Já dizia o bom velho McClelland que precisamos de estabelecer objectivos elevados mas realistas para andarmos motivados. O problema é que o difícil nem sempre é cumprir os objectivos mas começar por encontrá-los. Se uma pessoa não quer mudar de emprego, ter mais um filho, perder peso, aprender uma nova língua, redecorar a casa, sobram os sonhos estratosféricos incompatíveis com a conta bancária e as intenções pouco glamorosas como fazer o melhor possível naquilo em que nos metemos. Nestas circunstâncias, ou nos resignamos a uma existência rastejante ou inventamos asas para voltar a voar.
O que é que eu ainda posso fazer que seja bombasticamente compensador, difícil mas não impossível? Participar nos Jogos Olímpicos. Façamos então umas contas para ver se as anteriores premissas se confirmam ou se tenho de deixar de inalar solventes industriais. No espaço de um ano (e perto de 1000 km corridos), na minha distância preferida (10.000m), consegui melhorar o meu tempo cerca de 13%. Sendo que os mínimos olímpicos estabelecidos para Londres 2012 foram de 31'45'', isso significa que, ceteris paribus, estarei a conseguir esse tempo em... 2017. Como parece que aquilo no Rio de Janeiro está a dar molho, pode ser que eles criem uma categoria suplementar em 2016 para mães-de-família-com-37-anos-que-fazem-uma-feijoada-daqui e eu consiga realizar este objectivo. Ahhh, até parece que já vos vejo a todos colados à televisão, a descascar amendoins e a gritar: "força gralha, tu consegues a medalha!"
31 janeiro 2014
30 janeiro 2014
não sei como é que vocês conseguem
Chegar ao fim do dia com energia. Porque eu arrasto-me.
Fotografar lindos pequenos-almoços. Porque ainda estou a descolar as pestanas enquanto preparo almoços e arrumo mochilas.
Ser fadas-do-lar irrepreensíveis. Porque eu esgoto o vernáculo de asneiras ao estender cada máquina de roupa.
Cozinhar com prazer. Porque eu sonho com comprimidos de nutrientes.
Fazer coisas giríssimas com espontaneidade. Porque os meus melhores planos nunca saem perfeitos.
Estar em cima do acontecimento. Porque as notícias me deprimem e enxotam.
Gostar de chuva. Porque eu me molho.
Não elevar a voz com os vossos filhos. Porque os meus nem sempre ouvem à primeira (nem à terceira).
Equilibrar trabalho, vida social, parentalidade. Porque às vezes não percebo o sentido do que faço. Organizar festas dá-me vontade de espetar mini-chapéus-de-sol de cocktail nos olhos. Os miúdos que resolvam os seus próprios problemas. Que eu sou só uma e muitas vezes sinto-me menos do que isso.
Nota-se muito que o outro adulto da família está fora há uns dias?
Fotografar lindos pequenos-almoços. Porque ainda estou a descolar as pestanas enquanto preparo almoços e arrumo mochilas.
Ser fadas-do-lar irrepreensíveis. Porque eu esgoto o vernáculo de asneiras ao estender cada máquina de roupa.
Cozinhar com prazer. Porque eu sonho com comprimidos de nutrientes.
Fazer coisas giríssimas com espontaneidade. Porque os meus melhores planos nunca saem perfeitos.
Estar em cima do acontecimento. Porque as notícias me deprimem e enxotam.
Gostar de chuva. Porque eu me molho.
Não elevar a voz com os vossos filhos. Porque os meus nem sempre ouvem à primeira (nem à terceira).
Equilibrar trabalho, vida social, parentalidade. Porque às vezes não percebo o sentido do que faço. Organizar festas dá-me vontade de espetar mini-chapéus-de-sol de cocktail nos olhos. Os miúdos que resolvam os seus próprios problemas. Que eu sou só uma e muitas vezes sinto-me menos do que isso.
Nota-se muito que o outro adulto da família está fora há uns dias?
29 janeiro 2014
escapismo sazonal
É o Walter Mitty, é a colecção resort, é o chilrear imaginário de passarinhos recém-nascidos, é a recordação de tantas coisas boas feitas no ano passado e o desejo de muitas mais, que aguardam, congeladas e em suspenso, que venham dias mais quentes e luminosos. É tudo isto que me dá uma vontade tremenda de acelerar no tempo ou, pelo menos, no espaço, e sair desta altura do ano que me faz sempre sentir agrilhoada num Gulag bafiento. 31 dias para rumar à floresta tropical parecem-me uma eternidade insuportável. Não há mantra nem calendário bonitinho que me façam apreciar estes dias enquanto espero pelo recomeço da vida como gosto de a viver. Ainda ninguém me avisou, mas suspeito que sou personagem de programa televisivo que só passa na temporada de Verão.
