Lembro-me que, quando fiz terapia, fiquei um pouco desiludida por não poder culpar a infância de todas as minhas angústias. É isso que nos vendem e, ainda assim, há tanto mais. Antes de escrever este texto, fui consultar as notas que tomava à saída do gabinete da Rua do Ouro. Agora, não percebo quase nada dos tópicos que sublinhei, mal reconheço os dilemas e as epifanias. No entanto, essas sessões foram fundamentais naquela altura da vida. A terapia é como estar no alto de uma montanha a gritar, só que o eco que nos é devolvido não é uma repetição, são perguntas. Talvez as respostas que encontramos sejam as que fazem sentido naquele momento em particular. Talvez boa parte do alívio venha do próprio ato de transformar emoções em palavras partilhadas. Não nos livramos das emoções mas puxamos o fio do novelo, desarrumamos tudo, com jeito e umas agulhas, sai dali um casaco de malha.
Todas as pessoas mentalmente sãs que conheço beneficiaram de terapia, quando encontraram o terapeuta certo. Gostava de dizer que o mesmo se aplica às pessoas doentes. Mas a verdade é que algumas pessoas (já) não têm força nem para trepar a esse penedo. Aquilo que me levaria agora de novo à terapia é a impotência esmagadora de ter pessoas assim à minha volta e não poder ajudá-las. Se calhar fazia-me bem marcar uma consulta.
Noutros divãs:
Apanhada na curva
A Gata Christie
Boas intenções
Dois dedos de conversa
O blogue azul-turquesa
Panados e arroz de tomate
Quinta da Cruz da Pedra
Sem comentários:
Enviar um comentário