doentes (toc toc toc!) e hoje vamos fim-de-semanar para a aldeia mais portuguesa de Portugal (obrigada amigos que o proporcionaram). Já agora, alguém se oferece para desfazer a minha árvore de Natal?
04 janeiro 2012
luxos domésticos
Filho grande
Filho pequeno
Pai
Mãe
Mais o frango do campo e a fruta e legumes nacionais da frutaria da esquina para toda a família. O resto é mesmo marca branca. Quando ouço quem diz que tem de poupar e vai, por isso, cortar nos jantares fora, no cinema, nos concertos, nas 'escapadinhas', nas idas à Zara, no cabeleireiro, torna-se claro que o conceito de poupança é muito relativo. Absurdo, às vezes.
03 janeiro 2012
purificação
Estava a precisar de comprar uma daquelas embalagens de seiva de ácer, ou lá o que é, e passar uma semana a enxaguar-me por dentro com aquilo. Lavar as entranhas, limpar sedimentos, levar memórias e avivar outras que se perderam.
(terceira semana num mês com filhos doentes - não dá para mais que isto)
(terceira semana num mês com filhos doentes - não dá para mais que isto)
01 janeiro 2012
vivendo de acordo com o IVA
Nova resolução para 2012: não beber mais nada taxado a 23%. Que ressaca mais cadelenta...
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