30 janeiro 2015
o novo deus grego
Por esta altura, acho que todas as portuguesas que votam à esquerda do CDS-PP estão embeiçadas pelo Alexis. É verdade, ele é giro e eloquente. Arrasa-nos com aquela atitude robinudesca de quem se está a marimbar para as regras, que o que interessa é salvar as donzelas a saque da terrível Xerifa Nottingangela. Também estou um bocado desorientada mas temos de controlar-nos, irmãs. Nascemos ontem? É por estarmos cansadas dos políticos cinzentões que nos violentam com doses cada vez maiores de carga fiscal que nos atiramos à primeira novidade sorridente? Contenhamos o entusiasmo antes de irmos em cantigas. Irmãs, é verdade que ele é um idealista espertalhão. Sabe que a Xerifa quer ter donzelas disponíveis para outras incursões e não se importa que haja uns quantos bandidos à solta na floresta, que lhes vão fazendo a corte. Irmãs, ele é o optimista generoso com que todas sonhámos. Não tem medo da dívida que herda e ousa prometer coisas que o vão deixar, e às donzelas, ainda mais entalados. E, como tantos homens, padece de algum narcisismo. Acha-se tão extraordinário que se esquece que a floresta confina com outros potentados, também eles carregados de vítimas da Xerifa e das agruras medievais de um momento menos luminoso da História da Europa. Queridas irmãs, tenho a certeza que não preciso de recordar-vos que o lugar dos heróis é na ficção, raramente na realidade.
29 janeiro 2015
frisella
Acho que era um sábado de Junho, em Saarbrücken. Caía uma chuvinha miserável, daquelas do Verão na Alemanha. Mal saímos da estação, demos de caras com a montra de uma agência de viagens cheia de imagens de Albufeira em saldos. Desistimos do passeio pela cidade e fomos para casa de uma outra amiga italiana secar os sapatos. Deram-me a provar frisella e vinho apuliano. Um parêntesis importante para coser as pontas à história: a frisella tem de demolhar-se. E não é que, em vez de uma papa sensaborona, sai um petisco delicioso? Nem só de açorda vive uma mulher. Fim do parêntesis. Não me lembro do que elas cantavam em dialecto mas sei que, nessa altura, andava eu a ler o Dona Flor e Seus Dois Maridos. Queria era ir para casa enfiar-me na cama a ler, até me subirem os calores. Não parou de chover e regressámos a Trier no último comboio. Subi sozinha até ao campus, perguntando-me de novo o que estava ali a fazer.
Isto a propósito de mais este Janeiro interminável. É como se estivesse num elevador parado entre dois andares. Desde que uma pessoa não esteja aflita para fazer chichi, há situações mais desagradáveis. Para quem não anda com um pé-de-cabra, a solução é aguardar pelo técnico. Mesmo assim, sente-se um bocado a consciência do desperdício.
Isto a propósito de mais este Janeiro interminável. É como se estivesse num elevador parado entre dois andares. Desde que uma pessoa não esteja aflita para fazer chichi, há situações mais desagradáveis. Para quem não anda com um pé-de-cabra, a solução é aguardar pelo técnico. Mesmo assim, sente-se um bocado a consciência do desperdício.
28 janeiro 2015
açorda
O pão que dá boa açorda tem de ser rústico. O homem que dá bom marido também. O sentido da rusticidade pode não ser o mais aparente, alto lá. A massa não carece da sova de um padeiro com unhas pretas, nem de cozedura em forno artesanal com temperaturas irregulares. Precisa é de boa mistura de farinhas e que o tempo de levedura seja o devido, não se deixando secar a massa (o uso de um pano húmido é uma boa opção). Os alhos, os coentros e o azeite fazem o resto da festa, como em grande parte da culinária mediterrânica. Há de haver bons maridos a partir de receitas alternativas mas eu é que sei aquilo que saboreio e bem digiro.
27 janeiro 2015
coisas salva-vidas
Quero aprender com o meu futuro astronauta a ser pragmática. Em vez de racionalizar, lidar com. Antes de nomear, deitar-lhe a mão. Em caso de emergência, de pouco vale um rebuscado enquadramento conceptual do problema. Se me proponho construir uma nave espacial e seguir em direcção às luas de Saturno – outra coisa a trabalhar, a dos objectivos ambiciosos – o melhor auxílio é o mais simples: um botão que aniquila qualquer ameaça ao sucesso da missão. Perdemos muito quando nos ensinam na escola que o caminho mais curto entre dois pontos é um segmento de recta atafulhado de interrogações.
