Não existe ninguém no mundo que alguma vez siga alguma receita exactamente à letra, pois não?
E é absolutamente normal que, independentemente dos nossos hábitos de compras de produtos alimentares (mensais/ semanais/ diários/ quando apetece um chocolate), acabe sempre por faltar um ingrediente, não é?
Ingrediente este que se consegue sempre substituir por outro, certo?
27 março 2014
24 março 2014
etnad
Pobre desgraçadinha de mim, que fui até ao Paraíso e voltei, o que faz de mim uma espécie de Dante, só que ao contrário. E o que é que uma pessoa pode fazer agora, para descobrir a vida depois da vida? Como dar a volta a este humor de eterna terça-feira* e reencontrar a alegria das pequenas coisas?
Bem sei que estou a dramatizar e devia ter vergonha de me queixar depois de ter feito o que tanto desejava, e que não está ao alcance de todos. Mas tenho alguma vontade de chorar enquanto descasco uma banana, ouço os passarinhos de Monteverde no Spotify e ordeno em frames as emoções registadas naqueles dias. Uma imagem pode valer por mil palavras mas não há filme nem fotografia que devolvam os cheiros, o calor nem a nuance de cada gargalhada.
Volto-me para todos os lados à procura de sentido e lembro-me daquela história (Lc 9: 33) em que Pedro estava todo contente no alto da montanha com Jesus e seus amigos, e achou que podiam fazer umas tendas e ficar ali para sempre. Com certeza que Jesus também apreciava a vista e a companhia, mas Deus achou que era mais importante descerem dali e irem anunciar a Boa Nova. Suponho que há de haver coisas mais importantes para eu fazer com o resto da minha vida. Acontece que, assim de repente, não estou a ver quais serão. Entretanto, sonho mais um bocadinho.
* Toda a gente sabe que a terça é muito pior do que a segunda-feira, quando ainda vimos com o gosto bom do fim-de-semana.
Bem sei que estou a dramatizar e devia ter vergonha de me queixar depois de ter feito o que tanto desejava, e que não está ao alcance de todos. Mas tenho alguma vontade de chorar enquanto descasco uma banana, ouço os passarinhos de Monteverde no Spotify e ordeno em frames as emoções registadas naqueles dias. Uma imagem pode valer por mil palavras mas não há filme nem fotografia que devolvam os cheiros, o calor nem a nuance de cada gargalhada.
Volto-me para todos os lados à procura de sentido e lembro-me daquela história (Lc 9: 33) em que Pedro estava todo contente no alto da montanha com Jesus e seus amigos, e achou que podiam fazer umas tendas e ficar ali para sempre. Com certeza que Jesus também apreciava a vista e a companhia, mas Deus achou que era mais importante descerem dali e irem anunciar a Boa Nova. Suponho que há de haver coisas mais importantes para eu fazer com o resto da minha vida. Acontece que, assim de repente, não estou a ver quais serão. Entretanto, sonho mais um bocadinho.
* Toda a gente sabe que a terça é muito pior do que a segunda-feira, quando ainda vimos com o gosto bom do fim-de-semana.
21 março 2014
cahuíta-san jose-madrid-lisboa
10 de Março de 2014
Mais uma manhã de sol nas Caraíbas. Fomos conhecer o Jaguar Centro de Rescate, em Puerto Viejo de Talamanca, um refúgio para animais em perigo com vista à reintrodução na natureza. Foi uma visita encantadora, não só porque conseguimos ver alguns animais que tinham escapado aos nossos olhos inexperientes (cobras, crocodilos, grandes felinos, aves de rapina) mas princialmente porque passámos pela experiência única de conviver com macacos. As gargalhadas dos miúdos enquanto os capuchinhos lhes trepavam para a cabeça foram qualquer coisa de impagável.
De seguida, fomos para a praia em Punta Uva, uma baía digna de postal a 10 quilómetros do Panamá (ficou-me atravessado, mas não consegui convencer o Luís a trocar uma tarde de lagartagem por aventuras alfandegárias sem sucesso garantido). Passámos o resto do dia à espreita de caimões na praia enquanto o Diogo dormia no carro, e só regressámos a Cahuíta para engolir umas sanduíches já bem temperadas da nostalgia do último anoitecer na Costa Rica.
Chegou finalmente o último dia, para grande tristeza de todos: Levantei-me às 5h30 com os tucanos e os macacos gritadores e fui preparar café, sumo, torradas, ovos e abacates. Como seria bom poder começar todos os dias assim. Fomos dar um mergulho de despedida à Playa Blanca, às 7h tinhamo-la só para nós. Voltámos para arrumar as mochilas e partir.
Foi difícil manter o ânimo à passagem daqueles quilómetros de praias, bananeiras e, finalmente, o jurássico parque Braulio Carrillo, com as suas folhas de mais de um metro de diâmetro e enormes subidas, onde os camionistas afoitos se ultrapassam, indiferentes ao resto do mundo. Almoçámos os piores casados de que há memória (caganeira 2 - Luís e Diogo 0) num restaurante junto a San Joselito de San Isidro (um santo com o seu próprio padroeiro é bom demais), e fomos entregar o nosso espectacular Jimny, que resistiu a tantos maus tratos sem vacilar.
Valente seca no aeroporto. Grande vontade de fugir a correr e só parar no alto de um vulcão. Recordem-me lá outra vez, por que é que tenho de voltar para Portugal?
