Em dois dias foi-se a duas festas de aniversário, uma piscina, uma praia, uma beira-rio, um supermercado, dois pinhais, um bairro antigo, e várias casas de banho de estabelecimentos de restauração. Passou-se a noite de sábado em pouco mais de 3 metros quadrados e, não vou mentir, o haver uma lua gigante, morcegos atrevidos e ondas enormes lá fora ajudou muito a esquecer a dureza do chão e o vomitanço de filho para mãe lá para as quatro da matina. Mas o que me encheu mesmo o coração, percebendo que as coisas estão onde deviam estar, que temos uma sorte do caracinhas com a vida, a família, o amor que temos, foi acordar às 7h30 - ser a última a acordar! - e ter três caras sorridentes a olhar para mim porque, sim, finalmente tínhamos ido acampar pela primeira vez.
Dormir na minha suave caminha foi uma experiência maravilhosa, depois disso. Sim, que o co-sleeping é uma ideia muito ternurenta mas eu tenho dificuldade em repousar com pequenos seres a nadar crawl em cima de mim toda a santa noite.
25 junho 2013
21 junho 2013
comunhão de adquiridos
Um deseja. O outro acompanha. Um propõe. O outro contesta. Define-se devagar um caminho em comum e dão-se os primeiros passos. Moldam-se expectativas. Os obstáculos surgem e as mãos dadas, até então, esticam-se para dar conta dos ritmos diferentes. As vontades são elásticas e as prioridades são diferentes. Conversa-se. Cala-se e pensa-se. Muda-se de ideias. Teme-se desiludir. Teme-se. E avança-se, sempre com a consciência de que há uma grande dose de imprevisibilidade. Há que engoli-la às colheres, tapando o nariz. Enfrentá-la com a única segurança: que não há nada mais poderoso e resistente do que as mãos que continuam dadas ao longo do caminho. Curioso, isto dos casamentos.
19 junho 2013
dando uso ao bom senso
Às vezes tenho a sensação que este mundo de hiperinformação em que vivemos presume que o pessoal está todo a ficar imbecil. Se calhar, está, não sei. Eu também gosto muito de googlar cada dúvida que me assalta, de tentar descobrir o que está por trás de um sintoma físico, de antever as implicações do consumo de determinados alimentos, de estimar as probabilidades de ainda virmos a ter Verão este ano, e por aí fora. Mas espero nunca me esquecer de ligar o cérebro quando se trata de tomar decisões.
Qual é o espanto de a indústria alimentar cada vez mais baseada em elementos artificiais, e servindo empresas que procuram o lucro, fornecer refeições com recheios improváveis? Quem é que não esperava que comprar t-shirts a dois euros feitas do outro lado do mundo significa que essas pessoas são mal pagas? Onde está a novidade no facto de uma dieta à base de restrições estrambólicas, mas em que o organismo não se habitua a gastar mais do que consome, não ir resultar? Ouvimos tantas teorias, anotamos tantas dicas, pinamos tantas receitas, decoramos tantas verdades vendidas pelos media que nos esquecemos de parar e pensar por nós próprios. Descansa-nos um pouco, esta ligeira desresponsabilização pelas nossas escolhas, sustentadas em longas pesquisas internéticas. Esquecemo-nos que, ao final do dia, é o nosso corpo que vive com as consequências do que comemos, é a nossa família que vive na comunidade que criamos e é a nossa gente que é governada pelos líderes em que votamos. Isto da liberdade e da informação é giro: promete devolver-nos o poder mas temos de ser nós a aceitá-lo e a dar-lhe bom uso.
17 junho 2013
os quarenta e dois
A dificuldade começa no facto de eu não acreditar realmente que seja possível. Que sou baixinha. Que o rabo pesa. Que não aguento o calor. Que mais ninguém acredita que eu consigo. Mais ninguém menos esta boa criatura com quem partilho a cama e as contas - mas ele acredita em mim de olhos fechados (benzódeus).