26 janeiro 2015
ração para animais
E pronto. As dos blogues que vivem de dizer mal dos blogues que vivem de dizer bem já podem dormir descansadas. Tinham razão. Adivinharam mais uma vez a premeditação disfarçada de desabafo casual. Espero que estejam todas contentes e refasteladas com o vosso próprio veneno. Ainda por cima depois inspiram coisas como aquela espécie de música da lambisgóia (recuso-me a linkar, adivinhem).
Deve ser tão cansativo isso de ser blogger profissional. Eu já fico exausta de ser leitora de blogues profissional, quanto mais.
Deve ser tão cansativo isso de ser blogger profissional. Eu já fico exausta de ser leitora de blogues profissional, quanto mais.
quer engordecer? pergunte-me como
Primeiro faça desporto regularmente ao longo de vários anos.
Depois pare durante dois meses. Aproveite para prevenir as cáries dos seus filhos comendo todos os Pais Natais de chocolate que houver lá em casa.
Suba para a balança: tcharan! Menos 2 Kg!
Agora não olhe para a medição da percentagem de massa gorda.
Depois pare durante dois meses. Aproveite para prevenir as cáries dos seus filhos comendo todos os Pais Natais de chocolate que houver lá em casa.
Suba para a balança: tcharan! Menos 2 Kg!
Agora não olhe para a medição da percentagem de massa gorda.
23 janeiro 2015
já sabe dizer enormidades, tão lindo
Filho: Mamã, esses comprimidos que tomas para o cabelo ficar mais bonito?
Mãe: Sim?
Filho: Não se nota.
Pai: (rebolando a rir, sem disfarçar nem um bocadinho sequer) Vais ter muita saída, assim, vais.
Outro filho: ... (silêncio absoluto, ainda está na fase em que a Mamã é a Anna, a Izzie, a Nala, a Doutora Brinquedos, a Kelly, a Minnie, todas as heroínas da Disney. E depois querem que eu o deixe crescer)
Mãe: Sim?
Filho: Não se nota.
Pai: (rebolando a rir, sem disfarçar nem um bocadinho sequer) Vais ter muita saída, assim, vais.
Outro filho: ... (silêncio absoluto, ainda está na fase em que a Mamã é a Anna, a Izzie, a Nala, a Doutora Brinquedos, a Kelly, a Minnie, todas as heroínas da Disney. E depois querem que eu o deixe crescer)
22 janeiro 2015
zangam-se as comadres
Para quem não tem pachorra para os meus comentários sobre artigos que leio por aí, por favor volte amanhã, que sai um post patusco sobre os meus filhos.
Não sei quão a par estão da actual crise no financiamento à ciência e à tecnologia neste país mas, numa casquinha de noz, a investigação nacional é maioritariamente paga pelo Estado e o Estado cortou a água a mais ou menos metade do pessoal. Sendo que uns passaram a poder encher piscinas olímpicas e outros estão a lamber o orvalho. Saltando por cima da discussão política, é claro que nestas alturas os visados se voltam todos uns contra os outros. Este senhor toca numa ferida que nunca vai sarar, porque a verdade é que a produção do conhecimento estará sempre associada a uma classe profissional que é militante no seu fechamento enquanto mantém uma relação algo dúplice com o poder – condenando-o, não deixando de beneficiar de protecção institucional. E ia isto ser uma explicação breve, não há pachorra para os sociólogos, pá.
Tenho sofrido com a degradação da situação da ciência não só porque estou aqui, estou a ir para o olho da rua, mas porque sou como a criança de leite que brinca junto ao ninho da cobra, acredito na sua capacidade de superação humana, na ciência como problematização com tomates e método, brio. Apesar de já me terem explicado que as víboras fazem dói-dói, custa-me imenso a concentração da investigação num punhado de áreas cujo valor utilitário é mais imediato. E arrelia-me a mercantilização dos produtos da pesquisa, o faroeste em que está a transformar-se a divulgação científica. Por exemplo, é triste que parte do meu trabalho seja averiguar a autenticidade de revistas científicas e de conferências, cujos clones falsos surgem como cogumelos e assediam muitos desgraçados (inserir caricatura de cientista despassarado). Sinto-me parte do trio de cordas que tocava de ladecos enquanto o Titanic mergulhava. E eu já nem na guitarra pego há imenso tempo.
