2014 foi um gigante ponto de exclamação. Descobri muitas coisas bonitas e dei-me ao desfrute sem desculpas. Estive em sítios maravilhosos, consumi livros deliciosos, comecei a correr nos trilhos (pausa para suspiro de enamoramento), mimei e fui mimada pelos meus amores. Às vezes também :( e tive de abdicar de coisas importantes. Ainda assim, olhando para trás, foi um ano memorável e pelo qual me sinto muito grata.
Como já vem sendo hábito, para recordação futura, deixo o melhor dos meus últimos doze meses:
Melhor refeição: almoço no Fragoletta, em Mântua, a 30 de Agosto.
Melhor mergulho no mar: ao fim da tarde na Playa Blanca, Cahuíta, a 9 de Março.
Melhor gargalhada: A dos meus filhos, quando lhes contei a anedota do Cão Chamado Pilinhas. Sucessivas vezes.
Melhor livro: Infinite Jest, do David Foster Wallace. Apesar de ainda não ter terminado. E não recomendo a ninguém, é uma violência.
Melhor filme: Grand Budapest Hotel, do Wes Anderson.
Melhor música: The Mute, dos Radical Face (ou do Radical Face, que aquilo é só um senhor a fazer a festa). Ah, e o guilty pleasure tropicaliente: Darte un beso, do Prince Royce)
Melhor série: Transparent, da Jill Soloway.
Melhor momento: sobrevoaaaaaaaaaar a floresta de Monteverde de slide, a 4 de Março. Aliás, todos os momentos que passei na floresta, tropical ou temperada. Primeira resolução de 2015 – fazer de conta que sou um duende e mudar-me para dentro de um figueirão estrangulador.
Meus queridos, desejo-vos um próximo ano carregado de boas surpresas. E de ar fresco. E de prazeres multisensoriais. Se pudesse, dava-vos a todos un beso, que yo soy muito beijoqueira. Para mim vai ser um ano de mudança: certamente de casa, possivelmente de emprego e talvez até de país. Por isso, não percam os próximos episódios porque nós também não!
31 dezembro 2014
30 dezembro 2014
usar malhas de má qualidade dá nisto
A musica é mais ou menos. Não que alguém siga estes links. Menos eu, que sou uma pessoa de ouvido humilde, sempre disposta a acolher as vossas recomendações.
29 dezembro 2014
sagrada família
O problema não está na extinção da norma da família nuclear. A família sempre foi um organismo resistente e adaptável, lá vai arranjando configurações novas entre as várias gerações e ramos sob o mesmo tecto até às assoalhadas praticamente vazias, em que os laços se fazem mais de tempos do que de espaços partilhados. O problema nem está apenas na crescente institucionalização das franjas mais dependentes da família, caído em desuso que está o papel de cuidador(a) exclusivo(a). E também não podemos culpar a invasão das novas tecnologias à mesa, nas viagens, nas breves horas que passamos juntos, acordados. A dessacralização da família resulta de todas estas coisas mas sobretudo do abandono, mais ou menos consciente, da família como prioridade. Deixamos de regar essa planta porque a sua existência é amorfa e discreta, como é próprio das plantas. Não vale a pena cultivar a intimidade em pessoa se essa se encontra nas redes sociais. O que nos dá a família em troca de sacrifícios como o almoço semanal com os sogros? Aparentemente, muito pouco. A menos que acreditemos que, como uma planta, a família trabalha durante o nosso sono para fornecer oxigénio ao que nos estrutura como seres humanos. À forma como crescemos, ao que somos em adultos, ao que queremos transmitir às próximas gerações numa soma de afectos em que o todo é mais do que a soma das partes. Se calhar, aí está boa parte do segredo do triunfo da humanidade.
26 dezembro 2014
24 dezembro 2014
sermos presépio
Ouvido na missa do último Domingo de Advento: temos de fazer-nos presépio. Isso envolve que cada um contribua com o que tem de único para acolher Deus que vem ter connosco. Não sei se é o Deus Criador da tradição judaico-cristã, se é o Bem encarnado em cada um de nós, com as nossas limitações. Se calhar é só uma esperança pequenina. Uma luz. Mas queria dizer-vos, a quem passa por aqui e vai comentando, que me acarinha, cada um de seu modo: obrigada. Vocês fazem um bocadinho de presépio também para mim. Tenham um Feliz Natal.
