2013 foi um ano de crescimento e de auto-conhecimento, que é uma maneira bonita de dizer que houve dureza, deserto e angústias mas lá se chegou ao fim com um braseiro vivo no coração. No meio de tudo, há muito para agradecer. Não esqueço as pessoas que partiram. Não esqueço as que tiveram pequenos gestos cheios de carinho e entrega. Espero ter feito menos mal que bem e tentarei fazer melhor para o ano. De recordação, ficam estes e outros momentos.
Melhor refeição: jantar na Casa Nepalesa, num belo fim de tarde de Verão. Pelo conjunto da obra – a comida absolutamente perfeita, a simpatia do serviço, os meninos portando-se como anjos.
Melhor mergulho no mar: na praia do Barril, uma hora seguida a nadar ao fim da tarde de 15 de Agosto.
Melhor gargalhada: incontrolável, imparável, no casamento de uma amiga (uma vergonha, eu sei).
Melhor livro: The collected stories of Lydia Davis.
Melhor filme: Vi pouquíssima coisa este ano – e menos ainda filmes de qualidade. Se me apontarem uma pistola à cabeça, escolho o Gravidade do Alfonso Cuarón.
Melhor música: Qualquer uma dO Grande Medo do Pequeno Mundo, do Samuel Úria (e agora baixinho: e o Get Lucky dos Daft Punk)
Melhor série: Breaking Bad. Ainda estou em negação por ter acabado.
Melhor momento: cruzar a meta da minha primeira maratona (what else?).
Tenham um 2014 com muito amor, sentido, verdade, entusiasmo, saúde e uma boa almofada onde cair nos dias em que faltar o resto.
31 dezembro 2013
27 dezembro 2013
alguém me faça largar os coscorões e agarrar-me ao trabalho
Se fosse minha superior hierárquica, despedia a minha pessoa neste momento. Esta que vos escreve devia estar a debitar HTML para o bem da humanidade e, pelo contrário, está para aqui a anhar e a arranjar desculpas.
Mas é que os rapazes ainda devem estar de pijama a ver o Super-homem original, a comer tarte de abóbora e a fazer festas ao cão com os pés. Não é justo, não é justo.
Mas é que os rapazes ainda devem estar de pijama a ver o Super-homem original, a comer tarte de abóbora e a fazer festas ao cão com os pés. Não é justo, não é justo.
26 dezembro 2013
o nosso natal
O nosso Natal são três. É a véspera sossegada com os meus sogros. É a manhã luminosa só a quatro mais um (o meu Matias velhote). E é o dia completamente barulhento e cheio de animação com a minha família materna. Damos muitos abraços. Inventamos tradições novas todos os anos. Comemos o melhor peru do mundo (e muitas outras coisas boas). Pregamos partidas aos primos. Reaprendemos papeis, agora que a festa se faz a três gerações. Roubamos os presentes uns aos outros e falamos a mil à hora, provando aos ramos italianos da família que os portugueses conseguem ser ainda mais ruidosos do que eles. O Natal cristaliza estas relações, obriga-nos a parar e olhar uns para os outros. Reparamos em novas rugas, posturas mais curvadas, miúdos que esticaram, olhares um pouco tristonhos e preocupados, mas ficamos sempre muito felizes por estarmos juntos, por sermos cada vez mais, por termos tanta coisa por que nos sentimos agradecidos. Temos um Natal privilegiado em muitos sentidos mas o maior de todos é a graça de uma família tão grande e cheia de gente boa.
20 dezembro 2013
pequenas mas boas
A Melissa tem andado a partilhar o seu diário de gratidão e, embora não esteja com energia para aderir a esse ritual com a mesma regularidade, reconheço os benefícios da prática (às vezes, a única maneira de desenterrarmos um sorriso ao fim de mais um dia deste Dezembro que nunca mais acaba).
Quero, pois, partilhar o prazer que senti ontem com o ar fresco na cara, no meio daquele vendaval louco que passou por Lisboa. E a doçura do meu minúsculo, cativando-me às 8h com uma grande ranhoca a sair do nariz. E a alegria de ter conseguido fugir uns minutos para dançar com o maiúsculo na festa de Natal da escola. Mais o facto de ter ontem nascido uma menina linda da minha homónima. E ainda os chocolates e elogios da minha fantástica chefe. Ena, tanta coisa boa. Obrigada.
