27 junho 2012
ser humano
Um dia, olharam-me nos olhos e disseram: não tenha medo. E eu saí do confessionário e chorei durante algum tempo. Depois não tive mais medo. Porque é bem verdade que, muitas vezes, o que mais nos pesa não é o que pode ser, o que pode acontecer, mas a sombra que tudo isso lança sobre as nossas possibilidades. É muito difícil não ter medo (mas acredito que a música certa ajuda). Perder o medo não é negar nem tornar-nos inconscientes. Eu só sei perder o medo sossegando-o no seio de alguma coisa maior, cujo sentido não consigo definir completamente, O medo é escuro e perde-se no meio da luz encandeante do amor sem limites; O medo é frio e alimenta-se da solidão, dissolve-se no meio do calor de um abraço. Nem que seja só um bocadinho. Que o meu abraço chegue a quem precisa de um, por estes dias.
já dizia a simone de beauvoir
A emancipação da mulher nunca será uma realidade enquanto não conseguirmos fazer chichi de pé sem sujar as pernas, as cuecas, a sanita e o chão, obrigando-nos ao ritual levemente aviltante de tentar salvar a coisa com o papel higiénico de folha simples das casas de banho públicas.
26 junho 2012
a simplificação heurística do ego-ave
O valor de um blogger para a gralha define-se em termos binários: se gosta de si a valer, tem paciência para mudar de utilizador no gmail para comentar no seu blogue; se não gosta de si a valer, não tem paciência para mudar de utilizador no gmail para comentar no seu blogue.
25 junho 2012
fiz as pazes com o aeroporto
Esteve-se muito bem em Londres. Mais do que transpor quilómetros, dobrámos a barreira do tempo, provando que este se estica até quase ao infinito quando não andamos com filhos atrelados. A sério, filhos, sem ofensa, mas vocês têm o dom de fazer tudo demorar o dobro e, ao mesmo tempo, parecer durar metade. Foi muito bom namorar, passear por todo o lado, andar sem relógios, comer o que apetecia, apanhar chuva só para rir do creacionista e da nacionalista que baliam no speakers' corner, perder todo o tempo do mundo a olhar para livros em segunda mão e a saltitar de bancada em bancada em Portobello Road. E digam lá se esta medalha não estava mesmo à minha espera :)
22 junho 2012
não dando ponto sem nó, em duas frases apenas
Alguém conhece sítios giros para comer na zona de Covent Garden? Prometo fotos com a devida referência a quem der as melhores dicas.
Sugerindo um ar simultaneamente blasé, cosmopolita e que convoca a participação do visitante, aumento as visitas ao site e, logo, a possibilidade de conseguir pulseiras à pala.
Sugerindo um ar simultaneamente blasé, cosmopolita e que convoca a participação do visitante, aumento as visitas ao site e, logo, a possibilidade de conseguir pulseiras à pala.
21 junho 2012
flausina SS2012
Eis que chega o Verão e, contrariando o estado de tempo, adopto cegamente o figurino da época. Todos os anos gosto de estrear uma
nova pulseira. Como já levo alguns Verões em cima, a tentação de andar
empluseirada até ao cotovelo é grande. A juntar a estas, está-me a
apetecer uma amarela fluorescente. Se alguém quiser oferecer-me uma, das dezenas que são constantemente doadas às bloggers profissionais, fique
sabendo que o gralhadixit já teve quase 100 vizualizações hoje (pronto, foram só 74) - mesmo
antes deste original e intelectualmente estimulante post. Ah, também
ando a precisar de repor o stock de verniz das unhas (um qualquer, todos
me lascam ao fim de um dia de uso). Estraguem-me com mimos à vontade,
que eu agradeço.
20 junho 2012
para mim, aos nove anos
Querida eu, pequenina e franzina, que brincas no recreio e mentes, dizendo a essas duas colegas que também nunca repetes a mesma roupa dois dias seguidos,
Em primeiro lugar, não percas tempo com elas. Serão sempre parvas e, daqui a uns anos, criarão blogues patetas com fotos sem cabeça (e demorarás algum tempo até deixares de os visitar uma vez por outra).
Em segundo lugar, sim, vais usar lentes de contacto. E as tuas maminhas vão crescer, mas pouco. Em compensação, terás sempre uma barriga elegante e pernas fortes para correr.
Em terceiro lugar - e vamos agora ao que interessa -, sim, vais casar-te e ter filhos, não te preocupes. E, sim, ele vai chamar-se L., mas não vai ser o teu namorado de agora, burrinho e de buço, cobiçado por todas porque é mais velho (daí os atributos atrás mencionados). E terás dois rapazes, como desejas. Um será o menino mais doce do mundo. Tem cuidado para não o ferires com a tua brusquidão - aprende a desenvolver a empatia. O outro será o ser mais imprevisível e indomável que conhecerás. Aprende a aceitar perder o controlo e a amar o desconhecido.
A tua sempre,
Eu adulta
p.s. Podes ir já começando com a Jane Austen e as irmãs Brontë.
Em primeiro lugar, não percas tempo com elas. Serão sempre parvas e, daqui a uns anos, criarão blogues patetas com fotos sem cabeça (e demorarás algum tempo até deixares de os visitar uma vez por outra).
Em segundo lugar, sim, vais usar lentes de contacto. E as tuas maminhas vão crescer, mas pouco. Em compensação, terás sempre uma barriga elegante e pernas fortes para correr.
