17 dezembro 2014

de perna aberta

Existem poucas situações mais expostas do que aquela em que assentamos os pés nos estribos enquanto nos alumiam as caves com uma lanterna. Habituamo-nos, claro. A minha médica é profissional da velha guarda e até me trata as profundezas com, posso dizê-lo?, a ternura de quem já me conhece a anatomia de gingeira. Este carinho desprendido com que me palpa o útero pelo avesso contrasta, no entanto, com o olhar de viés da enfermeira. Há qualquer coisa de comum, intercontinental, nas enfermeiras que já me cobriram as riquezas ocultas com lençóis descartáveis. É uma espécie de mau-estar que se parece muito com ressentimento. Mas o que pode ter a minha pomba gloriosa que tanto as ofenda? O que há de hostil na minha orquídea selvagem para merecer um tratamento tão gélido? Não consigo adivinhar. Talvez seja só mania de perseguição. Talvez sejam elas que preferiam passar o dia a contemplar à distância outro tipo de orifícios mas as vagas de assistente de estomatologia já estavam todas preenchidas.

17 comentários:

Melissa disse...

HAHAHAHAHAHAHA!!!

Melissa disse...

Isto é basicamente o limite da minha maturidade.

gralha disse...

A minha imaturidade não tem limites, graças a Deus :D

Ana. disse...

Ahahahaah! Muito bom!! Amo as metáforas, a-m-o!!!!
As caves!! ahahahaahah!

gralha disse...

"As caves", médica dixit, Anamê. Palavra de honra.

Ana. disse...

Ahaha! Melhor ainda!!
A minha só me diz que tenho um útero lindo! à volta está tudo lixado, mas o interior do útero é liiiindo!!
Os gine são uma classe à parte, não?!!

gralha disse...

Haja quem respeite as nossas preciosidades sem ser só por gulodice :)

Mas as enfermeiras, pá. Há ali alguma coisa mal resolvida. Parecem polícias de trânsito em operações stop.

Amigo Imaginário disse...

É pá, é que é tal e qual isso! Nem imaginas a minha alegria quando descobri que aqui os médicos trabalham a solo!

Ana disse...

Houve uma altura em que tinha de ir várias vezes por semana. Tornou-se tão automático que as enfermeiras davam-me o avental, eu punha-o o de lado, atirava-me para cima da maca e dizia: "não vale a pena, vamos a isto". Elas nem tinham tempo de ficar aborrecidas. Talvez fosse do choque :)

gralha disse...

Amigo Imaginário, e como se defendem dos processos judiciais? Estou a ver aí um nicho de mercado: ir para a Bélgica acusar médicos não acompanhados de assédio (meu Deus, isto é o que acontece quando passamos demasiado tempo nos EUA).

gralha disse...

Mãe Sabichona, agora começo a achar que o problema está mesmo na minha fonte de júbilo! As tuas enfermeiras não te rosnam baixinho, mesmo nas consultas que duram 15 segundos??

Amigo Imaginário disse...

Juro que já tive o meu ginecologista com a mão pousada em cima da minha perna (aberta, claro está) a dissertar sobre as maravilhas da cozinha portuguesa durante largos minutos. E olha que o homem babava mesmo. Mas acho que dificilmente o poderia acusar de assédio... ;)

gralha disse...

Amigo Imaginário, cozinha portuguesa + mãozinha na perna? Hello?? Olha aí a oportunidade de comprares a quinta com centro hípico, oficina de reciclagem de materiais diversos, biblioteca, sala insonorizada para os miúdos praticarem os instrumentos, o céu é o limite!

Amigo Imaginário disse...

Estás doida?! É o médico mais giraço que já vi. E o mais doce... o que é uma vantagem quando te andam a explorar minuciosamente os interiores. Deixa lá o assédio, fico-me pela qualidade dos serviços prestados.

Ana disse...

Nas consultas de rotina é sempre só a médica. Quando andava em tratamentos é que havia sempre enfermeiras e talvez pela circunstância, era habitual fazerem um sorriso terno (ou amarelo não sei), mas era um sorriso :)

calita disse...

Que maravilha de post. Eu sou muito sensível a qualquer referência às assistentes de estomatologia, visto ter ocupado esse cargo, em part-time, enquanto estudante de jornalimo. No entanto, o post é fabuloso mesmo sem essa referência.

gralha disse...

Temos de ouvir uns episódios dessa época, calita. De certeza que a confidencialidade dos pacientes já expirou entretanto.