23 dezembro 2014
qual a mais longa palavra inglesa só com consoantes?
Já não saia à noite desde que o estatuto de Plutão era uma questão pacífica. É estanho andar pelas ruas a divertir-me, no meio da escuridão, e a seguir ir dormir - em vez de ser ao contrário. Noutros tempos, pagavam-nos bebidas para sermos giras e dançarmos. Ontem pagaram-nos as bebidas porque ganhámos o quiz. Cheguei na mesma a casa com o cabelo a cheirar a cinzeiro, andando nas pontas dos pés para não acordar os filhos, em vez dos pais. Já dizia a Cyndi que as meninas só querem é brincadeira. Sobretudo, gostei muito de estar à conversa com a Inesa e abrirmos o curral a todos os inconfessáveis que não costumamos sujeitar à permanência inclemente das redes sociais. Espero que da próxima vez o nosso cabelo não tenha crescido assim tanto.
Ah, é rhythms. Esta era fácil.
Ah, é rhythms. Esta era fácil.
22 dezembro 2014
o meu passeio de bicicleta
Fui andar de bicicleta. Andar de bicicleta é muito divertido. Não tenho nenhuma mas a minha mãe é simpática e empresta-me a dela. Quando está muito frio as mãos demoram oito quilómetros a descongelar. Se a minha mãe tivesse luvas que eu pudesse pedir emprestadas era capaz de não ser tão mau para as mãos. Os pés não chegam a descongelar. Os joelhos também não mas isso é bom, despacha-se a crioterapia. Andar de bicicleta é bonito porque nas partes em que a ciclovia não tem pinázios, nem outros ciclistas, nem árvores, nem paragens de autocarro, nem garrafas de Super-Bock, nem cocós de cão (espero que de cão), posso ir a olhar para a vista. Estou a ficar muito boa a andar de bicicleta e já só houve uma vez em que travei e vi estrelas ao bater com o entrepernas no quadro. Consegui largar uma mão do guiador e tirar uma fotografia muito depressa. Porque estava parada nessa altura, claro. Andar de bicicleta é muito emocionante nas partes em que vou na estrada e vem um autocarro e o senhor condutor do autocarro fica indeciso se me dá espaço ou não, e depois decide que sim. Fico muito contente e vou o resto do caminho a cantar o Gloria In Excelsis Deo.
20 dezembro 2014
manias
Podia ter-me dado para estender a roupa só com molas da mesma cor mas deu-me para o verdadismo. Tentar dizer sempre a verdade, em vez de conceder pequenas mentiras, evitando arranjar desculpas, é um luxo do qual tento não abdicar. A quem alega que isso é impossível em certas circunstâncias respondo que há uma terceira via: o silêncio. É por isso que às vezes me calo, desapareço. O meu mutismo pode ser estranho mas é preferível a certas verdades. Dá direito a muitas interpretações erradas, sim, e estou disposta a pagar esse preço. Tem ainda o efeito secundário desagradabilíssimo de me fazer passar por misteriosa. Ser misteriosa é quase tão mau como ser mentirosa. Faz-me sempre lembrar aquele personagem do Brad Pitt no Burn After Reading, o que me dá, ao mesmo tempo, vontade de apalpar os meus próprios glúteos e de gozar com a minha imbecilidade. É a vida. Ser adulto é isto: fazer escolhas difíceis. Pelo menos foi o que tentei explicar ao meu filho de 4 anos, que não conseguia decidir se ficava em casa comigo ou se ia ao parque de diversões com os avós. Ele acreditou em mim, claro, porque sabe que eu lhe digo sempre a verdade.
19 dezembro 2014
por exemplo, aquelas pessoas que só nos mandam emails cujo assunto começa por Fwd:Fw:Fw
Em situações de desconforto, a minha mãe tende a sorrir muito e a sobre-elogiar as pessoas cuja conduta social é, na sua opinião, deficitária. Tenho de morder a bochecha para não me desmanchar nessas alturas. Se for em casamentos, aniversários, funerais, a coisa piora. Não sou menos snob, claro. Incomoda-me de igual modo o arroto triunfal de quem acabou de sorver a sopa. Mas mais aflitiva do que toda a falta de educação de raiz é a incapacidade que alguns revelam de aprender a convivialidade no tempo e no espaço em que se movem. Quase me fazem perder a compostura.