Em podendo escolher, posso ser a Cat Deeley no So You Think You Can Dance?
Em podendo escolher, posso ser a Cat Deeley no So You Think You Can Dance?
24 janeiro 2014
o castigo
Se o episódio do super-homem revela em curta metragem a essência do meu filho mais novo, a estória que passo a contar é um apetitoso cartão de visita do meu filho mais velho. Filho maduro e ciente dos seus deveres, mas que não deixa de ter 6 anos e andar com a cabeça no ar, como é de direito.
Depois de, pela segunda vez, se esquecer de trazer uma importante circular da escola, resolvi aplicar um castigo adequado. Com a intenção de o fazer compreender o sentido da responsabilidade, informei-o que teria de passar o fim do dia a zelar pela integridade de um ser frágil e indefeso, a saber: um ovo cru. Personalizando a coisa, desenhei uma cara no dito cujo, e entreguei-o ao seu mentor com recomendações marsupiais. Desde aí, tornaram-se inseparáveis. Aquele ovo viajou do quarto para a sala, da cozinha para a casa-de-banho, mais apaparicado do que um sultão no seu jacto particular. Chegada a hora de deitar e finalizado o castigo, o extremoso progenitor informou-me que não queria devolver o seu novo amigo, que já se tinham afeiçoado um ao outro. Não tivemos outro remédio senão preparar um ninho e aceitar este novo membro da família. O pior é que não vamos ficar por aqui porque obviamente que o «tio» também quer o seu próprio ovo. Bom, sempre dão menos trabalho do que galinhas. E assim aprendi eu a lição que não vale a pena reinventar a roda com pedagogias fofinhas. Alguém se tornou mais responsável com a experiência? Não. Ainda vou ter gemada num tapete? É o mais certo.
Depois de, pela segunda vez, se esquecer de trazer uma importante circular da escola, resolvi aplicar um castigo adequado. Com a intenção de o fazer compreender o sentido da responsabilidade, informei-o que teria de passar o fim do dia a zelar pela integridade de um ser frágil e indefeso, a saber: um ovo cru. Personalizando a coisa, desenhei uma cara no dito cujo, e entreguei-o ao seu mentor com recomendações marsupiais. Desde aí, tornaram-se inseparáveis. Aquele ovo viajou do quarto para a sala, da cozinha para a casa-de-banho, mais apaparicado do que um sultão no seu jacto particular. Chegada a hora de deitar e finalizado o castigo, o extremoso progenitor informou-me que não queria devolver o seu novo amigo, que já se tinham afeiçoado um ao outro. Não tivemos outro remédio senão preparar um ninho e aceitar este novo membro da família. O pior é que não vamos ficar por aqui porque obviamente que o «tio» também quer o seu próprio ovo. Bom, sempre dão menos trabalho do que galinhas. E assim aprendi eu a lição que não vale a pena reinventar a roda com pedagogias fofinhas. Alguém se tornou mais responsável com a experiência? Não. Ainda vou ter gemada num tapete? É o mais certo.
15 janeiro 2014
o problema é o seguinte
Estão a ver o mote deste blogue? Já não me vou revendo nele como outrora. Não sei se é do tempo corrido ou uma maré passageira, mas a verdade é que não me apetece gralhar. Isto é, não me dá para falar com ligeireza de um pouco de tudo, com mais ou menos propriedade. Estou com problemas de identidade totémica, não sei onde isto vai dar. Entretanto, os dias sucedem-se cheios de coisas pequenas e grandes, boas, que não se prestam à exposição. Não é pudor, é desnecessidade de validação. Assim me calo e vou apreciando.
09 janeiro 2014
de corpo e de mente
Este artigo do NY Times pode parecer mais um prego no caixão daqueles que convivem com a inércia e com problemas de auto-imagem corporal. No entanto, aquilo que retiro da pesquisa em que se baseia, ainda que incipiente, é a importância de fazermos aquilo que nos dá realmente prazer. Se uma pessoa sente mais prazer em sofazar e comer batatas fritas do que em sair para correr, não há resolução de ano novo de dar uso aos ténis que dure mais do que uma semana. Mas essa pessoa não está condenada a passar 360 dias por ano refastelada a encher o bandulho de porcarias porque não tem apenas a única alternativa de ir correr. O truque está em descobrir o que é que dá gozo e não causa o patético sentimento de culpa que nunca conseguiu converter ninguém ao evangelho da vida saudável.