O que é que pode explicar a irracionalidade de tentarmos convencer o nosso corpo a começar a correr e só parar quarenta e dois quilómetros depois? Não sei. É que é para além de difícil, é longamente violento. Dores. Tédio. Quatro horas de solidão penosa, sem fim. É muito, muito estúpido. E, no entanto, lá me inscrevi eu para correr do Guincho ao Parque das Nações, em Outubro. É profundamente absurdo, mas vou gastar as articulações (que hão de fazer-me falta na velhice, como é óbvio) a treinar para aquele dia. Não há explicação lógica. Mas também não há explicação lógica para muitas das decisões realmente importantes que tomamos na vida, não é?
O que é que pode explicar a irracionalidade de tentarmos convencer o nosso corpo a começar a correr e só parar quarenta e dois quilómetros depois? Não sei. É que é para além de difícil, é longamente violento. Dores. Tédio. Quatro horas de solidão penosa, sem fim. É muito, muito estúpido. E, no entanto, lá me inscrevi eu para correr do Guincho ao Parque das Nações, em Outubro. É profundamente absurdo, mas vou gastar as articulações (que hão de fazer-me falta na velhice, como é óbvio) a treinar para aquele dia. Não há explicação lógica. Mas também não há explicação lógica para muitas das decisões realmente importantes que tomamos na vida, não é?
14 junho 2013
apontamentos santantoninos
Os meus rapazes mergulharam no modo lesboeta: fizeram chichi para as árvores da Avenida da Liberdade (pensei usar o copo vazio da minha Superbock mas tive medo que alguém encontrasse e pensasse que era grátes). Fizeram festas aos manjericos e espalharam algodão doce pela cara toda. Acharam que aquilo não era música, que era barulheira, mas dançaram na mesma. Aliás, bailaram e muito. Comigo e um com o outro. A custo, lá houve umas meninas que os levaram para o palco enquanto Os Peitos da Cabritinha abanavam nas colunas de som. As sardinhas não cabiam no pão e eu não cabia em mim de contente, vendo-os assim ramboieiros como a mãe, disfrutando desta cidade que é tão nossa. Tão de todos. Tão linda. Faltaste tu, Vera, para subirmos até à igreja de Santo António e acendermos uma vela. Venham para o ano – suspeito que os teus rapazes também gostarão da festa.
06 junho 2013
o pai-nosso ao vigário
Ler certas divagações de certas pessoas que eu cá sei acerca do que farão quando tiverem filhos faz-me pensar que deve ser assim que se sente o Gordon Ramsay quando lhe aparece uma maçarica a proclamar que o arroz dela nunca cola ao tacho porque descobriu que pode dar-lhe um cheirinho de azeite e alho antes de atirar para lá a água a ferver. E é pena, porque eu também já fui uma maçarica a fazer essas grandes descobertas. Para além de não ser o Gordon Ramsay. Em podendo escolher, e prolongando a metáfora, esforço-me por chegar ao dia em que acolherei as certezas destas quase-mães com a benevolência de uma Barefoot Contessa, por exemplo. Já que estamos a entrar numa de surrealismo culinário, gostava de aproveitar esta oportunidade para viajar no tempo e espetar com uma tarte de natas na cara da gralha de 2006, que achava que nunca faria uma série de coisas e já teria quatro filhos e uma carreira de sucesso por esta altura.
03 junho 2013
aprender a ser filha (também é todos os dias)
Passeávamos alegremente pelo Chiado, entrando e saindo de lojas, lagartando ao sol com gelados, quando a ouvi responder a uma funcionária que "já era uma sexagenária". Pontuando com uma risadinha. Não achei muita graça àquilo. Como é óbvio, a minha mãe anda na casa dos trinta. A minha mãe é rapidíssima. Tem energia de manhã à noite e os olhos verdes mais verdes do mundo. Não estou bem preparada para que vá ficando mais velha, como eu fico mais velha, e acho que era melhor para ambas que envelhecessemos juntas. Está provado que nos damos melhor à mesa de chá e scones do que em qualquer outro cenário. Sei que é um privilégio supremo ter a minha mãe comigo, à distância de meia dúzia de estações de metropolitano. É a avó que desejei para os meus filhos, até lhe perdoo os ovos Kinder e tudo. Mas a minha mãe não é sexagenária, não senhora. Será sempre a minha mãe na casa dos trinta, a conduzir o jipe que eu conduzo agora e a usar bikini com mais propriedade que a filha (que saiu ao Pai, coitadinha).
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