Os voos correram muito bem, conseguimos dormir alguma coisa de jeito e ver vários filmes. Não custa tanto acordar torta num avião quando se olha para o lado e está um rapazinho a inaugurar os seus 7 anos e a olhar para nós com o sorriso mais doce do mundo. Venham mais viagens assim, mais dias cheios com os meus amores em qualquer canto mágico do mundo.
Mais uma manhã de sol nas Caraíbas. Fomos conhecer o Jaguar Centro de Rescate, em Puerto Viejo de Talamanca, um refúgio para animais em perigo com vista à reintrodução na natureza. Foi uma visita encantadora, não só porque conseguimos ver alguns animais que tinham escapado aos nossos olhos inexperientes (cobras, crocodilos, grandes felinos, aves de rapina) mas princialmente porque passámos pela experiência única de conviver com macacos. As gargalhadas dos miúdos enquanto os capuchinhos lhes trepavam para a cabeça foram qualquer coisa de impagável.
De seguida, fomos para a praia em Punta Uva, uma baía digna de postal a 10 quilómetros do Panamá (ficou-me atravessado, mas não consegui convencer o Luís a trocar uma tarde de lagartagem por aventuras alfandegárias sem sucesso garantido). Passámos o resto do dia à espreita de caimões na praia enquanto o Diogo dormia no carro, e só regressámos a Cahuíta para engolir umas sanduíches já bem temperadas da nostalgia do último anoitecer na Costa Rica.
Chegou finalmente o último dia, para grande tristeza de todos: Levantei-me às 5h30 com os tucanos e os macacos gritadores e fui preparar café, sumo, torradas, ovos e abacates. Como seria bom poder começar todos os dias assim. Fomos dar um mergulho de despedida à Playa Blanca, às 7h tinhamo-la só para nós. Voltámos para arrumar as mochilas e partir.
Foi difícil manter o ânimo à passagem daqueles quilómetros de praias, bananeiras e, finalmente, o jurássico parque Braulio Carrillo, com as suas folhas de mais de um metro de diâmetro e enormes subidas, onde os camionistas afoitos se ultrapassam, indiferentes ao resto do mundo. Almoçámos os piores casados de que há memória (caganeira 2 - Luís e Diogo 0) num restaurante junto a San Joselito de San Isidro (um santo com o seu próprio padroeiro é bom demais), e fomos entregar o nosso espectacular Jimny, que resistiu a tantos maus tratos sem vacilar.
Valente seca no aeroporto. Grande vontade de fugir a correr e só parar no alto de um vulcão. Recordem-me lá outra vez, por que é que tenho de voltar para Portugal?
Os voos correram muito bem, conseguimos dormir alguma coisa de jeito e ver vários filmes. Não custa tanto acordar torta num avião quando se olha para o lado e está um rapazinho a inaugurar os seus 7 anos e a olhar para nós com o sorriso mais doce do mundo. Venham mais viagens assim, mais dias cheios com os meus amores em qualquer canto mágico do mundo.
Escola em Puerto Viejo
Víbora no centro de resgate
Tucano (extremamente vaidoso) no centro de resgate
Recolha de reciclagem (em todo o lado, desde as montanhas às praias)
Spa de caimões
Punta Uva (do outro lado fica o Panamá)
Plantações de banana
Pan-americana, no parque nacional Braulio Carrillo
20 março 2014
vulcão poás-cahuíta
8 de Março de 2014
O despertador fez-nos saltar da cama ainda antes do nascer do sol. Sabíamos que a vista desimpedida da cratera é uma coisa rara mas as probabilidades melhoram se formos bem cedo, antes da formação de um tecto de nuvens. Quando chegámos à entrada do parque, a desilusão: só abria às 8 horas. Com o estômago colado às costas, descemos a encosta ponteada de vacas alpinas e fomos tomar o pequeno-almoço ao hotel, antes de voltar a subir ao Poás.
Valeu a pena! A visão da cratera fumegante aos nossos pés é qualquer coisa de extraordinário e inesquecível, e acho que não foi o enxofre nem a altitude (3000 m) que me subiram à cabeça. Esta viagem tem-nos feito bem sentir a nossa pequenez neste planeta maravilhoso e este foi um daqueles momentos que ficarão gravados a quente na minha memória.
Era tempo de apontar às Caraíbas. Descemos até Herédia, onde nos refastelámos de pizza rodeados de Ticos genuínos num sábado relaxado, passeando na praça principal e comendo gelados à boleia de motorizadas. De volta à estrada, e para comemorar o Dia da Mulher, peguei no volante e conduzi pela longa via Braulio Carillo (pelo menos até me lembrar que não tinha trazido a carta de condução), atravessando o esmagador parque nacional homónimo, onde apanhámos as primeiras chuvas.
O trajecto voltou finalmente a sul já perto da costa oriental, numa imensa planície coberta de sucessivas quintas de plantação de banana (de onde vêm as nossas conhecidas chiquitas). O alcatrão desenrolava-se vagarosamente, a imaginação para jogos e estórias começava a escassear, e a noite já era cerrada quando chegámos finalmente a Cahuíta, a nossa última paragem, a poucos quilómetros da fronteira.