Uma coisa que me chateia neste estudo é que coloque em lados opostos gordos e magros, como se houvesse uma fronteira física entre ambos. Não vou sequer entrar pelas muitas razões que contribuem para que se entre (e permaneça) em excesso de peso, e que não são uma questão de falta de força de vontade. Nem pelo facto de todos os tipos de corpo terem o mesmo absoluto direito ao respeito e ao desfrute. Pegando só na questão do exercício, dou o meu exemplo, de alguém que nunca teve excesso de peso. Passei toda a vida escolar a odiar educação física, a minha pior nota, o meu desejo eterno de baldanço, o meu motivo de chacota por cada cesto falhado, cada manchete contra os meus óculos, cada tropeção na bola. Odiava, odiava, odiava educação física e convenci-me que era uma pessoa sedentária, sem jeito para desporto. Foi preciso ter chegado aos 17 anos e ter descoberto o remo e o yoga para perceber que mexer-me é uma coisa que pode dar imenso prazer. O que é que mudou? A minha postura perante o meu corpo. O meu corpo sou eu, não é um trambolho que arrasto inevitavelmente. Gosto de o fazer sentir-se bem. Gosto de o pôr a fazer aquilo para que foi destinado – trabalhar, mas trabalhar com objectivos realistas e a devida recompensa. Porque andar a alinhar em modas de exercícios, planos de treinos loucos e outras quimeras externas à nossa vontade pessoal é tão estúpido como escolher uma profissão ao calhas ou ter filhos porque as tias não se calam com essa conversa em todos os jantares de família. A sério, pessoas, dêem-se ao luxo de viver com prazer, ninguém vos vai recompensar na velhice por uma vida inteira de boas intenções e eternas frustrações.
Uma coisa que me chateia neste estudo é que coloque em lados opostos gordos e magros, como se houvesse uma fronteira física entre ambos. Não vou sequer entrar pelas muitas razões que contribuem para que se entre (e permaneça) em excesso de peso, e que não são uma questão de falta de força de vontade. Nem pelo facto de todos os tipos de corpo terem o mesmo absoluto direito ao respeito e ao desfrute. Pegando só na questão do exercício, dou o meu exemplo, de alguém que nunca teve excesso de peso. Passei toda a vida escolar a odiar educação física, a minha pior nota, o meu desejo eterno de baldanço, o meu motivo de chacota por cada cesto falhado, cada manchete contra os meus óculos, cada tropeção na bola. Odiava, odiava, odiava educação física e convenci-me que era uma pessoa sedentária, sem jeito para desporto. Foi preciso ter chegado aos 17 anos e ter descoberto o remo e o yoga para perceber que mexer-me é uma coisa que pode dar imenso prazer. O que é que mudou? A minha postura perante o meu corpo. O meu corpo sou eu, não é um trambolho que arrasto inevitavelmente. Gosto de o fazer sentir-se bem. Gosto de o pôr a fazer aquilo para que foi destinado – trabalhar, mas trabalhar com objectivos realistas e a devida recompensa. Porque andar a alinhar em modas de exercícios, planos de treinos loucos e outras quimeras externas à nossa vontade pessoal é tão estúpido como escolher uma profissão ao calhas ou ter filhos porque as tias não se calam com essa conversa em todos os jantares de família. A sério, pessoas, dêem-se ao luxo de viver com prazer, ninguém vos vai recompensar na velhice por uma vida inteira de boas intenções e eternas frustrações.
08 janeiro 2014
06 janeiro 2014
os super-poderes de uma grande banda sonora
Adoro esta fase dos meus rapazes, sobretudo do mais novo, em que andam fixados nos conceitos do bem e do mal, dos bons e dos vilões. Ainda que vá desconstruindo um bocadinho essa ideia do mundo a preto e branco, também me parece importante deixá-los explorar estes alicerces da moralidade, criando personagens, desempenhando papeis e escolhendo referências reais e imaginárias. Este é o tempo dos super-heróis e das armas imaginárias. Diariamente sou raptada por malfeitores e resgatada pelos meus bravos salvadores. Às vezes sou ladra, outras polícia. Também vou salvando alguns príncipes em apuros, que isto há limites ao respeito pelos estereótipos da narrativa infantil. O grande fascínio do momento é o Super-Homem, desempenhado pelo Christopher Reeve. E a verdade é que mesmo eu tenho um fraquinho pela estória, sobretudo na versão original.
Esta conversa toda serve para contextualizar o seguinte episódio de espectacular dramatismo do meu cavaleiro andante com quase quatro anos de idade. Aquela amostra de gente vive tudo com tal paixão e arrebatamento que só posso imaginar que venha a ser um grande artista. Ou um grande farsante. Senão, vejam:
O cenário: À mesa, durante o jantar.
Os personagens: Pais e filhos.
O enredo: Filhos devoram gigantes pratadas de massa com atum. Pai põe a tocar na estereofonia o tema principal do Super-Homem, do John Williams. Mãe começa a dançar na cadeira e filhos seguem-lhe o exemplo. Eis senão quando, filho mais novo começa a ficar com os olhos marejados de lágrimas, o beicinho a despontar, e desmancha-se numa choradeira monumental, com direito a ataque de tosse e metade da refeição devolvida à procedência. Sobrecarga de emoção para quinze quilos de criança.