Já agora, feliz Natal! Se há sinal de esperança, é Aquele que nasce pequenino em cada ano e nos ajuda a crescer um pouco mais. Com todas as alegrias e tristezas que fazem parte do percurso.
Esforço-me tanto por criar estes títulos que podem dar azo a visitantes inexperados vindos de buscas no google e, até agora, ainda nem um maluquinho me bateu à porta. Humpf.
Quero, pois, partilhar o prazer que senti ontem com o ar fresco na cara, no meio daquele vendaval louco que passou por Lisboa. E a doçura do meu minúsculo, cativando-me às 8h com uma grande ranhoca a sair do nariz. E a alegria de ter conseguido fugir uns minutos para dançar com o maiúsculo na festa de Natal da escola. Mais o facto de ter ontem nascido uma menina linda da minha homónima. E ainda os chocolates e elogios da minha fantástica chefe. Ena, tanta coisa boa. Obrigada.
Já agora, feliz Natal! Se há sinal de esperança, é Aquele que nasce pequenino em cada ano e nos ajuda a crescer um pouco mais. Com todas as alegrias e tristezas que fazem parte do percurso.
Esforço-me tanto por criar estes títulos que podem dar azo a visitantes inexperados vindos de buscas no google e, até agora, ainda nem um maluquinho me bateu à porta. Humpf.
18 dezembro 2013
a sobreprojectização da nossa vida
Só há uma coisa mais cansativa que viver: é (tentar) cumprir projectos de vida. Nunca me hei de esquecer da aula de História em que a nossa fabulosa professora falava dos primeiros filósofos gregos, justificando a disponibilidade que tinham para se sentarem a pensar com a segurança material que aquela civilização tinha conquistado. Lembro-me disso sempre que me ponho a matutar em qualquer coisa em vez de ir mas é fazer o jantar ou pegar num livro. Não dura mais que uns segundos. Confesso-me uma primitiva incognoscente, mesmo que não tenha mais nada para fazer, evito pensar na vida e estruturar grandes planos para o futuro.
É que é só a mim que os grandes projectos parecem uma forma ingénua de enfrentar um amanhã que é bastante incerto? Até posso decidir que vou tirar aquele curso, investir naquela relação, dedicar-me a um desporto, e depois bate tudo ao lado. Se calhar, ainda bem. Tentar fixar um certo futuro é tão palerma como procurar agarrar o passado. E as frustrações e desilusões que daí advêm? Não é que não devamos acreditar que podem vir daí coisas muito boas, que não tentemos esforçar-nos por fazer o melhor possível naquilo em que nos envolvemos, mas se calhar mais valia estarmos um bocado sossegados e lidar com o que vai surgindo. Sem listas, sem esquemas, sem planos de contingência, sem nos transformarmos (e aos nossos filhos, como bem lembra a Calita) em amontoados de projectos e árvores de prioridades. Não sei, é uma ideia. Mas pode ser que seja mais preguiça do que outra coisa.
É que é só a mim que os grandes projectos parecem uma forma ingénua de enfrentar um amanhã que é bastante incerto? Até posso decidir que vou tirar aquele curso, investir naquela relação, dedicar-me a um desporto, e depois bate tudo ao lado. Se calhar, ainda bem. Tentar fixar um certo futuro é tão palerma como procurar agarrar o passado. E as frustrações e desilusões que daí advêm? Não é que não devamos acreditar que podem vir daí coisas muito boas, que não tentemos esforçar-nos por fazer o melhor possível naquilo em que nos envolvemos, mas se calhar mais valia estarmos um bocado sossegados e lidar com o que vai surgindo. Sem listas, sem esquemas, sem planos de contingência, sem nos transformarmos (e aos nossos filhos, como bem lembra a Calita) em amontoados de projectos e árvores de prioridades. Não sei, é uma ideia. Mas pode ser que seja mais preguiça do que outra coisa.
