o ouriço despenteado

Tal como em todas as manhãs, o ouriço acordou com os primeiros raios de sol e preparou-se para mais um dia. Quando se viu ao espelho, ficou desanimado porque, mais uma vez, estava todo despenteado. Os espinhos estavam espetados, cada um para seu lado, e não havia volta a dar-lhe. Tentava ajeitar-se com uns ramos, alisar a cabeleira com umas folhas de castanheiro, mas nada...
Saiu de casa e passou pelo texugo, reparando na sua bela pelagem preta e branca, com listas perfeitamente simétricas, e ficou a matutar como seria aquilo possível. Depois, passou pela gralha, de penas cinzentas-pretas-azuladas, bem lustrosas e aprumadas. Caminhou mais um pouco e viu uma raposa, vaidosa do seu pêlo avermelhado, denso e macio. Cada um destes animais, por quem o ouriço passava, sorria e o pobre bicharoco não podia deixar de sentir que deviam estar a fazer pouco dos seus espinhos despentados. Indo nestes pensamentos, nem reparou numa ravina que estava mesmo à beirinha: tropeçou, fez-se uma bola espetada e rebolou por ali abaixo. Para cúmulo dos azares, aterrou junto ao covil de uma cobra malvada que, quando o viu, deu-lhe logo uma dentada. Depressa a cobra se arrependeu porque os espinhos ficaram espetados na sua grande boca escancarada. Ouriços é que nunca mais iria tentar comer!
Mal refeito de tanta emoção, o ouriço levantou-se e tentou perceber o que tinha acontecido. Afinal, os espinhos serviam para alguma coisa! A partir daquele dia, saía orgulhoso de casa com o seu invulgar penteado. Invulgar até então, porque logo os outros animais começaram a adoptar aquele estilo. E foi assim que o ar despenteado virou moda na floresta.

copyright da gralha, 2007

E vocês, que estórias contam aos vossos filhos?