É muito exagerado, este meu filho. Até parece alguém que eu cá sei.
P.S. Para quem esteja a precisar de uma purga gastroemocional pós-festas, cá vai uma ajuda.
Esta conversa toda serve para contextualizar o seguinte episódio de espectacular dramatismo do meu cavaleiro andante com quase quatro anos de idade. Aquela amostra de gente vive tudo com tal paixão e arrebatamento que só posso imaginar que venha a ser um grande artista. Ou um grande farsante. Senão, vejam:
O cenário: À mesa, durante o jantar.
Os personagens: Pais e filhos.
O enredo: Filhos devoram gigantes pratadas de massa com atum. Pai põe a tocar na estereofonia o tema principal do Super-Homem, do John Williams. Mãe começa a dançar na cadeira e filhos seguem-lhe o exemplo. Eis senão quando, filho mais novo começa a ficar com os olhos marejados de lágrimas, o beicinho a despontar, e desmancha-se numa choradeira monumental, com direito a ataque de tosse e metade da refeição devolvida à procedência. Sobrecarga de emoção para quinze quilos de criança.
É muito exagerado, este meu filho. Até parece alguém que eu cá sei.
P.S. Para quem esteja a precisar de uma purga gastroemocional pós-festas, cá vai uma ajuda.
03 janeiro 2014
retrato de hoje
De vez em quando preciso de fazer este exercício: olhar para o tempo presente e fixá-lo em palavras. Porque não chegam as imagens no Instagram e, infelizmente, a memória já não é a mesma.
Por estes dias tenho fraca vontade de trabalhar, mais por dificuldade em vencer um obstáculo técnico do que por preguiça. Não tenho novas metas para a corrida, o que é um bocado estranho. Vou fazendo os meus treinos habituais até surgir um desafio interessante. Estamos a planear a tão ansiada viagem ao paraíso da biodiversidade e oscilo entre a excitação tremenda e o receio que algo não corra bem. Prestes a celebrar 7 anos de casados, acho que a nossa relação está igual ao que era desde o início. Não sei se é bom, mau, ou se não quer dizer nada. Conhecemo-nos muito bem e, no meio das nossas diferenças graníticas, encontramos cada vez mais um fundo comum de princípios e respeito mútuo.
Os rapazes estão crescidos, claro. O Gustavo sempre entusiasmado com a escola, a ler cada vez mais depressa, curioso, introspectivo, meigo e paciente. Trocou a namorada que já vinha do Jardim de Infância por uma pirosona. Os rufias do segundo ano têm dado tréguas e ele vai ganhando alguma confiança para lidar comos miúdos imbecis e malcriados as crianças que não têm o devida estrutura emocional. O Diogo está a ganhar vocabulário a uma velocidade incrível e continua a não conseguir pronunciar os érres enrolados. Ainda se sente minúsculo na escola e vinga-se um bocadinho no mano. Tem uma namorada com 6 anos (acha ele...) mas continua a querer casar-se comigo. Está a comer muito melhor. Adoro vê-los brincar juntos, ainda que comece a haver algum confronto físico. E delicio-me quando partilham livros, gargalhadas, carrinhos e bolachas.
Assim é a nossa vida no início de 2014. Não podia ser mais banal mas acho que não a trocava por nenhuma outra.
Por estes dias tenho fraca vontade de trabalhar, mais por dificuldade em vencer um obstáculo técnico do que por preguiça. Não tenho novas metas para a corrida, o que é um bocado estranho. Vou fazendo os meus treinos habituais até surgir um desafio interessante. Estamos a planear a tão ansiada viagem ao paraíso da biodiversidade e oscilo entre a excitação tremenda e o receio que algo não corra bem. Prestes a celebrar 7 anos de casados, acho que a nossa relação está igual ao que era desde o início. Não sei se é bom, mau, ou se não quer dizer nada. Conhecemo-nos muito bem e, no meio das nossas diferenças graníticas, encontramos cada vez mais um fundo comum de princípios e respeito mútuo.
Os rapazes estão crescidos, claro. O Gustavo sempre entusiasmado com a escola, a ler cada vez mais depressa, curioso, introspectivo, meigo e paciente. Trocou a namorada que já vinha do Jardim de Infância por uma pirosona. Os rufias do segundo ano têm dado tréguas e ele vai ganhando alguma confiança para lidar com
Assim é a nossa vida no início de 2014. Não podia ser mais banal mas acho que não a trocava por nenhuma outra.
Subscrever:
Mensagens (Atom)