O alívio foi a duplicar quando estacionámos o jipe, tendo conseguido não atropelar nenhuma das centenas de transeuntes, ciclistas e animais que desaguam na estrada ao lusco-fusco, e fomos simpaticamente recebidos pelo nosso anfitrião. O Sepp é um alemão de grande barriga cheia de estórias, casado com uma portuguesa que conheceu em Moçambique, onde tinha um crocodilo-de-guarda. Sentimo-nos imediatamente em casa na nossa cabina nirvana, com dois quartos colonias de camas cobertas de redes e uma cozinha e alpendre exteriores. Deitámos os miúdos e fomos embalar umas cervejinhas geladas na cama de rede.
Amanheceu um dia amniótico e suave, com o som ensurdecedor de milhões de passarinhos. Depois de mais um pequeno-almoço cheio das coisas boas a que já nos habituámos, fomos até à Playa Negra comprovar que o mar das Caraíbas continua a ser uma festa para os sentidos, com ondas mornas e um cheio a floresta a entrar-nos pela pele. Seguiu-se um mergulho na piscina, com direito a uma valente queda e consequente queixo aberto do Diogo (felizmente já tinhamos o estojo de primeiros-socorros).
Almoçámos e fomos até ao parque nacional de Cahuíta, o casamento perfeito entre uma linda baía de areia dourada e a verdadeira selva. Entre mergulhos e brincadeiras na areia, vimos macacos, guaxinins, borboletas enormes de todas as cores, aranhas arrepiantes, caranguejos azuis, preguiças e um lagarto jesus-cristo, correndo sobre as águas do mangal. Foi bom chegar a casa ao fim de mais um dia tão intenso e deixar dormir um Diogo-farrapo enquanto o Gugas fazia fichas de estudo, compensando esta longa mas perfeitamente justificável gazeta à escola.
Depois do banho fomos jantar fora (para variar do menu habitual de cachorros e sandes de atum) a um restaurante sobre as ondas. Comemos um maravilhoso polvinho al ajillo com vista para as preguiças e para a escuridão mansa do mar. Deitámo-nos a contar as estrelas e a ouvir os grilos, fazendo de conta que aquela noite se prolongaria para sempre. Ahh, a vida pode ser tão simples e tão boa.
O despertador fez-nos saltar da cama ainda antes do nascer do sol. Sabíamos que a vista desimpedida da cratera é uma coisa rara mas as probabilidades melhoram se formos bem cedo, antes da formação de um tecto de nuvens. Quando chegámos à entrada do parque, a desilusão: só abria às 8 horas. Com o estômago colado às costas, descemos a encosta ponteada de vacas alpinas e fomos tomar o pequeno-almoço ao hotel, antes de voltar a subir ao Poás.
Valeu a pena! A visão da cratera fumegante aos nossos pés é qualquer coisa de extraordinário e inesquecível, e acho que não foi o enxofre nem a altitude (3000 m) que me subiram à cabeça. Esta viagem tem-nos feito bem sentir a nossa pequenez neste planeta maravilhoso e este foi um daqueles momentos que ficarão gravados a quente na minha memória.
Era tempo de apontar às Caraíbas. Descemos até Herédia, onde nos refastelámos de pizza rodeados de Ticos genuínos num sábado relaxado, passeando na praça principal e comendo gelados à boleia de motorizadas. De volta à estrada, e para comemorar o Dia da Mulher, peguei no volante e conduzi pela longa via Braulio Carillo (pelo menos até me lembrar que não tinha trazido a carta de condução), atravessando o esmagador parque nacional homónimo, onde apanhámos as primeiras chuvas.
O trajecto voltou finalmente a sul já perto da costa oriental, numa imensa planície coberta de sucessivas quintas de plantação de banana (de onde vêm as nossas conhecidas chiquitas). O alcatrão desenrolava-se vagarosamente, a imaginação para jogos e estórias começava a escassear, e a noite já era cerrada quando chegámos finalmente a Cahuíta, a nossa última paragem, a poucos quilómetros da fronteira.
O alívio foi a duplicar quando estacionámos o jipe, tendo conseguido não atropelar nenhuma das centenas de transeuntes, ciclistas e animais que desaguam na estrada ao lusco-fusco, e fomos simpaticamente recebidos pelo nosso anfitrião. O Sepp é um alemão de grande barriga cheia de estórias, casado com uma portuguesa que conheceu em Moçambique, onde tinha um crocodilo-de-guarda. Sentimo-nos imediatamente em casa na nossa cabina nirvana, com dois quartos colonias de camas cobertas de redes e uma cozinha e alpendre exteriores. Deitámos os miúdos e fomos embalar umas cervejinhas geladas na cama de rede.
Amanheceu um dia amniótico e suave, com o som ensurdecedor de milhões de passarinhos. Depois de mais um pequeno-almoço cheio das coisas boas a que já nos habituámos, fomos até à Playa Negra comprovar que o mar das Caraíbas continua a ser uma festa para os sentidos, com ondas mornas e um cheio a floresta a entrar-nos pela pele. Seguiu-se um mergulho na piscina, com direito a uma valente queda e consequente queixo aberto do Diogo (felizmente já tinhamos o estojo de primeiros-socorros).
Almoçámos e fomos até ao parque nacional de Cahuíta, o casamento perfeito entre uma linda baía de areia dourada e a verdadeira selva. Entre mergulhos e brincadeiras na areia, vimos macacos, guaxinins, borboletas enormes de todas as cores, aranhas arrepiantes, caranguejos azuis, preguiças e um lagarto jesus-cristo, correndo sobre as águas do mangal. Foi bom chegar a casa ao fim de mais um dia tão intenso e deixar dormir um Diogo-farrapo enquanto o Gugas fazia fichas de estudo, compensando esta longa mas perfeitamente justificável gazeta à escola.
