Ontem, numa conferência, o Pedro Gadanho falava de como a diminuição dos custos de produção está a fazer com que os bens se desvalorizem face às experiências. Fiquei com a pulga atrás da orelha e hoje, à procura de sentido, encontrei este artigo do Guardian acerca da mudança de hábitos de consumo de luxo. Será que o facto de o acesso a muitos bens se ir cada vez mais democratizando* está a fazer com que estes percam o valor para aquelas camadas da sociedade que gostam de sentir que fazem parte de uma casta selecta, guardiã de um certo estilo de vida? Será que isso os leva a desprezar a acumulação de coisas em favor da colecção de experiencias de vida, ainda mais inacessíveis?
E será que esta onda minimalista que por aí graça, e na qual tanto aprecio surfar - leve de responsabilidade consumista, airosa no meu desprendimento material - mais não é do que um tímido reflexo desta tendência? Receio bem que as minhas peneiras bem intencionadas de desprezo pelas coisas tenham um certo travo de distinção social, como me poderia acusar o Bourdieu (confere, amigas sociólogas?). Mas então o que resta? Se coleccionar relógios, sapatos e pulseiras, sou uma «vítima» da sociedade do consumo. Se abraçar o monge tibetano que teima em ecoar na minha alma, sou uma neoburguesa armada aos cucos. Alguém me esclareça acerca de alguma terceira via, estou perdida no cruzamento entre o ter e o viver.
* Democratizando, vírgula, claro. Que ainda há um sexto da população mundial que nem sonha com a garantia dos bens essenciais, quanto mais dos supérfluos.
8 comentários:
Adorei a tua reflexão. Fez-me sentir como em algumas parte do Freedom (Frazen), em que eu pensava: porra, mas isto não era tipo... certo e bom? :D
Vou ler o artigo do Guardian.
Eu escolho viver a vida!
Não interessa o que me possam chamar por isso!
vidademulheraos40.blogspot.com.
Por instinto, gosto de dizer que prefiro colecionar experiências e sensações que me ficam guardadas na memória... Mas depois tenho uma caixa cheia de relógios e pelo sim, pelo não guardo também algumas fotografias no iPhone.
Também não me entendo.
Agora pergunto: é preciso encaixarmo-nos num determinado modelo? Não vejo qual a necessidade... aposto que já eras minimalista antes da "moda" começar!
Quem dera saber...
Melissinha, será agora narcisimo eu gostar tanto do Franzen?? (ahahaha, brincadeirinha, a minha neurose não chega a tanto)
Paula, isso de escolher a vida é muito bonito em teoria. E as implicações reais?
Ana, és um poço de sabedoria. Isso até eu sei.
Naná, não, não é preciso. Sou minimalista de nascença, não tinha era pensado nas implicações.
calita, o mal é ainda não terem inventado workshops sobre isto. Olha aí o nicho de mercado...
Cinzento... o segredo está em mantermo-nos no limbo do cinzento.
Eu acho que não estás perdida no cruzamento, está é encontrada. No cruzar as duas vias está a terceira. Não vês? Não vês que o meio termo é o ideal. Estás encontrada, relaxa. Está tudo bem! Desinquieta-te!
Do que a socióloga me diz respeito: sei lá se confere, lembro-me lá! Ahahahahahah
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