Hesito antes de abrir a porta. Espreito lá para dentro e confirmo a melhor das minhas suspeitas: o caos está instalado. Fico muito mais sossegada com o futuro dos meus filhos quando encontro um de capacete de skate a declamar poesia e o outro, de bruços no chão, a desenhar e recortar moedas de papel. Dois pequenos primatas que levam a brincadeira muito a sério e no fim até arrumam tudo.
O ócio pode ser o pai de todos os vícios mas é o tédio que está na origem de muitos males - na realidade, na ficção e na linha ténue que as separa. Está no político que se envolve bacocamente nas teias da corrupção porque está maçado com a sua pasta ministerial. Empurra os miúdos suburbanos a trocar o refrão repetitivo das culturas marginais pelo recrutamento do Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Abate os jovens adultos encharcados em whisky e anti-depressivos, aborrecidos à espera que cresça a cortiça nos seus extensos montados. Até o sacana do Vronsky arruinou a vida à Karenina por puro tédio. Se esta gente toda arranjasse alguma coisa de valor com que se entreter muito mal se evitaria.
Ena, tantos assuntos num post só. Mastiguem devagarinho e digiram com moderação. Assim vos deixo para mais uma sabática blogosférica, beijinhos e abraços.
5 comentários:
Sim, o tédio está na origem da maior parte do mal que fazemos. Não tenho qualquer dúvida em relação a isso! Que belo post! Ab Teresa
Sim, o tédio está na origem da maior parte do mal que fazemos. Não tenho qualquer dúvida em relação a isso! Que belo post! Ab Teresa
Obrigada, Teresa. Certamente que em vossa casa nunca há o perigo de haver um minuto de tédio :)
Esqueceste-te de Emma Bovary, para mim o ícone dos efeitos nocivos do tédio... ;)
Por sinal até me lembrei, Amigo Imaginário, mas estava a ver se compunha aqui uma espécie de sinfonia do tédio, em vez de bater sempre na mesma tecla.
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