Depois do banho fomos jantar fora (para variar do menu habitual de cachorros e sandes de atum) a um restaurante sobre as ondas. Comemos um maravilhoso polvinho al ajillo com vista para as preguiças e para a escuridão mansa do mar. Deitámo-nos a contar as estrelas e a ouvir os grilos, fazendo de conta que aquela noite se prolongaria para sempre. Ahh, a vida pode ser tão simples e tão boa.
Cratera principal do vulcão Poás
Travessia de um rio na província de Limón.
A nossa cabina nirvana
Playa negra, Cahuíta
Guaxinim!
Preguiça!
Acabei de ver uma rã preta e verde!
19 março 2014
malpais-vulcão poás
6 de Março de 2014
O amanhecer morno foi antecipado por rugidos assustadores (ocelotes? jaguares?) que vieram a revelar-se as boas vindas pouco amistosas dos macacos gritadores. Conseguimos convencer o único funcionário (contrariado) da espelunca hoteleira a levar as nossas canecas para a cozinha/oficina/laboratório de alquimia e fazer-nos um café de meia com ovos mexidos numa frigideira arqueológica, preparando-nos para um dia de sossego pelas praias pedregosas do fim do mundo nos mapas da América Central.
Estava na altura de fazer exercício do nosso direito ao descanso e assim foi: adeus botas, olá chinelos e toalhas de praia*. De manhã, na Playa del Carmen aproveitei para tentar fazer um bocadinho de surf (com pouco sucesso, as ondas chegavam aos gigantescos 50 centímetros) enquanto os rapazes construiam casinhas com canas e cocos. À tarde, fomos para uma praia desconhecida um pouco a norte, com uma piscina natural que foi a cereja no topo do bolo do paraíso tropical. A maré subiu depressa, o sol inclemente começava a sentir-se nos ombros e estava na hora de deixar para trás os pelicanos e os cavalos a tomar banho de mar. Jantámos sanduíches de fome e mortadela e deixámos que o amasso de um Pacífico pachorrento nos adormecesse.
De regresso à estrada, viajámos até Paquera onde nos esperava o ferry para a travessia do golfo. Entre fatias de manga verde com sal, postais, pernas de surfistas americanos e crianças costa-riquenhas que rivalizavam com os macacos na produção de decibéis, chegámos à indescutivelmente mais feia cidade de todo nosso roteiro: Puntarenas, geminada com a Charneca da Caparica em charme e construção clandestina. Fugimos depressa até ao restaurante de estrada mais próximo e retomámos a rota rumo às montanhas.
Mais uma agradável surpresa nos esperava no sopé do vulcão Poás, no hotel amoroso escondido entre a estre as colinas, com uma piscina que fez as delícias dos miúdos e um quarto amplo e asseado que foi bem acolhido pelos graúdos. Agarrei-me ao meu livro enquanto os rapazes ensaiavam saltos para a água sob a cascata clorificada e o Luís foi até San Jose para tentar recuperar a tão ansiada mochila. Em vão: chegada ao país, e apesar das nossas indicações explícitas, os senhores da Iberia levaram-na a passear para Monteverde, onde ficou a desfrutar do ar puro da montanha enquanto nós comíamos pó em Malpais. Ainda não sei bem por que artes mágicas a fizeram finalmente chegar até nós, já a meio da noite, muito para o alívio das nossas bocas escovadas com dedos-de-dentes há quase uma semana.
* E adeus toalha de praia do Diogo, que voou do tejadilho lá para os lados de Santa Teresa.
O amanhecer morno foi antecipado por rugidos assustadores (ocelotes? jaguares?) que vieram a revelar-se as boas vindas pouco amistosas dos macacos gritadores. Conseguimos convencer o único funcionário (contrariado) da espelunca hoteleira a levar as nossas canecas para a cozinha/oficina/laboratório de alquimia e fazer-nos um café de meia com ovos mexidos numa frigideira arqueológica, preparando-nos para um dia de sossego pelas praias pedregosas do fim do mundo nos mapas da América Central.
Estava na altura de fazer exercício do nosso direito ao descanso e assim foi: adeus botas, olá chinelos e toalhas de praia*. De manhã, na Playa del Carmen aproveitei para tentar fazer um bocadinho de surf (com pouco sucesso, as ondas chegavam aos gigantescos 50 centímetros) enquanto os rapazes construiam casinhas com canas e cocos. À tarde, fomos para uma praia desconhecida um pouco a norte, com uma piscina natural que foi a cereja no topo do bolo do paraíso tropical. A maré subiu depressa, o sol inclemente começava a sentir-se nos ombros e estava na hora de deixar para trás os pelicanos e os cavalos a tomar banho de mar. Jantámos sanduíches de fome e mortadela e deixámos que o amasso de um Pacífico pachorrento nos adormecesse.
De regresso à estrada, viajámos até Paquera onde nos esperava o ferry para a travessia do golfo. Entre fatias de manga verde com sal, postais, pernas de surfistas americanos e crianças costa-riquenhas que rivalizavam com os macacos na produção de decibéis, chegámos à indescutivelmente mais feia cidade de todo nosso roteiro: Puntarenas, geminada com a Charneca da Caparica em charme e construção clandestina. Fugimos depressa até ao restaurante de estrada mais próximo e retomámos a rota rumo às montanhas.