18 dezembro 2014
possivelmente o meu único post de 2014 alusivo a esta quadra
17 dezembro 2014
de perna aberta
Existem poucas situações mais expostas do que aquela em que assentamos os pés nos estribos enquanto nos alumiam as caves com uma lanterna. Habituamo-nos, claro. A minha médica é profissional da velha guarda e até me trata as profundezas com, posso dizê-lo?, a ternura de quem já me conhece a anatomia de gingeira. Este carinho desprendido com que me palpa o útero pelo avesso contrasta, no entanto, com o olhar de viés da enfermeira. Há qualquer coisa de comum, intercontinental, nas enfermeiras que já me cobriram as riquezas ocultas com lençóis descartáveis. É uma espécie de mau-estar que se parece muito com ressentimento. Mas o que pode ter a minha pomba gloriosa que tanto as ofenda? O que há de hostil na minha orquídea selvagem para merecer um tratamento tão gélido? Não consigo adivinhar. Talvez seja só mania de perseguição. Talvez sejam elas que preferiam passar o dia a contemplar à distância outro tipo de orifícios mas as vagas de assistente de estomatologia já estavam todas preenchidas.
16 dezembro 2014
documentangário
Ainda não me passou completamente a irritação com que fiquei depois de ver um suposto documentário. Não vos conto qual porque me caem em cima, que toda a gente sabia que aquilo era treta e eu é que sou totó. Ora bem, esclareço que comecei a vê-lo a meio, com ampla companhia, e ninguém deu pela trapaça até bem perto do fim. Aliás, tivemos de ir pesquisar a coisa para comprovar que não era real.
Então onde é que começou a desconfiança? Na observação da minha prima bióloga de que havia ali falhas na descrição de características daquela superordem? No espanto do meu irmão gestor perante a lentidão da indústria cinematográfica em capitalizar aquela história? No silêncio do meu marido físico, que estava demasiado absorto nas piadolas do 9gag para reparar no nosso aparvoamento? Não, senhores. Foi esta socióloga que bradou o j’accuse quando começou a reparar que os participantes, vulgares cidadãos reunidos pela crueldade cega do acaso, eram todos bonitos, jovens, convenientemente sorridentes e cumprindo na perfeição os estereótipos associados aos respectivos papeis. É que a vida real tem pessoas velhas, feias, desengonçadas e com falta de dentes, senhores produtores da tanga. E por muito que andemos todos de smartphone a apontar para as nossas próprias fuças, a telegenia é uma cena que não toca a todos.
Então onde é que começou a desconfiança? Na observação da minha prima bióloga de que havia ali falhas na descrição de características daquela superordem? No espanto do meu irmão gestor perante a lentidão da indústria cinematográfica em capitalizar aquela história? No silêncio do meu marido físico, que estava demasiado absorto nas piadolas do 9gag para reparar no nosso aparvoamento? Não, senhores. Foi esta socióloga que bradou o j’accuse quando começou a reparar que os participantes, vulgares cidadãos reunidos pela crueldade cega do acaso, eram todos bonitos, jovens, convenientemente sorridentes e cumprindo na perfeição os estereótipos associados aos respectivos papeis. É que a vida real tem pessoas velhas, feias, desengonçadas e com falta de dentes, senhores produtores da tanga. E por muito que andemos todos de smartphone a apontar para as nossas próprias fuças, a telegenia é uma cena que não toca a todos.
15 dezembro 2014
post mortem
O atrito do carvão sobre o papel de gramagem generosa dá-me muito do que encontro na corrida. Descentra-me. Exige empenho. Equilibra-me os humores.
Mas é muito diferente noutras coisas. Efectivamente, estou parada. A suspensão do habitual corrupio obriga a olhar lá bem para a frente, para o fim de tudo. Quando o silêncio da pausa é absoluto, desarrumam-se as ideias. O vazio é gigante e o medo do nada, o medo do nada é maior ainda.