Não sei quão a par estão da actual crise no financiamento à ciência e à tecnologia neste país mas, numa casquinha de noz, a investigação nacional é maioritariamente paga pelo Estado e o Estado cortou a água a mais ou menos metade do pessoal. Sendo que uns passaram a poder encher piscinas olímpicas e outros estão a lamber o orvalho. Saltando por cima da discussão política, é claro que nestas alturas os visados se voltam todos uns contra os outros. Este senhor toca numa ferida que nunca vai sarar, porque a verdade é que a produção do conhecimento estará sempre associada a uma classe profissional que é militante no seu fechamento enquanto mantém uma relação algo dúplice com o poder – condenando-o, não deixando de beneficiar de protecção institucional. E ia isto ser uma explicação breve, não há pachorra para os sociólogos, pá.
Tenho sofrido com a degradação da situação da ciência não só porque estou aqui, estou a ir para o olho da rua, mas porque sou como a criança de leite que brinca junto ao ninho da cobra, acredito na sua capacidade de superação humana, na ciência como problematização com tomates e método, brio. Apesar de já me terem explicado que as víboras fazem dói-dói, custa-me imenso a concentração da investigação num punhado de áreas cujo valor utilitário é mais imediato. E arrelia-me a mercantilização dos produtos da pesquisa, o faroeste em que está a transformar-se a divulgação científica. Por exemplo, é triste que parte do meu trabalho seja averiguar a autenticidade de revistas científicas e de conferências, cujos clones falsos surgem como cogumelos e assediam muitos desgraçados (inserir caricatura de cientista despassarado). Sinto-me parte do trio de cordas que tocava de ladecos enquanto o Titanic mergulhava. E eu já nem na guitarra pego há imenso tempo.
21 janeiro 2015
mesmo em termos estéticos
Não é que me oponha às imperfeições, bem entendido. As fraquezas de carácter e os hábitos que tomamos com a sopa , tudo ao molho e mal disfarçado. Quando disfarçado. Chega a dar-se o caso de aparecer uma daquelas criaturas que parecem perfeitas e uma pessoa desconfia logo. Aproxima-se devagar, cheira-lhe as mãos, os fundilhos, até descobrir qualquer coisa acre, algum indício de organismo vivo que garanta a autenticidade do produto. Depois sossega, porque afinal está ali um ser humano e podemos ser todos amigos.
20 janeiro 2015
branco sujo
Há uma guerra que travo diariamente com derrota garantida. Não posso hastear a bandeira branca porque esse é o problema: o branco é um objectivo inalcançável. Rodeio-me de branco à procura de pureza e aparece sempre uma mancha. A serenidade dos lençóis, das t-shirts e das paredes é constantemente atacada pelo encardidão, esse monstro sorrateiro que não é claridade nem escuridão. Lavo, esfrego, coro e não há como livrar-me da sombra que faz troça de mim, provando que a perfeição é impossível. Se acharam que isto era uma metáfora para a minha vida, se calhar têm razão. Não sei, não consigo ver as coisas assim a preto e branco.
19 janeiro 2015
desenraizados
Tantas questões delicadas numa reportagem só. O negócio da adopção internacional. Uma sociedade que fragiliza dramaticamente a maternidade (e a mulher) fora do casamento. A legitimidade de cortar com referências culturais em prol “de uma vida melhor”. A (in)visibilidade do factor racial. Um caldo de variáveis que tornam muito complexo este fenómeno da migração forçada de centenas de milhar de crianças. Numa era em que os neo-malthusianos fazem cara feia aos países de pirâmide demográfica invertida que ousam procriar em vez de trazerem para casa o que sobeja noutras zonas do globo, importa pensar de que forma a circulação populacional, designadamente a que é feita de forma involuntária e desintegrada, pode ser uma resposta ao binómio envelhecimento/explosão demográfica. É que as pessoas não são mercadorias. Vale a pena ler na íntegra, já agora.