Mais uma agradável surpresa nos esperava no sopé do vulcão Poás, no hotel amoroso escondido entre a estre as colinas, com uma piscina que fez as delícias dos miúdos e um quarto amplo e asseado que foi bem acolhido pelos graúdos. Agarrei-me ao meu livro enquanto os rapazes ensaiavam saltos para a água sob a cascata clorificada e o Luís foi até San Jose para tentar recuperar a tão ansiada mochila. Em vão: chegada ao país, e apesar das nossas indicações explícitas, os senhores da Iberia levaram-na a passear para Monteverde, onde ficou a desfrutar do ar puro da montanha enquanto nós comíamos pó em Malpais. Ainda não sei bem por que artes mágicas a fizeram finalmente chegar até nós, já a meio da noite, muito para o alívio das nossas bocas escovadas com dedos-de-dentes há quase uma semana.
* E adeus toalha de praia do Diogo, que voou do tejadilho lá para os lados de Santa Teresa.
Preparando-me para enfrentar o swell
O mar é de todos
Pequeno-almoço de fruta com mapas
Travessia do golfo de Nicoya
18 março 2014
monteverde-malpais
4 de Março de 2014
O terceiro dia amanheceu solarengo depois de uma noite mágica com o vento a cantar entre as árvores. Voltámos a subir ao Parque Selvatura onde nos esperavam emoções fortes: a travessia da floresta, desta feita através de slide em 13 passagens de cabo, a maior das quais com 1 quilómetro de comprimento [o que fazer quando ambos os pais têm sede de adrenalina? Começar a dá-la às crianças em doses homeopáticas*]. Não há palavras para descrever a beleza dos voos sobre o manto verde, o silêncio absoluto cortado por uma roldana solitária em que depositamos tudo. E não dá para explicar a surpresa perante a coragem dos nossos rapazinhos, dois nano-seres que se atiraram pelos ares como muitos adultos nunca fariam, o que diz bastante da confiança que os filhos depositam nos pais. É tanto o tempo de vida em que marchamos num plano bidimensional que chegamos a estes instantes de clivagem e inundamos os sentidos de profundidade, cor, energia e abandono, parecendo absurdo limitarmo-nos a uma existência banal.
Cada um de nós tem o seu lugar seguro e bom para onde regressa à noite, ao fechar os olhos. Eu volto agora à imensidão de verde daquela manhã, rematada ainda por uma descida de um trilho com vista para o imenso vulcão Arenal e lago homónimo, e retemperada por um manso almoço Tico: casado e sumo de frutas (descobrimos o tamarindo e a graviola). Depois de um breve descanso no quarto com vista para a divina teia de lianas e fetos gigantes, ainda houve energia para nos perdermos nos trilhos da Reserva Curi Cancha, onde tivemos os primeiros encontros com a fauna local. Vimos agoutis, colibris, muitas borboletas, esquilos e aranhas, exemplares modestos perante a imponência das figueiras gigantes, devoradoras das outras árvores.
Ao quarto dia o nosso pequeno-almoço de gallo pinto, ovos e fruta foi cobiçado por macacos-capuchinho, para grande excitação de todos. Tivemos bastante pena de descer das montanhas em direcção à província de Guanacaste, deixando para trás aquele denso bosque encantado. No longo caminho até ao Pacífico vimos iguanas, uma arara e grandes bandos de gralhas (o que explica o meu à vontade naquelas paragens). O muito esperado almoço aconteceu já em Puerto Carillo, depois de uma banhoca inaugural na praia. As temperaturas passaram finalmente os 30 graus mas o tempo continuou muito seco, fazendo justiça aos 2 meses de "Verão" (i.e., temporada seca) daquelas latitudes. Descendo a costa para sul, descobrimos uma praia maravilhosa e absolutamente deserta, onde demos alguns mergulhos antes de seguir caminho para Malpais. Apesar de, aparentemente, a distância já não ser longa, a verdade é que as estradas terríveis pareciam não ter fim. Tinham-no: e era no meio de rios. A terra batida estreitou-se cada vez mais até caracolearmos por veredas atravessadas por plácidos cursos de água, três dos quais tivemos de passar com o jipe sem grandes certezas acerca da fundura nem da proximidade dos crocodilos. Singelas placas que avisavam "verifique a profundidade antes de atravessar" e "não tome banho: zona de crocodilos" são do melhor que há para o nervoso miudinho (o meu amantíssimo esposo agnóstico não se queixou das minhas sentidas orações nessa altura).
Foi com grande alívio que chegámos ao alojamento em Montezuma, apesar de rapidamente percebermos que a cabana na selva que nos tinha sido destinada tinha tanto de rústico como de sujo e desarrumado. Bom, seguimos as indicações de não nos calçarmos sem verificar a presença de insectos nas botas, besuntámo-nos de repelente, tentámos ignorar as formigas gigantes na sanita e caímos felizes nas camas bamboleantes.
* Exagerámos na dose - disseram que queriam fazer aquilo mais mil vezes.
O terceiro dia amanheceu solarengo depois de uma noite mágica com o vento a cantar entre as árvores. Voltámos a subir ao Parque Selvatura onde nos esperavam emoções fortes: a travessia da floresta, desta feita através de slide em 13 passagens de cabo, a maior das quais com 1 quilómetro de comprimento [o que fazer quando ambos os pais têm sede de adrenalina? Começar a dá-la às crianças em doses homeopáticas*]. Não há palavras para descrever a beleza dos voos sobre o manto verde, o silêncio absoluto cortado por uma roldana solitária em que depositamos tudo. E não dá para explicar a surpresa perante a coragem dos nossos rapazinhos, dois nano-seres que se atiraram pelos ares como muitos adultos nunca fariam, o que diz bastante da confiança que os filhos depositam nos pais. É tanto o tempo de vida em que marchamos num plano bidimensional que chegamos a estes instantes de clivagem e inundamos os sentidos de profundidade, cor, energia e abandono, parecendo absurdo limitarmo-nos a uma existência banal.