Em terceiro lugar - e vamos agora ao que interessa -, sim, vais casar-te e ter filhos, não te preocupes. E, sim, ele vai chamar-se L., mas não vai ser o teu namorado de agora, burrinho e de buço, cobiçado por todas porque é mais velho (daí os atributos atrás mencionados). E terás dois rapazes, como desejas. Um será o menino mais doce do mundo. Tem cuidado para não o ferires com a tua brusquidão - aprende a desenvolver a empatia. O outro será o ser mais imprevisível e indomável que conhecerás. Aprende a aceitar perder o controlo e a amar o desconhecido.
A tua sempre,
Eu adulta
p.s. Podes ir já começando com a Jane Austen e as irmãs Brontë.
19 junho 2012
dando uma de melissa
Olha que coisa tão óbvia e só agora é que a percebi: leio, viajo, danço, corro, bebo, mergulho, em suma, faço o que me dá mais prazer pelo mesmo único objectivo - perder-me. Também deve ser por isso que passo tanto tempo a pensar no passado ou a tentar adivinhar o que ainda não aconteceu. Tenho absoluta incapacidade de presente. Tudo me sabe melhor em retrospectiva ou antecipação. Todas as coisas ganham cor e novas dimensões vistas de fora, de pernas para o ar, nos antípodas da realidade previsível. A sério que alguém consegue mesmo contrariar isto? E para quê, na verdade?
18 junho 2012
de volta das férias
A praia, a piscina, o sol, os barcos, as alcagóitas, os mimos, até a água do mar gélida: tudo estava uma maravilha. E agora só não custa tanto voltar ao trabalho porque o espírito de férias se mantém nos filhos - tão crescidos que estão! - que reajustam rotinas à época do ano e correm, bem dispostos e tostadinhos, por todo o lado. Um largou a chucha de vez. E o outro vai para a praia com a escola. Uma pessoa pisca os olhos e a vida acontece assim de uma vez só. Principalmente no Verão.
12 junho 2012
o contrário do vinho do porto
Não sei se há mesmo pessoas que vão melhorando com a idade ou se é tudo uma treta para nos consolar, mas eu vou piorando a olhos vistos. No caso da minha faceta de mãe, então, a coisa é inegável. A sério que há quem tenha mais paciência com o passar dos anos? É mesmo possível ser uma mãe mais sensata e equilibrada com o segundo, o terceiro, e por aí fora? Então por que é que eu me vou tornando mais cansada, permissiva e trapalhona? Nos meus vintes, com um bebé fresquinho, havia tempo para a maternidade saída de um anúncio de fraldas. Só faltava o meu sorriso cheirar a pó de talco. Agora, não. Agora é tudo descabelado, improvisado, com nódoas, faz-se o que se pode. Exemplo: De manhã entrego-lhes automaticamente as escovas de dentes trocadas - porque eles fazem uma mini-fita se não têm a oportunidade de dar a escova ao irmão - e já nem reparo na ligeira insanidade deste gesto. Mas não me fico pelos aparvoamentos ritualizados, também sofro terrivelmente por não poder estragá-los e mimá-los à vontade, quando antes isso me parecia uma fraqueza de mãe nova-rica. E o medo de que lhes aconteça alguma coisa? Quem é que me enganou ao assegurar-me que a coisa ia amaciando com a experiência? Vantagens da idade, uma ova.
11 junho 2012
girls
Não é a melhor série televisiva de todos os tempos. Não arrebatou o primeiro lugar do meu coração ao Mad Men (nem o segundo ao Lost). Mas é um produto de entretenimento muito bom, actual, honesto, inteligente, que nos faz pensar. Acima de tudo, foi preciso uma autora/realizadora/actriz como a
Lena Dunham para que a ficção americana desse pela primeira vez protagonismo a uma mulher com maminhas pequeninas e pernas rechonchudas. Obrigada, Lena.
Lena Dunham para que a ficção americana desse pela primeira vez protagonismo a uma mulher com maminhas pequeninas e pernas rechonchudas. Obrigada, Lena.
08 junho 2012
como é que nunca tinha reparado?
Ontem I had the time of my life quando conheci as fabulosas babies Ana C., Melissa e Silvina num jantar na baía de Cascais, com um pôr-do-sol, uma naturalidade e presenças tão boas, daquelas que nos fazem achar que a vida vale mais a pena por conhecermos momentos assim.
E não é que fui ver e até sou um bocadinho parecida com ela? E como eu gostava que o Patrick Swayze me tivesse levantado assim no ar...
E não é que fui ver e até sou um bocadinho parecida com ela? E como eu gostava que o Patrick Swayze me tivesse levantado assim no ar...
06 junho 2012
espartana
Ele é a crise, os princípios cristãos, a educação que nos deu a mãezinha, a tão portuguesa inclinação para a humildade, os programas sobre acumulação compulsiva, as campanhas sobre a obesidade - tanta coisa a puxar-nos para o 'menos é mais', um contraste refrescante com o que vivi na bela e consumista Nova Jérsia. Sabem que mais? Dou por mim e a única coisa material que ainda me move são os livros e as viagens. Temo estar a tornar-me uma chata do pior. Acaba por haver um snobismo mal-disfarçado debaixo de tanto despojamento.
01 junho 2012
para além dos jacarandás em flor
Ah, a Primavera... Aquela altura do ano em que regressa em força o flagelo da publicidade entalada nos limpa-pára-brisas.
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