16 janeiro 2015
apesar das banalidades, desabafos, receitas, poemas e vagueblogging
Nove anos de blogue. Sinto quase tanta vergonha de alguns posts mais antigos como das minhas fotografias de adolescente com penteado à Luís Figo nos gloriosos tempos do Sporting. Tive várias vezes vontade de acabar com isto, à semelhança de toda a gente que por aqui anda. Já disse tudo o que tinha a dizer, já me repeti que chegue. Mas todos os anos chegam por esta via pessoas novas que gosto de conhecer, ainda que à distância, e de quem recebo tanto. A maioria tem a decência de não me fazer corar, confrontando-me com tanto disparate que não me inibo de dizer. Portanto, olhem, cá me vou deixando mais um bocado.
15 janeiro 2015
ainda não temos casa
Já nos virámos para todos os lados e nada. Obrigada, Sérgio Mak, pelo menos tentaste. Vá lá, gente, ninguém conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém com três assoalhadas para arrendar? Prometo que os meus filhos não vão riscar as paredes. O meu cão não ladra. O meu cão-enteado só ladra se eu fizer cara séria e fingir que vou atacá-lo. Garanto que nunca fazemos festas da espuma e pagamos sempre a tempo e horas. Quem pode desejar melhores inquilinos? Falhando os sites das imobiliárias, valha-nos o YouTube.
Se não houver nada entre os 8 e os 9 minutos de filme, também ficamos muito bem à volta dos 14 ou dos 17. Pronto, se calhar tenho de deixar de ser mimada e ver noutras zonas. É que eu queria tanto ser uma velhinha da Av. da Igreja. É só a maior concentração de farmácias da Península Ibérica. Até parece que já me imagino a retocar o batom no reflexo de uma montra, enquanto caminho de braço dado com o meu marido até à missa. Não porque finalmente se converteu, mas porque já não conseguimos passar mais do que uma hora sem a companhia um do outro. E o coro é afinado.
Se não houver nada entre os 8 e os 9 minutos de filme, também ficamos muito bem à volta dos 14 ou dos 17. Pronto, se calhar tenho de deixar de ser mimada e ver noutras zonas. É que eu queria tanto ser uma velhinha da Av. da Igreja. É só a maior concentração de farmácias da Península Ibérica. Até parece que já me imagino a retocar o batom no reflexo de uma montra, enquanto caminho de braço dado com o meu marido até à missa. Não porque finalmente se converteu, mas porque já não conseguimos passar mais do que uma hora sem a companhia um do outro. E o coro é afinado.
14 janeiro 2015
entretanto, no alto minho
O primo A. e a G. casaram em segredo. O primo A. é filho da minha tia-bisavó M., remadora medalhada que, reza a lenda, correu com a polícia de casa quando tentaram ir lá buscar-lhe os filhos envolvidos num desacato. O seu primogénito A., afamado psiquiatra e colaborador habitual do Aurora do Lima, pôs assim termo a mais de nove décadas de dedicação exclusiva ao estudo e a rotinas de celibatário. A G., empregada da família desde a infância, é um furacão minúsculo de alegria e trabalho. Vê assim reconhecida a dedicação ao senhor doutor este anos todos. O amor, na verdade. Com aqueles olhos azuis e aquele misto de doçura e assertividade tão próprio das minhotas, convenhamos que o pedido já veio um bocado atrasado, ó primo A. Enfim. Infelizmente, e como sempre acontece nestes casos, não tardou o choro e ranger de dentes de alguns primos que já faziam planos para a herança.
Lembro-me bem dos Verões passados na casa do primo A. na Serra d’Arga, tão húmidos que levava o resto do ano a secar os ossos. Gostava de ir para o jardim salvar as formigas que acidentalmente de propósito atirava para a fonte rodeada de erva-doce. Fascinava-me o glacê à superfície das malguinhas de marmelada da G. e como ela sossegava o Nero, ensinando-me a não ter medo dos pastores-alemães. E agradeço-lhe os pintainhos que me deixava ter antes de se transformarem em cabidela. Não consigo parar de sorrir com este desenlace tão novelesco. Só é pena estarem ambos internados desde o início do ano. Espero que os deixem almoçar juntos e passear de braço dado pelos corredores abafados do hospital.
