O meu filho mais velho nunca ligou bóia ao dinheiro. Tem um mealheiro para onde atira os trocos que lhe dão, e que serve para chocalhar e dançar
La Cucaracha, ponto final. Vivi assim três anos na doce inocência, achando que isso do materialismo e da fuçanguice eram aquisições sociais, coisas que os miúdos aprendem dos progenitores com esse tipo de… gosto.
Ora uma pessoa está sempre a ser recordada que os miúdos são mesmo todos diferentes e já vêm com um
chip que lhes programa o feitio, manias e inclinações. Tenho pois de reconhecer que o meu filho mais novo gosta mesmo de coisas. E de dinheiro. Está sempre a dizer que gostava de ter isto ou aquilo. Nós dizemos que não podemos comprar tudo o que pede, passamos a bola ao Pai Natal e sugerimos que ele arranje modos de ganhar o seu próprio estipêndio. Ele passou a receber uma moeda pela dura tarefa de me dar as molas da roupa (que demora muito mais a estender), começou a vender desenhos ao tio, e a cantar por encomenda, qual papagaio amestrado. Até o irmão se compadeceu deste espírito acumulador de pilim e prometeu partilhar com ele o conteúdo do mealheiro.
Tudo muito bonito até ao momento em que, adquirida a muito desejada flauta, esta não chegou a durar um dia antes de sucumbir perante a fervorosa paixão musical e desfazer-se em pequenas peças. Mais uma lição sobre a economia capitalista, meu filho: comprar barato e
made in China não costuma compensar a longo prazo. O problema é que quem teve de ouvir uma miniatura a choramingar “quero mais dinheeeeeirooo” todo o caminho até à escola foi esta alma desprendida, que só tinha vontade de lhe atirar moedas para ver se ele se calava, destruindo toda a esforçada pedagogia do valor do trabalho e do saber dar o devido valor às coisas. Nada que não venha a acontecer de qualquer forma, assim que os avós se apiedarem do pequeno pedinte pestanudo.