27 outubro 2014

duratrail 2014

Há quem corra por todas as razões, desde a balança, ao desafio e à superação própria. Eu corro por prazer. Sobretudo o prazer de descobrir novas paisagens. Por que não a andar? Porque demora muito e descobrem-se menos paisagens.
Feita a introdução, traço agora um retrato breve da prova de ontem, para quem queira deixar-se morder pelo bichinho.
Acordei às 3h30 com a excitação. Às 6h30 fui buscar a minha boleia e lá fomos para Setúbal. Levantámos os dorsais e fomos tomar café, enquanto ele me contava aventuras passadas e planos futuros (só maluquinhos da corrida aturam esta conversa mais do que 10 minutos). Às 9h foi dada a largada e, a partir daí, o prazer nunca mais terminou. O prazer de subir ao alto da serra e ver o sol a despontar por trás de Tróia. O prazer de ir fazer um chichi no meio da mata e espetar-me nuns ramos cheios de espinhos. O prazer de fazer os primeiros quilómetros a ritmo de caracol porque ia tudo em filinha - mas assim deu para tirar fotografias. O prazer de muitas subidas e descidas íngremes, daquelas em que percebemos pela primeira vez que temos determinado tipo de músculos. O prazer das melhores laranjas do mundo no primeiro abastecimento. O prazer de lidar com voluntários impecáveis, numa prova irrepreensível em termos de organização. O prazer de ser acometida de câimbras porque parei demasiado tempo a comer laranjas. O prazer de conhecer alguém que ia ao meu ritmo e puxarmos uns pelos outros (olá Márcia!). O prazer de passar pelo leito de ribeiras com água fresca pelo joelho. O prazer de escalar pequenas paredes e de descer por caminhos tão apertados que até eu tinha de ir de cócoras. O prazer de superar as câimbras e conseguir ir conquistando lugares, uns atrás dos outros. O prazer de chegar à praia e insultar quem desenhou o percurso e fez-nos correr duas vezes pela areia seca, enquanto os veraneantes apanhavam um solzinho bom. O prazer de sprintar até à meta, indiferente a tempos, a velocidades, à tosse que me fez sempre companhia, e cruzar a meta com um grande sorriso. Tanto prazer, que quase nem faz diferença ter ficado em 5º lugar do meu escalão, apesar de ter demorado o que me pareceu uma eternidade. Será que posso deixar o meu emprego e virar Carlota Sá? Umm, não me parece. Mas enquanto continuar a ter oportunidades assim, estou muito feliz :)

10 comentários:

Amigo Imaginário disse...

Desculpa, mas parei de ler mal falaste na possibilidade de ser "mordida pelo bichinho", porque sou uma pessoa algo comichosa. Portanto, saltei directamente para a última linha e fiquei a saber que regressaste viva e feliz. Era esse o objectivo, certo? :)

D.S. disse...

Um passeio pela serra da Arrábida, imagino as paisagens! Acho que já tenho o bichinho a morder-me as pernas... :)

Naná disse...

Vês, afinal dizias que ias esticar o pernil e parece que ganhaste 10 anos de vida!

Parabéns!

Pisco disse...

Pela minha terra, então. :)

Lourenço Bray disse...

Espectáculo! :) Próximos objectivos? Trilho dos abutres? ^_^

gralha disse...

Amigo Imaginário, era esse o objectivo, sim senhora.

D.S. e Quando me encontrares, a Arrábida é mesmo dos lugares mais bonitos em Portugal para se fazer "passeios" destes.

Naná, ainda não conheces o meu dramatismo? ;)

Lourenço Bray, obrigada. Os abutres acho que não, para já tenho de concentrar-me na maratona do Gerês. Depois logo se vê.

Lourenço Bray disse...

Maratona do Gerês? Isso é puxado. +2000m de subida! Ui ui :D mas deve ser tão fixe! É um conceito ainda por explorar cá, maratonas diferentes por cenários assim. Boa escolha! Treina bem subidas e sobretudo descidas longas e íngremes porque numa prova com esse perfil o que estoira são os quadrícepes. Ainda por cima é estrada, ao menos o percurso técnico de trail obriga uma pessoa a travar mais, a abrandar e absorve impactos, em estrada é "porrada" constante pá pá pá pá :D ehehe

gralha disse...

Vai ser muito puxado, vai. Estou um bocadinho em negação. Mas como resistir ao apelo do Gerês?

calita disse...

Num momento estás a morrer e logo a seguir a fazer uma coisa dessas. És incrível, é o que eu te digo. Lembro-me de ti todos os dias, porque tenho de subir três andares para chegar a casa e continuo a chegar cá cima a arfar.

gralha disse...

Calita, vivo num rés-do-chão, sobra-me energia para o resto.