Lembro-me bem dos Verões passados na casa do primo A. na Serra d’Arga, tão húmidos que levava o resto do ano a secar os ossos. Gostava de ir para o jardim salvar as formigas que acidentalmente de propósito atirava para a fonte rodeada de erva-doce. Fascinava-me o glacê à superfície das malguinhas de marmelada da G. e como ela sossegava o Nero, ensinando-me a não ter medo dos pastores-alemães. E agradeço-lhe os pintainhos que me deixava ter antes de se transformarem em cabidela. Não consigo parar de sorrir com este desenlace tão novelesco. Só é pena estarem ambos internados desde o início do ano. Espero que os deixem almoçar juntos e passear de braço dado pelos corredores abafados do hospital.
13 janeiro 2015
mais vale pecar por excesso
Ontem só soube de uma situação grave acontecida na escola do meu filho mais velho porque a professora o instruiu para ir contar aos pais. Mesmo assim ele começou o relato com "desculpa, sei que não gostas que conte estas coisas mas...". Foi uma coisa realmente séria, podia ter tido consequências graves e nós, pais, teremos de intervir. O meu coração gelou quando pensei que ele podia não me ter contado. Quando pensou que eu preferia não saber.
Já lhe tenho dito que não gosto de queixinhas.
Não gosto. E um irmão mais velho tem muita ocasião de fazer queixinhas.
Mas como é que ele não vê a diferença abissal entre dizer-me o que se passa, que tem a ver com a segurança dele, e o blá, blá, blá inconsequente?
Não interessa. Não vê. E não interessa se não vê. O que interessa é que ele tem urgentemente de perceber que pode - deve - contar-me. Paciência para o resto. Espero que tenha percebido, depois da conversa que tivemos.
É muito complicado lidar com um filho que investe tanta energia em agradar aos pais. Mais do que tentar desconstruir o meu aparente perfeccionismo e reforçar o nosso amor incondicional, a toda a hora, por tudo e por nada, na verdade, não sei o que fazer.
Já lhe tenho dito que não gosto de queixinhas.
Não gosto. E um irmão mais velho tem muita ocasião de fazer queixinhas.
Mas como é que ele não vê a diferença abissal entre dizer-me o que se passa, que tem a ver com a segurança dele, e o blá, blá, blá inconsequente?
Não interessa. Não vê. E não interessa se não vê. O que interessa é que ele tem urgentemente de perceber que pode - deve - contar-me. Paciência para o resto. Espero que tenha percebido, depois da conversa que tivemos.
É muito complicado lidar com um filho que investe tanta energia em agradar aos pais. Mais do que tentar desconstruir o meu aparente perfeccionismo e reforçar o nosso amor incondicional, a toda a hora, por tudo e por nada, na verdade, não sei o que fazer.
09 janeiro 2015
se ainda restar um niquinho de cinismo
É pensar que, algures no mundo, há gatos a tentar empurrar chávenas de um balcão abaixo. Bom fim-de-semana, e um miau especial para a Ana.
E nada de virem para aqui desconstruir o sentido naïf que estou a colar à música, heim?
é muito importante cantar para os bebés in utero
Andei pelo Google à procura de curas para a o cinismo. Mandou-me ler Paulo Coelho. I rest my case quanto à discussão na caixa de comentários ali em baixo.
Felizmente depois lembrei-me de ir ver o que a fofinha da Clarice Falcão andou a fazer nos últimos tempos.
08 janeiro 2015
o controlo possível
O post anterior foi bastante hipócrita. Se há alguém que gosta de tentar controlar o funcionamento da sua máquina, sou eu. Custa-me muito mais aceitar que há coisas sobre as quais não posso exercer influência, sendo obrigada a esperar e confiar, do que qualquer pequena dor e consequente tratamento. Quando brinquei com a dureza da fisioterapia, não contei o mais importante: O alívio de saber os factos concretos sobre a minha condição, sem adivinhações da googlelogia. O que mais custa não é deixar de fazer o que mais gostamos, é o medo de não saber o que aí vem. Claramente, isto não se aplica apenas às lesões desportivas. Havendo factos, probabilidades concretas, opções a tomar, devolvem-nos as rédeas da nossa vida, tanto quanto possível. E não há dietas nem mantras nem outras tretas do género que dêem esse tipo de empoderamento.