13 dezembro 2013
fluorose
Isto de usar marcas próprias em artigos fundamentais só podia dar mau resultado. Uma coisa é o esparguete e o atum, outra são os produtos que contribuem para a higiene oral dos nossos filhos. É que só pode ser devido à pasta de dentes que têm usado, com excesso de flúor ou outras substâncias estupefacientes, que se dá um processo estranhíssimo de metamorfose na hora de lavar os dentes. Num minuto, temos dois rapazes bem comportados a tomar o pequeno-almoço e a levar a louça para a cozinha; no minuto seguinte, transformam-se num par de diabos da Tasmânia que não param em frente ao lavatório, empoleiram-se e empurram-se do (único) banquinho, dançam de escova de dentes em riste, espalham baba e espuma pela roupa acabada de vestir, e dão cabo do yin-yang a uma mãe que ainda agora estava em tranquila meditação e logo tem, mais uma vez, de atirar a serenidade às urtigas para que ninguém chegue atrasado à escola.
12 dezembro 2013
o corpo ao manifesto II
Do lado de fora da minha janela está um homem a serrar umas tábuas e, neste momento, gostava mesmo de trocar de lugar com ele. Uma pessoa passa a juventude a estudar para ter “um emprego” e depois chega a esta altura da vida e, por muito gosto que tenha no que faz profissionalmente, há muitos dias em que anseia pelo repouso de um belo esforço puramente físico. Tantos anos de evolução, tanta ciência, tanta arte, mas aquilo que me apetecia agora era mesmo não ter de inventar novas fórmulas para descrever o que já foi descrito, debruçada sobre o teclado e respirando a brisa em segunda mão do ar condicionado. Já sei, já sei, que a chuva e o vento e os calos e as costas. Vá lá, por que é que acham que há tanta gente a fazer exercício físico em condições atmosféricas impróprias, trepando montanhas e descendo ondas? Não há nada que faça melhor à cabeça do que consagrá-la aos serviços mínimos enquanto o corpo dá no duro. Não é masoquismo nem revivalismo pré-industrial, é respeito próprio.
10 dezembro 2013
Uma família é uma árvore cujos ramos também são raízes. Não se pode quebrar o mais pequeno dos galhos sem que o tronco se verga dolorosamente. Cada folha é única, cada fruto perfeito e insubstituível.
Querida Cecília, nunca te conheci nem ouvi a tua voz mas rezei muito por ti e pela tua família. Hoje é um dia muito triste porque o teu espaço nunca poderá voltar a ser preenchido. Continuo a rezar pela tua mãe, pelo teu pai e pelas tuas irmãs. Não há consolo possível mas espero que a grande e corajosa árvore que são continue a crescer cheia de amor e ternura em tua homenagem. Não foste em vão, és a seiva que corre lentamente na vida de todos os que tocaste.
Querida Cecília, nunca te conheci nem ouvi a tua voz mas rezei muito por ti e pela tua família. Hoje é um dia muito triste porque o teu espaço nunca poderá voltar a ser preenchido. Continuo a rezar pela tua mãe, pelo teu pai e pelas tuas irmãs. Não há consolo possível mas espero que a grande e corajosa árvore que são continue a crescer cheia de amor e ternura em tua homenagem. Não foste em vão, és a seiva que corre lentamente na vida de todos os que tocaste.
06 dezembro 2013
perdão
Neste dia em que nos despedimos de Nelson Mandela (e agradecemos por ter vivido numa época em que testemunhámos a sua passagem incontornável pelo mundo), detenho-me um bocadinho na importância do perdão. Guardar zangas, rancores e mágoas é acumular lixo dentro de nós. Parece óbvio e, no entanto, pode ser tão difícil fazer este tipo de limpezas. Perdoar a sério é um exercício cardiovascular e emocional. É nadar contra a corrente. Contraria o instinto básico de respeito próprio. Faz-nos temer pela nossa inviolabilidade futura. É mesmo tramado.
E então como conseguimos perdoar quando aquele que falhou fomos nós próprios? Como podemos aceitar que não somos perfeitos, que não conseguimos ir a todas, que fazemos porcaria e temos de continuar a viver com isso? Sem as costas vergadas. Sem nos sentirmos um bicho rafeiro. Mas, se virmos bem as coisas, não é diferente de perdoar outra pessoa. É fechar um capítulo e acreditar que o passado não esgota a nossa definição. Também somos, todos, feitos dos nossos gestos de hoje e das nossas expectativas para o que só em pequena parte controlamos do futuro. Se conseguíssemos, de facto, perdoar quem nos fez mal e perdoar-nos pelo mal que fazemos, de certeza que haveria muito mais espaço para deixar o bem acontecer.