11 dezembro 2014
errado de tantas maneiras diferentes
Sendo uma delas, nada desprezável, a extrema piroseira dos produtos supostamente promovidos neste reclame. Alguém me diga que isto é uma brincadeira, por favor.
10 dezembro 2014
conjugar mulherengo no feminino
É observável, ainda que lenta, a transição da sociedade ocidental para um ponto em que vai havendo maior igualdade de género. Não me proponho adivinhar configurações futuras, nem sequer se se trata de um percurso finito (arriscando: não), mas sinto-me tentada a prever diferenças importantes entre o que é, hoje, ser mulher e o que será no tempo das minhas – geniais, lindas, criativas e espectaculares – netas.
Haverá maior igualdade na abordagem aos relacionamentos amorosos e à relação sexual em si, por exemplo? Até que ponto as diferenças incontornavelmente biológicas colocam limites a que homens e mulheres se comportem de forma semelhante no engate, no namoro, na traição? Não faço ideia. Mas é engraçado chegar a este quesito depois de ler uma série de livros, das mais diversas épocas e géneros*, em que os homens que papam muitas babes são heróis incontestados, ao passo que as mulheres mais homenzengas não deixam de ser umas _______**
* E se as coisas mudarem mesmo muito, deixarão os clássicos da literatura de ser clássicos? Ou continuam a ser clássicos mas o que era tragédia passa a sátira? E os contos de fadas, estão condenados à extinção, no seguimento da adulteração completa a que assistimos hoje?
** A preencher com termo brasileiro que rima, caso não seja óbvio. Às vezes acho que tudo o que escrevo é óbvio mas isso pode ser só dentro da minha cabecinha desocupada.
* E se as coisas mudarem mesmo muito, deixarão os clássicos da literatura de ser clássicos? Ou continuam a ser clássicos mas o que era tragédia passa a sátira? E os contos de fadas, estão condenados à extinção, no seguimento da adulteração completa a que assistimos hoje?
** A preencher com termo brasileiro que rima, caso não seja óbvio. Às vezes acho que tudo o que escrevo é óbvio mas isso pode ser só dentro da minha cabecinha desocupada.
09 dezembro 2014
tanto faz
Não sei quanto tempo demoram as outras a chegar a esta conclusão. Eu demorei sete anos, oito meses e mais uns dias. E foi com cábulas. Se fizermos as coisas à balda, é porque somos indiferentes. Se formos cuidadosas, é porque não damos liberdade. Se temos outras vidas além da maternidade, somos ausentes. Se os incluímos em tudo, perdemos a individualidade, desumanizamo-nos. E no fim tanto faz. Eles vão achar que foi de menos ou que foi demais. Vão, acima de tudo, sentir a urgência de não replicar os nossos erros e as nossas falhas. Sobretudo aquelas que são o produto das nossas melhores intenções.
08 dezembro 2014
também é um bocado assim, isto dos blogues
"Good old traditional audio-only phone conversations allowed you to presume that the person on the other end was paying complete attention to you while also permitting you not to have to pay anything even close to complete attention to her. (...) And yet even as you were dividing your attention between the phone call and all sorts of other idle little fuguelike activities, you were somehow never haunted by the suspicion that the person on the other end's attention might be similarly divided."
David Foster Wallace, Infinite Jest
Quantas pessoas temos na vida que estão do outro lado, de facto, a escutar-nos? E nós, prestamos atenção a quem?
David Foster Wallace, Infinite Jest
Quantas pessoas temos na vida que estão do outro lado, de facto, a escutar-nos? E nós, prestamos atenção a quem?
04 dezembro 2014
conformismo 1 - feminismo 0
Isto é tudo muito bonito mas quando há um filho ranhoso que não quer levar o pacote de lenços da Minnie para a escola porque as meninas - reparem, as meninas! - gozam, é claro que a mãe esvazia os lenços da Minnie para dentro do pacote vazio do Donald. O discurso do não há coisas de menina e de rapaz até já está interiorizado mas é preciso saber escolher as batalhas.
03 dezembro 2014
entretanto comprei lápis e um caderno
É curioso reparar que, desta perspectiva, o sinal de estacionamento aponta para a entrada da igreja. Às vezes faz mesmo falta parar.
01 dezembro 2014
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