Cada um de nós tem o seu lugar seguro e bom para onde regressa à noite, ao fechar os olhos. Eu volto agora à imensidão de verde daquela manhã, rematada ainda por uma descida de um trilho com vista para o imenso vulcão Arenal e lago homónimo, e retemperada por um manso almoço Tico: casado e sumo de frutas (descobrimos o tamarindo e a graviola). Depois de um breve descanso no quarto com vista para a divina teia de lianas e fetos gigantes, ainda houve energia para nos perdermos nos trilhos da Reserva Curi Cancha, onde tivemos os primeiros encontros com a fauna local. Vimos agoutis, colibris, muitas borboletas, esquilos e aranhas, exemplares modestos perante a imponência das figueiras gigantes, devoradoras das outras árvores.
Ao quarto dia o nosso pequeno-almoço de gallo pinto, ovos e fruta foi cobiçado por macacos-capuchinho, para grande excitação de todos. Tivemos bastante pena de descer das montanhas em direcção à província de Guanacaste, deixando para trás aquele denso bosque encantado. No longo caminho até ao Pacífico vimos iguanas, uma arara e grandes bandos de gralhas (o que explica o meu à vontade naquelas paragens). O muito esperado almoço aconteceu já em Puerto Carillo, depois de uma banhoca inaugural na praia. As temperaturas passaram finalmente os 30 graus mas o tempo continuou muito seco, fazendo justiça aos 2 meses de "Verão" (i.e., temporada seca) daquelas latitudes. Descendo a costa para sul, descobrimos uma praia maravilhosa e absolutamente deserta, onde demos alguns mergulhos antes de seguir caminho para Malpais. Apesar de, aparentemente, a distância já não ser longa, a verdade é que as estradas terríveis pareciam não ter fim. Tinham-no: e era no meio de rios. A terra batida estreitou-se cada vez mais até caracolearmos por veredas atravessadas por plácidos cursos de água, três dos quais tivemos de passar com o jipe sem grandes certezas acerca da fundura nem da proximidade dos crocodilos. Singelas placas que avisavam "verifique a profundidade antes de atravessar" e "não tome banho: zona de crocodilos" são do melhor que há para o nervoso miudinho (o meu amantíssimo esposo agnóstico não se queixou das minhas sentidas orações nessa altura).
Foi com grande alívio que chegámos ao alojamento em Montezuma, apesar de rapidamente percebermos que a cabana na selva que nos tinha sido destinada tinha tanto de rústico como de sujo e desarrumado. Bom, seguimos as indicações de não nos calçarmos sem verificar a presença de insectos nas botas, besuntámo-nos de repelente, tentámos ignorar as formigas gigantes na sanita e caímos felizes nas camas bamboleantes.
* Exagerámos na dose - disseram que queriam fazer aquilo mais mil vezes.
Preparativos para o slide
Vulcão e lago Arenal
Colibri em Curi Cancha
Tentativa de pilhagem de refeições alheias
Despedida de um novo amigo
Praia Coyote, Pacífico
Será que dá para passar? Que remédio, não há alternativa
17 março 2014
lisboa-madrid-san jose-monteverde
2 de Março de 2014
Custou acordar às 5h15 mas o entusiasmo era muito. Depois de meses a contar os dias, finalmente tinha chegado o momento de voar para a Costa Rica. A voo até Madrid foi sem sobressaltos só que logo à chegada percebemos que não tinham expedido a mochila do Luís para San Jose. Lá se foi grande parte da roupa, o necessaire e os medicamentos. Seguimos viagem tentando não pensar no assunto, mais de 10 horas a sobrevoar o Atlântico. Os rapazes foram impecáveis e levaram bem a espera, entre desenhos, jogos de cartas e muita conversa.
A chegada também correu bem, apesar da confirmação da ausência da bagagem, e o aluguer do nosso fantástico Jimny fez-se sem complicações. Depois de algumas voltas pelo centro de San Jose, finalmente demos com o nosso simpático e modesto hotel, onde conseguimos o muito ansiado descanso depois de 18 horas de pestana aberta.
A madrugada foi bem prematura devido ao jet lag (agarrei-me ao A Fraction of the Whole desde a 1h da manhã). Tomámos um óptimo pequeno-almoço de fusão centro e norte-americana, feijão com arroz, sandes de manteiga de amendoim e muita fruta, fizemos algumas compras e pusémo-nos a caminho. Deixámos San Jose para trás, uma cidade eclética e moderadamente caótica mas com uma nota simpática, onde me senti segura apesar da confusão do trânsito e dos mercados de rua.
Percorrendo a pan-americana em direcção ao Pacífico, entre as quotas dos 1000 e 2000 metros de altitude, passámos por muitos campos cultivados, de árvores de fruto e cana de açúcar, e muitos rios. Avistando o golfo de Nicoya, virámos a norte em direcção a Monteverde. Seguiram-se 40 quilómetros de estrada tão acidentada que saltávamos nos assentos e tivemos de inaugurar a tracção às 4 rodas. Os rapazes hesitavam entre a excitação e o receio perante as ravinas a perder de vista, vibrando com a progressão do ponteiro do altímetro.