E então como conseguimos perdoar quando aquele que falhou fomos nós próprios? Como podemos aceitar que não somos perfeitos, que não conseguimos ir a todas, que fazemos porcaria e temos de continuar a viver com isso? Sem as costas vergadas. Sem nos sentirmos um bicho rafeiro. Mas, se virmos bem as coisas, não é diferente de perdoar outra pessoa. É fechar um capítulo e acreditar que o passado não esgota a nossa definição. Também somos, todos, feitos dos nossos gestos de hoje e das nossas expectativas para o que só em pequena parte controlamos do futuro. Se conseguíssemos, de facto, perdoar quem nos fez mal e perdoar-nos pelo mal que fazemos, de certeza que haveria muito mais espaço para deixar o bem acontecer.
04 dezembro 2013
monólogo em movimento
A D.S., inspirada pelo Mak, partilhou a sua experiência durante um treino de corrida, que eu não resisto a copiar. Não costumo propriamente conversar através dos meus ténis (nem sequer dirijo uma palavra às pernas, sou muito autoritária comigo mesma durante os treinos) mas digamos que 10 Km dão para pensar numa série de coisas.
Início: “É hoje, é hoje que bato o meu recorde de velocidade aos 10 Km. Vamos a isto, deixem passar, senhores varredores, que eu não estou para brincadeiras!”
1 Km: “O que é que hei de fazer amanhã para o jantar? O quê? Fiz esta miséria de tempo? Esta porcaria não está a apanhar bem o satélite, só pode. Está um fresquinho jeitoso, quando será que volto a sentir as mãos?”
2 Km: “O rio está tão bonito, hoje. Deve estar mesmo a nascer o sol. Olha um corvo marinho! Olá primo. Olha o senhor que corre de camisa de manga curta. Bom dia! Que engraçado, não há mais ninguém a correr nesta altura do ano, vá-se lá saber porquê…”
3 Km: “Hoje vou fazer batota e corto pelo Padrão dos Descobrimentos, quero lá saber. Não fazes batota, não, sua mariquinhas. Vamos a baixar essa média que o regresso vai ser a doer, com este vento. Não te esqueças de levar o livro do Gugas para devolver à biblioteca.”
4 Km: “Não tropeces nas raízes das árvores! Olha os buracos, olha o lancil do passeio, levanta as pernas, isto não é um sarau de patinagem artística. Oh, não, porcaria de música mais deprimente. Vê lá se actualizas as playlists no telemóvel.”
5 Km: “Oh, tão lindo, só eu e o Tejo (e os pescadores) a olhar para mim. Sim, eu sei, tenho um rabiosque muito jeitoso. Ahhhhh, VENTO. Está este vento todo contra??? Não consigo, não consigo, vou correr mais devagar. Não vais, não, sua lesma. Mexe-te e aguenta.”
6 Km: “Árvores, postes, caixotes do lixo: qualquer coisa que me abrigue deste vendaval demoníaco… Lá se vai o recorde, ainda não é hoje que baixo dos 50 minutos…”
7 Km: “Lá vêm os ciclistas todos contentes, todos cheios de gorros, luvas, casaquinhos e mochilas. Estão a gostar do passeio? E que tal experimentarem levantar o rabo desse selim? Não sejas má, gralha. Não te serviu a bicicleta quando estavas lesionada?”
8 Km: “Só faltam 2, só faltam 2. Olha a postura. Não franzas a testa, que ficas com rugas. Respira bem. Ganha energia para o último. Ultrapassa lá esse pintas que é para ele experimentar um pouco de humildade. Com licença, senhor pintas. Sim, é verdade, está a ser ultrapassado por uma mulher pequenina. Não, não estou a correr só 10 minutinhos, sou mesmo uma flecha. Ó minha grande vaidosa, vê lá se não te esqueces de ir comprar uma alface senão não há salada.”
9-10 Km: “Dá tudo! Dá tudo! Ai, dói-me a barriga, maldita adrenalina! Mais depressa, mais depressa! Paciência para o recorde, despacha-te porque ainda tens de ir apanhar uma máquina de roupa, fazer as camas, tirar a louça do pequeno-almoço, e hoje há outra vez greve e o trânsito deve estar uma desgraça. Só mais um bocadinho, só mais um bocadinho. Ahhhhh. Para a próxima é que é. Bacalhau com grão, amanhã faço bacalhau com grão.”
É verdade, é assim que alimento o meu ego. Imaginem quão insuportável ficaria se corresse mais do que duas vezes por semana.
