Esta cidade é uma grande vaidosa e nem disfarça. Ao longo do ano, veste-se e despe-se conforme lhe apetece. Usa demasiada maquilhagem, que o Tejo não é nenhum espelho, além de que a vista e a mão lhe escapam com os séculos. Faz ela muito bem. Quando se livra por fim dos veraneantes, recosta-se nas colinas e mascara-se de cortesã. Acorda muito devagar. Está escuro até tarde antes de mudar a hora para o ciclo natural do planeta, que é o do Inverno. O céu é de seda em todos os tons de rosa e os jacarandás, baralhados com o hemisfério, voltam a florir. Os pássaros e as pessoas sonhamos com madrugadas frescas, mas ainda está calor. Lisboa finge que é doce, nesta altura. Lisboa só sabe ser luz que cega, metade do tempo. Na outra metade chove sem clemência, inunda, imunda, desespera. Como lisboetas, somos negacionistas do mau tempo, suportamos molhas como se fossem o pagamento da promessa que fizemos ao deus do clima supostamente temperado. Em outubro, a nossa fidelidade é retribuída com a beleza fugaz de umas quantas madrugadas.
Sem disfarces, no Largo:
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