Finalmente chegámos ao paraíso de Monteverde, fiel ao seu nome, e só tivemos tempo para fazer o check-in no hotel e um almoço delicioso antes de apanharmos um autocarro para a entrada no parque da floresta das nuvens. Aí passámos a tarde a passear pelos trilhos sobre a copa das árvores e balançar sobre as longas pontes suspensas. A nossa manifesta incompetência para detectar a fauna local foi largamente compensada pela vegetação majestosa, pelo cheiro denso da floresta e, sobretudo, pela sensação de paz e perfeição absoluta. Não há nada como sentirmo-nos de regresso aos primórdios do planeta, a milhões de quilómetros de todos os problemas do dia-a-dia.
Voltámos a tempo de dar ainda mais um passeio a pé junto ao hotel e assistir à excitação das gralhas perante o pôr do sol no Pacífico, um dos mais bonitos a que já assisti.
Custou acordar às 5h15 mas o entusiasmo era muito. Depois de meses a contar os dias, finalmente tinha chegado o momento de voar para a Costa Rica. A voo até Madrid foi sem sobressaltos só que logo à chegada percebemos que não tinham expedido a mochila do Luís para San Jose. Lá se foi grande parte da roupa, o necessaire e os medicamentos. Seguimos viagem tentando não pensar no assunto, mais de 10 horas a sobrevoar o Atlântico. Os rapazes foram impecáveis e levaram bem a espera, entre desenhos, jogos de cartas e muita conversa.
A chegada também correu bem, apesar da confirmação da ausência da bagagem, e o aluguer do nosso fantástico Jimny fez-se sem complicações. Depois de algumas voltas pelo centro de San Jose, finalmente demos com o nosso simpático e modesto hotel, onde conseguimos o muito ansiado descanso depois de 18 horas de pestana aberta.
A madrugada foi bem prematura devido ao jet lag (agarrei-me ao A Fraction of the Whole desde a 1h da manhã). Tomámos um óptimo pequeno-almoço de fusão centro e norte-americana, feijão com arroz, sandes de manteiga de amendoim e muita fruta, fizemos algumas compras e pusémo-nos a caminho. Deixámos San Jose para trás, uma cidade eclética e moderadamente caótica mas com uma nota simpática, onde me senti segura apesar da confusão do trânsito e dos mercados de rua.
Percorrendo a pan-americana em direcção ao Pacífico, entre as quotas dos 1000 e 2000 metros de altitude, passámos por muitos campos cultivados, de árvores de fruto e cana de açúcar, e muitos rios. Avistando o golfo de Nicoya, virámos a norte em direcção a Monteverde. Seguiram-se 40 quilómetros de estrada tão acidentada que saltávamos nos assentos e tivemos de inaugurar a tracção às 4 rodas. Os rapazes hesitavam entre a excitação e o receio perante as ravinas a perder de vista, vibrando com a progressão do ponteiro do altímetro.
Finalmente chegámos ao paraíso de Monteverde, fiel ao seu nome, e só tivemos tempo para fazer o check-in no hotel e um almoço delicioso antes de apanharmos um autocarro para a entrada no parque da floresta das nuvens. Aí passámos a tarde a passear pelos trilhos sobre a copa das árvores e balançar sobre as longas pontes suspensas. A nossa manifesta incompetência para detectar a fauna local foi largamente compensada pela vegetação majestosa, pelo cheiro denso da floresta e, sobretudo, pela sensação de paz e perfeição absoluta. Não há nada como sentirmo-nos de regresso aos primórdios do planeta, a milhões de quilómetros de todos os problemas do dia-a-dia.
Voltámos a tempo de dar ainda mais um passeio a pé junto ao hotel e assistir à excitação das gralhas perante o pôr do sol no Pacífico, um dos mais bonitos a que já assisti.
Talho em San Jose
O nosso fiel todo-o-terreno
Varanda do hotel em Monteverde, onde os macacos-capuchinho vinham pedir fruta de manhã
Ponte suspensa na floresta das nuvens
A 2 mil metros de altitude, vista sobre o golfo de Nicoya (Pacífico)
querido diário, aguenta aí só um bocadinho
Parece que ganhou a versão diário (desculpem, esqueci-me de avisar que ainda escrevo no mesmo registo dos meus 8 anos, quando confessava vários amores eternos pela fileira de rapazes que me arrebataram o coração desde essa altura). Assim que reúna as forças que se me esvaíram ontem entre a meia-maratona e a festa de aniversário do Gugas, cumpro o prometido.
14 março 2014
entretanto, coisas que aprendi
Sobre os meus filhos: que são feitos daquela matéria-prima resistente, inquisitiva, boa onda, audaz e generosa que nos enche o coração de um misto de humildade e orgulho.
Sobre a nossa família: que gostamos mesmo uns dos outros e prosperamos alegremente em ambientes desconhecidos, no calor húmido, desde a densa floresta de altitude até aos mangais infestados de caimões.
Sobre mim: que tenho de arranjar maneira de conseguir uma vida com menos stress e com mais natureza. Começarei por explorar trilhos em Portugal, que também os há em abundância. Nada me faz mais feliz do que enfiar-me numa floresta e andar, andar, andar. Sobretudo se estiver com os meus amores.
