À roda de uma mesa comprida, 13 quase desconhecidos encavalitados em cadeiras desirmanadas. Os cotovelos hesitantes sobre as toalhas de papel, olhares como insectos nervosos à procura de um sítio seguro para aterrar, traças acabadas de sair dos casulos, cílios empretecidos a preceito e sobrancelhas vigilantes. Lança-se uma palavra ao ar. A resposta é devolvida no ritmo certo, o guião do diálogo desenhando-se devagar nas idas e vindas de vozes apalpando terreno nos primeiros voos para lá da conversa de circunstância.
E logo o espaço ganha dimensões de cima, baixo e fundo. As cores intensificam-se e os cheiros acendem-se. O vinho branco sabe melhor, mais fresco, mais cósmica a ligação com o pão quente e o hummus. Os sorrisos já não se fabricam, escapam. E 13 quase desconhecidos são quase 13 conhecidos, dando-se, confiando, encostando as costas às costas da cadeira, as mãos falam depressa e escavam as afinidades que espreitavam à superfície da lama seca da cerimónia inicial. Cada um a seu jeito, oferecendo-se e confirmando-se, ouvindo o eco das suas palavras e tirando significados muito profundos de cada frase profetizada. Cada um com a satisfação de passar a ser um nome na consciência do outro, um indivíduo, uma identidade triunfando sobre o frio escuro do anonimato. Regressam a casa um pouco mais cheios de si. Um deles percebe até que, sim, o melhor ainda está para vir. Retirou pouco dos exemplos aleatórios das histórias ouvidas à distância, como se imersas no fundo de uma piscina. Confirmou, na verdade, o sentido do caminho improvisado a cada dia e prometeu ser mais como ele próprio e menos como aqueloutros, perdidos. Chegando a casa, entrou silenciosamente na cama e aproximou-se com mansidão cansada do corpo quente com quem partilha as horas vulneráveis.
2 comentários:
Que maravilha, gralha. Cabe mais um à mesa?
Cabes sempre à minha mesa, Melissa :)
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