18 julho 2025

Pôr o pé em ramo verde

Como praticante de corrida nos trilhos, esta expressão tem um sentido bastante literal para mim. Ponho montes de vezes o pé em ramo verde, o que desaconselho. Os ramos - verdes ou maduros - costumam ser bastante escorregadios, sobretudo quando choveu ou está aquela humidade de madrugada, tão portuguesa. O mesmo se passa com a pedra. É de evitar. Aqui tenho de fazer distinção entre vários tipos de rocha. Dos meus estudos de geologia com os pés, posso dizer-vos que o xisto é um escorrega, o calcário, depende, o arenito é tranquilo, e o granito costuma ser gerível, sobretudo quando coberto de líquenes. Adoro líquenes. Onde é mesmo, mesmo bom correr é sobre a caruma de um trilho cheiroso de Verão, por entre a sombra das árvores, sem demasiadas raízes nem silvas que cresceram de forma descontrolada. Maravilhoso é o percurso que sobe ligeiramente a encosta de uma montanha e onde vamos acompanhando a mudança da paisagem, até para lá da linha das árvores, rodeado do dorso azul das cordilheiras em volta. Se é para continuar a sonhar, com neve no topo e um lago lá em baixo. Gostava de conseguir transmitir a sensação de transe de passar horas sem fim a pôr um pé à frente do outro, uma atividade absolutamente inútil, dançar com a maior leveza do mundo, tudo nosso, mas acho que é preciso experimentá-la. Experimentem.

As minhas companheiras do Largo dizem outras coisas sobre pés em ramos verdes, aqui:

Apanhada na curva

A Gata Christie

Boas intenções

Dois dedos de conversa

O blogue azul-turquesa

Panados e arroz de tomate

Quinta da Cruz da Pedra

11 julho 2025

Terapia

Lembro-me que, quando fiz terapia, fiquei um pouco desiludida por não poder culpar a infância de todas as minhas angústias. É isso que nos vendem e, ainda assim, há tanto mais. Antes de escrever este texto, fui consultar as notas que tomava à saída do gabinete da Rua do Ouro. Agora, não percebo quase nada dos tópicos que sublinhei, mal reconheço os dilemas e as epifanias. No entanto, essas sessões foram fundamentais naquela altura da vida. A terapia é como estar no alto de uma montanha a gritar, só que o eco que nos é devolvido não é uma repetição, são perguntas. Talvez as respostas que encontramos sejam as que fazem sentido naquele momento em particular. Talvez boa parte do alívio venha do próprio ato de transformar emoções em palavras partilhadas. Não nos livramos das emoções mas puxamos o fio do novelo, desarrumamos tudo, com jeito e umas agulhas, sai dali um casaco de malha.

Todas as pessoas mentalmente sãs que conheço beneficiaram de terapia, quando encontraram o terapeuta certo. Gostava de dizer que o mesmo se aplica às pessoas doentes. Mas a verdade é que algumas pessoas (já) não têm força nem para trepar a esse penedo. Aquilo que me levaria agora de novo à terapia é a impotência esmagadora de ter pessoas assim à minha volta e não poder ajudá-las. Se calhar fazia-me bem marcar uma consulta.

Noutros divãs:

Apanhada na curva

A Gata Christie

Boas intenções

Dois dedos de conversa

O blogue azul-turquesa

Panados e arroz de tomate

Quinta da Cruz da Pedra

04 julho 2025

Salvação

Não sei se isto também vos acontece. Tenho muito mais fé na salvação daquilo que é meu do que no que é dos outros. No meu SCOBY, que este ano ainda não produziu uma kombucha decente, se for honesta, mas não desisti dele. Na propagação da begónia que apanhou calor a mais e é claro que não vai vingar (stop watering dead plants!). No meu primeiro casamento. No vestido que tingi 3 vezes mas não vai deixar de ser alaranjado. Nos bolos que ficaram demasiado tempo no forno. Na minha relação com uma colega de trabalho. No Futebol Clube do Porto com o plantel atual. Enquanto há vida, há esperança. Na verdade, até para a morte há salvação, para quem acredita.