É ainda mais difícil do que ser rico e aspirar ao Reino de Deus: antes passará um camelo pelo buraco de uma agulha do que o comum dos mortais aceitará dignamente uma crítica. O ego é como a imagem corporal feminina, ou demasiado inchado, ou desgraçadamente débil, sendo raros os momentos de equilíbrio. Quem consegue ouvir um “não gosto desta tua obra” sem sentir amargura? Quem acolhe sugestões de melhoria com verdadeira humildade, agradecendo intimamente a possibilidade de fazer melhor?
Piores são os que se inclinam com desproporcional modéstia, julgando-se desmerecedores de atenção, quanto mais de elogio. Sem entrega apaixonada, produzem obra segura e evitam o ricochete das balas das reacções alheias. Já o autor amador morde a mão de quem destrata a sua obra, reagindo com violência à incompreensão, com desprezo à desconsideração. Quem ama o que faz, ressente-se se o outro não sente o que lhe foi oferecido de peito aberto. Aquilo que distingue uma prima donna histérica de um censurado elegante é apenas a penosa graciosidade com que este engole uma apreciação negativa.
4 comentários:
E para além da difícil gestão da critica é a distinção do que é ou não uma critica. Tenho para mim que este mundo era mais calminho se nos sentíssemos menos criticados onde na realidade não existia critica nenhuma.
Tens muita razão, Mãe Sabichona. E os portugueses, então, "sentem-se" logo muito, senão não são boa gente.
Pronto, eu admito: sou das que reagem mesmo muito mal a críticas! Fico sempre defensiva.
Mas também depende muito de quem as emite...
Por outra perspectiva, também acho que o tuga é muito dado a emitir críticas e juízos de valor, mesmo que sem lhos peçam...
Naná, não tenhas dúvidas nenhumas. Aliás, quantos blogues há por aí que se alimentam exclusivamente de críticas e juízos de valor?
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