30 novembro 2012
a narração em suspenso
Estando numa fase da vida em que, para o bom e para o mau, escasseiam os argumentos para usar o estilo narrativo (como tão bem insiste a Melissa), não escrevo. Há um número limitado de vezes em que podemos falar do sorriso radioso dos nossos filhos, das tosses, das incertezas do trabalho, das descobertas culinárias, das dores no lombro, dos livros lidos e daqueles que esperam na estante. Cheguei ao limite. Enquanto não acontecer alguma coisa de extraordinário - e desejo preguiçosamente que não aconteça, desculpem lá mas é o meu modo de lidar com os dias cinzentos - este blogue não tem uso. Até qualquer dia :)
23 novembro 2012
às vezes apetece-me fazer festinhas a mim própria, por me esforçar
Momento mais ridículo do (meu) dia: aquele em que sorrio ao espelho para botar o blush no sítio certo das bochechas. Mas faço questão de simular uma tez jovem e saudável, de quem vive em eterna Primavera e não deixa que as semanas cada vez mais avassaladoras dêem cabo da frescura natural dos trinta e três anos.
16 novembro 2012
comunidade
Sexta-feira não é o meu dia preferido da semana, mas é o dia do ‘deixem-me acreditar’. Deixem-me acreditar que vou ter dois dias inteiros para descansar, para mimar, para tratar de tudo o que há para fazer. Deixem-me acreditar que tudo o que está mal, todas as preocupações e anseios podem entrar em suspenso.
Imbuída do espírito de sexta-feira, olho à minha volta e tento não pensar nas estúpidas e ilusórias divisões recentes, entre caritativos e revolucionários, entre os que que dão voz própria ao descontentamento e os que atiram pedras de forma metódica, sistemática e cega; não, nesta sexta-feira, penso apenas que andam a tirar-nos tudo e mais alguma coisa mas, ainda assim, há um fundo de humanidade que nos faz contornar a reacção mais primária, que seria a da negação e do egocentrismo. Vivemos todos juntos isto do não sabermos como será o dia de amanhã, as notícias de desemprego, de fome, de desistência. E pensamos em maneiras de ajudar. E levamos umas tangerinas da horta para o trabalho. Partilhamos um almoço. Abrimos uma teimosa garrafa de vinho. Pomos a música a tocar. A generosidade e a esperança fazem-se clandestinas mas não baixam os braços. Deixem-me acreditar.
Imbuída do espírito de sexta-feira, olho à minha volta e tento não pensar nas estúpidas e ilusórias divisões recentes, entre caritativos e revolucionários, entre os que que dão voz própria ao descontentamento e os que atiram pedras de forma metódica, sistemática e cega; não, nesta sexta-feira, penso apenas que andam a tirar-nos tudo e mais alguma coisa mas, ainda assim, há um fundo de humanidade que nos faz contornar a reacção mais primária, que seria a da negação e do egocentrismo. Vivemos todos juntos isto do não sabermos como será o dia de amanhã, as notícias de desemprego, de fome, de desistência. E pensamos em maneiras de ajudar. E levamos umas tangerinas da horta para o trabalho. Partilhamos um almoço. Abrimos uma teimosa garrafa de vinho. Pomos a música a tocar. A generosidade e a esperança fazem-se clandestinas mas não baixam os braços. Deixem-me acreditar.
13 novembro 2012
porque diz que hoje é o Dia Mundial da Bondade
Aqui vai o meu sentido muito obrigada à querida médica que acaba de me ralhar com um "ai, ai, os estudantes e as noitadas...", pensando que era a isso que se devia a minha anemia e tensão arterial pela hora da morte. É sempre quando pensamos que vamos dar (sangue, neste caso) que mais recebemos (elogios improváveis de uma senhora a precisar de mudar a graduação dos óculos).
Agora ide todos vós por aí fora e, se não puderdes ajudar de outra forma, tende ao menos um gesto ou uma palavra de bondade para com alguém.
Agora ide todos vós por aí fora e, se não puderdes ajudar de outra forma, tende ao menos um gesto ou uma palavra de bondade para com alguém.
09 novembro 2012
como é que eu não me lembrei disto antes?
Ahhhh, o Pinterest (de novo, eu sei)... Ou: como fazer-nos acreditar que juntar uma cangalheira de inutilidades, atirar-lhe com corante aimentar e fotografá-la com um filtro fofinho, é receita garantida para decorações estrondosas, presentes low-cost e refeições que farão os nossos convidados abraçar-nos com lágrimas de incredulidade perante talentos há tanto tempo ocultos. Sim, mais, por favor. Era a dose de negação da realidade que ainda nos faltava.
07 novembro 2012
olha, é mesmo isto
A Anette acaba de me dar um abanão que já fazia falta. Dia após dia vemos os filhos a crescer e, ainda que tentemos deter-nos nos pequenos detalhes maravilhosos de cada etapa, a maior parte do tempo é passada ansiando pelo filho que será, pela conquista que ainda não veio, pela resistência que ainda lhe falta e a maturidade que tarda. Caramba, não. Cada dia é mesmo precioso. Que se lixe se nos atrasamos sempre a sair de casa porque agora quer mesmo despir-se sozinho, porque quer trazer aquele livro (não, afinal é o outro). Que se danem as horas de deitar, o enésimo abraço e aconchego na cama, as coisas programadas, o chão coberto de migalhas, as calças rotas nos joelhos, a corrida para o carro debaixo de chuva batida a vento. Eles nunca mais serão bebés. Eles nunca mais olharão para nós com uma avalanche de amor e confiança cega como a que têm agora. Obrigada, filhos. Obrigada, hoje.
02 novembro 2012
este país é para velhos, ou pessoas rabujentas de meia-idade, vá
Passou-se o Halloween, passou-se o Dia de Todos os Santos, e quantas crianças acham que nos bateram à porta com ameaças de nos abominar, ou com saquinhos de pão-por-Deus? Zero.
O país não é o meu bairro, bem sei, mas o meu bairro é aquele onde quase não há crianças. Há velhos. E imigrantes escondidos nas caves húmidas. E canários pardacentos em gaiolas junto ao chão, nas traseiras dos prédios a cheirar chichi de gato. Apartamentos vazios de tectos altos e paredes nuas. Às vezes, sinto que a minha família é uma ilha. Quando acendemos as luzes de Natal, somos o topo do Empire State Building no meio da Manhattan às escuras, à passagem da Sandy. Não ligamos a televisão para não descobrirmos que em tantos lados ainda é pior do que fora do bairro. Mas esta vida de ilha não anima ninguém. Ainda se estivessemos em latitudes tropicais...
O país não é o meu bairro, bem sei, mas o meu bairro é aquele onde quase não há crianças. Há velhos. E imigrantes escondidos nas caves húmidas. E canários pardacentos em gaiolas junto ao chão, nas traseiras dos prédios a cheirar chichi de gato. Apartamentos vazios de tectos altos e paredes nuas. Às vezes, sinto que a minha família é uma ilha. Quando acendemos as luzes de Natal, somos o topo do Empire State Building no meio da Manhattan às escuras, à passagem da Sandy. Não ligamos a televisão para não descobrirmos que em tantos lados ainda é pior do que fora do bairro. Mas esta vida de ilha não anima ninguém. Ainda se estivessemos em latitudes tropicais...
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