a culpa é do hipócrates
Haverá lugar no mundo para as pessoas que não vivem obcecadas com o melhoramento pessoal e a saúde, mas sem caírem no total desleixo que só é admitido aos pobrezinhos e aos depressivos clinicamente certificados? Está bem, é importante cuidarmos de nós, fazermos por nos sentir bem. Só que parece que atrás de um regime de verduras e fruta, da febre das bagas e dos grãos importados de um canto escondido dos Andes, da meditação e da correria nos intervalos de tanto zen auto-inflingido – caraças, pá, como se o engenho humano não tivesse prosperado com a inquietação e com a necessidade – parece que há sempre espaço para mais uma tendência ego-optimizadora. O truque é mascarar de novidade aquilo que as avós sempre nos disseram. Agora lembraram-se do caldo de ossos. Até parece que já vejo as fashionistas todas a encher o seu thermos Louis Vuitton de canjinha. Personal trainers deste mundo: por que esperam para patentear o agasalhating? Avisem-me quando o leite condensado e a morcela deixarem de ser considerados veneno para eu poder sair da toca.
07 janeiro 2015
incomensurável
A distância entre nós, que ficamos furiosos quando alguém atinge o que nos é precioso e nem sempre encontramos meio adequado para expressar o que nos mói, e os outros, que pegam em armas para calar a pior das ofensas, a que se reveste de gargalhadas e aparente ligeireza. Enorme ou minúscula, cada um saberá de si.
já sei como se sente uma mosca num grelhador de insectos
Estava deitada na marquesa do Bernardo, toda contente porque me tinha escapado a mostrar as cuecas às bolinhas, quando ele ligou o aparelho da electroestimulação e eu
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
A dor, senhores, a dor! A minha perna começou involuntariamente a dar pontapés sem parar, como um pequeno Cristiano Ronaldo amuado no recreio da escola, e eu não sabia se havia de rir, se chorar. Depois de uma eternidade de sofrimento comparável à compilação de todos os discursos do Fidel Castro, anunciou o meu torturador: "Não vou mentir-te, agora isto vai doer a sério."
Não mentiu.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!
Espetou-me os dedos com tal brutalidade que eu comecei a fazer a respiração das contracções, antes do parto. Só que em vez de me ir nascer um lindo bebé rosadinho, a única coisa que havia ali era um marmanjo de 70 quilos a causar-me um sofrimento atroz. Não foi bonito. Espero que valha a pena. Ora aqui está uma bela profissão para sádicos, Mãe Sabichona.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
A dor, senhores, a dor! A minha perna começou involuntariamente a dar pontapés sem parar, como um pequeno Cristiano Ronaldo amuado no recreio da escola, e eu não sabia se havia de rir, se chorar. Depois de uma eternidade de sofrimento comparável à compilação de todos os discursos do Fidel Castro, anunciou o meu torturador: "Não vou mentir-te, agora isto vai doer a sério."
Não mentiu.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!
Espetou-me os dedos com tal brutalidade que eu comecei a fazer a respiração das contracções, antes do parto. Só que em vez de me ir nascer um lindo bebé rosadinho, a única coisa que havia ali era um marmanjo de 70 quilos a causar-me um sofrimento atroz. Não foi bonito. Espero que valha a pena. Ora aqui está uma bela profissão para sádicos, Mãe Sabichona.
05 janeiro 2015
motor em ponto morto. não trave
Acabámos um puzzle de 999 peças. Fomos ao teatro. Passeei o meu cão velhote até ficar com as bochechas geladas e depois subi as escadas com ele ao colo. Felizmente, já não tenta morder-me. Fiz um kothu roti de galinha tão bom que me fez desejar ser outra pessoa só para poder casar comigo. Bebemos ginger ale em Óbidos e o Diogo insinuou que gostava de ter uma besta. Está a aprender a não pedir coisas, é um óptimo sinal. O Gugas viu o Sozinho em Casa três vezes. Li um livro que me deu vontade de abraçar a minha mãe. Fui lavar o carro*, resistindo à tentação de pôr um braço de fora para sentir as escovas a fazer-me cócegas. E qual o fio condutor de sentido entre estes factos aparentemente desconexos? Nenhum. O universo não anda para aí a atirar-nos bolas a ver se lhes apanhamos o significado.
E não há problema nenhum com isso.
* Aos passarinhos que fizeram pontaria ao meu capot mal acabado de secar: desejo-vos um futuro luminoso. Iluminado pela brasas de uma churrasqueira.
E não há problema nenhum com isso.
* Aos passarinhos que fizeram pontaria ao meu capot mal acabado de secar: desejo-vos um futuro luminoso. Iluminado pela brasas de uma churrasqueira.
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