Tal como o Lourenço Bray, também não costumo ser grande adepta de correr em grupo. Actividades em grupo, aliás, só as estritamente necessárias*. Mas há muito tempo que andava com vontade de experimentar correr em trilhos e estava fora de questão aventurar-me por esses montes e florestas fora sem guia. Tenho um sentido de orientação colombiano – por referência ao navegador genovês e não à ratazana com asas – e dois filhos para criar, não posso dar-me ao luxo de desaparecer do mapa até que uma equipa de salvamento vá dar comigo a tentar sobreviver à base de pinhões e bolotas. Mas divago, a iniciação ao trail tinha de ser com pessoal que percebesse do assunto. Madrugadores, como eu. E, de preferência, que tivessem um ritmo semelhante ao meu. Aqui estava a maior dificuldade: toda a gente que conheço corre muito mais devagar ou muito mais depressa do que eu, onde andam as minhas almas gémeas da passada?
Não é no grupo dos Loucos Trail Running, isso descobri este fim-de-semana. Aquilo é gente com a massa gorda de um talo de couve, o instinto de uma cabra-montês e a resistência de um camelo mongol. Felizmente também têm o espírito comunitário de uma família de elefantes, não deixando ninguém ficar para trás, e sobretudo abundantes doses de sentido de humor. Foi assim que, entre incentivos e provocações, piadolas e queixumes, lá fomos trepando e destrepando as colinas de Lisboa. Que maravilhoso nascer do dia que estava na Penha de França, na Graça, em S. Vicente de Fora, em Alfama, no jardim do Torel. E em tantos outros becos, ruelas e escadarias com cheirinho a sardinha assada. Não sei é dizer-vos quais porque, entre a desorientação e a desoxigenação derivado do sangue estar a ser todo chamado de urgência aos gémeos, fiquei mais baralhada do que na noite de Santo António. Venham mais treinos destes.
*Agora que penso nisso, os únicos momentos comunitários que aprecio são a missa e a manifestação. Se reflectirmos bem sobre o assunto, têm um fundamento muito semelhante.
6 comentários:
Ontem, no Porto, decidi ir correr no jardim do Palácio de Cristal. Havia uma subida com um grau de dificuldade aceitável mas só a nível de inclinação já que em distância era bastante curta... ia morrendo! Sabes aquela minha ideia de fazer um trail? ESQUECE!!!
Na, na, na, Inesa, nada de desculpas. É dia 28 que o teu cunhado nos vai andar a pastorear, não é?
Diz que sim... M-E-D-O!
Se houver trails para coxos, alinho.
Ver Lisboa a acordar, enquanto ... andamos, faz sonhar esta pobre emigrante.
Que bom que deve ter sido.
Carla R., ver Lisboa ao acordar ou antes de adormecer é só uma questão de prioridades. Ela é sempre linda, essa é que é essa.
Confesso que ainda não senti o chamamento da corrida de trail mas numa coisa estou totalmente de acordo contigo: prefiro treinar sozinha.
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