As votações encerram no dia 16 às 23:59. Porquê? Sei lá, foi uma decisão arbitrária - o efeito peace and love já se dissipou quase todo.
Sobre a nossa família: que gostamos mesmo uns dos outros e prosperamos alegremente em ambientes desconhecidos, no calor húmido, desde a densa floresta de altitude até aos mangais infestados de caimões.
Sobre mim: que tenho de arranjar maneira de conseguir uma vida com menos stress e com mais natureza. Começarei por explorar trilhos em Portugal, que também os há em abundância. Nada me faz mais feliz do que enfiar-me numa floresta e andar, andar, andar. Sobretudo se estiver com os meus amores.
As votações encerram no dia 16 às 23:59. Porquê? Sei lá, foi uma decisão arbitrária - o efeito peace and love já se dissipou quase todo.
13 março 2014
a ressaca
De regresso, engolindo as lágrimas e tentando consolar-me com o sol que finalmente resolveu aparecer por cá. Foi a viagem da minha vida e correu tudo maravilhosamente. Vou lançar um crowdfunding para me financiar a emigração para a Costa Rica assim que encontre um bom argumento para convencer o público de que a minha mudança para lá lhe traz algum tipo de vantagem.
Agora levanta-se a questão: devo escrever aqui sobre os últimos 10 dias? Imbuída do espírito livre e puro que me ficou a circular nas veias, deixo ao vosso critério as seguintes opções (a que tiver mais votos, ganha; em caso de empate, faço as duas alternativas):
a) Não escrevas. Ninguém aguenta ouvir falar das viagens dos outros e ser obrigado a ver fotografias de férias alheias é pior que arrancar um siso (eu voto nesta);
b) Escreve, mas assim num tom levezinho e positivo, com uma foto com os pés na areia e a dar a impressão que, na tua vida, os astros estão mais alinhados do que os chakras de um mestre yogi;
c) Escreve, mas assim num tom irónico e auto-depreciativo, para parecer que a tua vida tem tanto cocó como a nossa (e tem, depois daquela fruta toda) e que nem tudo corre como imaginamos (pois não, às vezes corre melhor ainda) ;
d) Transcreve o teu diário porque queremos mesmo saber o que sentiste e é sempre bom ter uma desculpa para fazer gazeta ao trabalho.
É favor votar (pontos a dobrar para quem fizer menção ao meu Gugas que fez ontem 7 anos e hoje deve andar a cambalear pela escola, com o jetlag).
Agora levanta-se a questão: devo escrever aqui sobre os últimos 10 dias? Imbuída do espírito livre e puro que me ficou a circular nas veias, deixo ao vosso critério as seguintes opções (a que tiver mais votos, ganha; em caso de empate, faço as duas alternativas):
a) Não escrevas. Ninguém aguenta ouvir falar das viagens dos outros e ser obrigado a ver fotografias de férias alheias é pior que arrancar um siso (eu voto nesta);
b) Escreve, mas assim num tom levezinho e positivo, com uma foto com os pés na areia e a dar a impressão que, na tua vida, os astros estão mais alinhados do que os chakras de um mestre yogi;
c) Escreve, mas assim num tom irónico e auto-depreciativo, para parecer que a tua vida tem tanto cocó como a nossa (e tem, depois daquela fruta toda) e que nem tudo corre como imaginamos (pois não, às vezes corre melhor ainda) ;
d) Transcreve o teu diário porque queremos mesmo saber o que sentiste e é sempre bom ter uma desculpa para fazer gazeta ao trabalho.
É favor votar (pontos a dobrar para quem fizer menção ao meu Gugas que fez ontem 7 anos e hoje deve andar a cambalear pela escola, com o jetlag).
02 março 2014
isto não são bem umas férias
No outro dia respondi a um comentário da dona da mota, meio a brincar, meio a sério, que esta viagem (por estas horas já iniciada, se Deus quiser) não se trata de férias mas, sim, de uma visita de estudo. É que, se fossemos de férias, íamos para algum lado horizontalizar, ler, comer e respirar o estritamente necessário. De preferência, sem filhos – toda a gente sabe que essas criaturas são a foice para o descanso estival dos seus desgraçados progenitores, que tanto trabalham o ano inteiro. Acontece que nós somos claramente masoquistas e achámos que isso das férias é para os fracos. Nós queremos mais (trabalho, obviamente). Queremos sair da vida de todos os dias e atirar-nos às cegas para um bocado do mundo mais selvagem e imprevisível. Queremos desinstalar-nos e ver coisas estupidamente bonitas. Queremos virar as prioridades de pernas para o ar e sentir o pulsar da Terra nas encostas de um vulcão. Na floresta tropical. E, sim, em praias paradisíacas. Queremos fazer de conta que somos de lá e, acima de tudo, desejamos que os nossos rapazes vejam que a vida é uma coisa enorme, insondável, em aberto. Que eles cultivem a sede do desconhecido*. De modo que o mais certo é voltarmos exaustos e abananados – mas não é esse o efeito de todas as coisas realmente boas?
*Felizmente, a grande professora do Gugas apoia a nossa política de que a educação não é só feita na sala de aula e nem pestanejou quando lhe disse que ele ia faltar tantos dias. Mas isso fica para um próximo post.
*Felizmente, a grande professora do Gugas apoia a nossa política de que a educação não é só feita na sala de aula e nem pestanejou quando lhe disse que ele ia faltar tantos dias. Mas isso fica para um próximo post.
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