Era uma mulher feita e completa. Inteiramente mulher, composta, direita. Com agenda e lembretes, notas – muitas–, prioridades e estrutura. Vivia as semanas em agitação controlada e arrancava as folhas do calendário como quem cumpria desígnios elevadíssimos. Vivia, em suma.
Tinha tempo para tudo, até para a possibilidade do amor que, como a gente sabe, só aparece quando menos se espera. Essa era a parte mais fácil: não esperava por nada. A parte mais difícil era a incerteza da hora a que haveria de chegar esse inesperado amor. Quais os seus contornos? Qual a graça do nome que passaria a ser o Nome. O rosto. A primeira entrada nas chamadas atendidas e efectuadas.
Até que o dia chegou, quase inesperadamente. Pelo menos se não contarmos a abordagem intencional no meio promissor, as palavras de uma espontaneidade planeada ao detalhe, e a indisfarçável excitação nos primeiros contactos. Feita a selecção tão natural quanto possível dos finalistas, a mulher deixou-se estar. Beliscou o aperitivo das conversas, resistiu à passagem do prato, e guardou-se para sobremesa. Toda a gente sabe que a iguaria mais sublime não se serve escarrapachada no centro da mesa, reserva-se para os convidados especiais. A mulher só não contava era com o enfartamento dos convivas diante de tanta variedade e fartura. Pêssego sumarento, passou ela fome, despercebida e intocada.
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