Início: “É hoje, é hoje que bato o meu recorde de velocidade aos 10 Km. Vamos a isto, deixem passar, senhores varredores, que eu não estou para brincadeiras!”
1 Km: “O que é que hei de fazer amanhã para o jantar? O quê? Fiz esta miséria de tempo? Esta porcaria não está a apanhar bem o satélite, só pode. Está um fresquinho jeitoso, quando será que volto a sentir as mãos?”
2 Km: “O rio está tão bonito, hoje. Deve estar mesmo a nascer o sol. Olha um corvo marinho! Olá primo. Olha o senhor que corre de camisa de manga curta. Bom dia! Que engraçado, não há mais ninguém a correr nesta altura do ano, vá-se lá saber porquê…”
3 Km: “Hoje vou fazer batota e corto pelo Padrão dos Descobrimentos, quero lá saber. Não fazes batota, não, sua mariquinhas. Vamos a baixar essa média que o regresso vai ser a doer, com este vento. Não te esqueças de levar o livro do Gugas para devolver à biblioteca.”
4 Km: “Não tropeces nas raízes das árvores! Olha os buracos, olha o lancil do passeio, levanta as pernas, isto não é um sarau de patinagem artística. Oh, não, porcaria de música mais deprimente. Vê lá se actualizas as playlists no telemóvel.”
5 Km: “Oh, tão lindo, só eu e o Tejo (e os pescadores) a olhar para mim. Sim, eu sei, tenho um rabiosque muito jeitoso. Ahhhhh, VENTO. Está este vento todo contra??? Não consigo, não consigo, vou correr mais devagar. Não vais, não, sua lesma. Mexe-te e aguenta.”
6 Km: “Árvores, postes, caixotes do lixo: qualquer coisa que me abrigue deste vendaval demoníaco… Lá se vai o recorde, ainda não é hoje que baixo dos 50 minutos…”
7 Km: “Lá vêm os ciclistas todos contentes, todos cheios de gorros, luvas, casaquinhos e mochilas. Estão a gostar do passeio? E que tal experimentarem levantar o rabo desse selim? Não sejas má, gralha. Não te serviu a bicicleta quando estavas lesionada?”
8 Km: “Só faltam 2, só faltam 2. Olha a postura. Não franzas a testa, que ficas com rugas. Respira bem. Ganha energia para o último. Ultrapassa lá esse pintas que é para ele experimentar um pouco de humildade. Com licença, senhor pintas. Sim, é verdade, está a ser ultrapassado por uma mulher pequenina. Não, não estou a correr só 10 minutinhos, sou mesmo uma flecha. Ó minha grande vaidosa, vê lá se não te esqueces de ir comprar uma alface senão não há salada.”
9-10 Km: “Dá tudo! Dá tudo! Ai, dói-me a barriga, maldita adrenalina! Mais depressa, mais depressa! Paciência para o recorde, despacha-te porque ainda tens de ir apanhar uma máquina de roupa, fazer as camas, tirar a louça do pequeno-almoço, e hoje há outra vez greve e o trânsito deve estar uma desgraça. Só mais um bocadinho, só mais um bocadinho. Ahhhhh. Para a próxima é que é. Bacalhau com grão, amanhã faço bacalhau com grão.”
É verdade, é assim que alimento o meu ego. Imaginem quão insuportável ficaria se corresse mais do que duas vezes por semana.
03 dezembro 2013
venham a mim, livrinhos esvoaçantes
Ho! Ho! Ho! E eis que chega a tão ansiada altura em que faço de conta que recebo subsídio de Natal e me desgraço a passar um bom bocado da lista dos to read da minha área do Goodreads para as estantes do meu serpenteante corredor. A sensação deve ser parecida com a que experimentam as meninas que se atiram aos saldos da Zara, com a diferença que elas passam a andar vestidas de acordo com a moda e eu continuo a usar as mesmas calças desde mil nove e noventa e tal (mas com muito mais ideias, dúvidas e inquietações). Aguardo agora a chegada das encomendas como uma criança na manhã de 25 de Dezembro. Obedientemente terei que esperar uns dias, já que virão ainda pela antiquada via dos correios e não de drone nem de mocho, essas novas tendências da distribuição postal que prometem comprometer o espaço aéreo internacional e provocar a morte por colisão em vôo a muitas das minhas irmãs aves.
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