08 janeiro 2015

o controlo possível

O post anterior foi bastante hipócrita. Se há alguém que gosta de tentar controlar o funcionamento da sua máquina, sou eu. Custa-me muito mais aceitar que há coisas sobre as quais não posso exercer influência, sendo obrigada a esperar e confiar, do que qualquer pequena dor e consequente tratamento. Quando brinquei com a dureza da fisioterapia, não contei o mais importante: O alívio de saber os factos concretos sobre a minha condição, sem adivinhações da googlelogia. O que mais custa não é deixar de fazer o que mais gostamos, é o medo de não saber o que aí vem. Claramente, isto não se aplica apenas às lesões desportivas. Havendo factos, probabilidades concretas, opções a tomar, devolvem-nos as rédeas da nossa vida, tanto quanto possível. E não há dietas nem mantras nem outras tretas do género que dêem esse tipo de empoderamento.

11 comentários:

Ana disse...

É a tal linha onde buscamos sempre algum equilíbrio. É que uma pessoa precisa sempre de ter algum controlo sobre o desconhecido para se sentir segura, uns mais do que outros é certo, uns mais num extremo do que outros. Não há ninguém que consiga funcionar sem sentir que controla alguma coisa. Nem que seja um controlo fantasioso, como o da morte. Afinal, sabemos que é para todos mas não sabemos verdadeiramente a todos os minutos e a toda a hora, senão nem nos levantávamos da cama.

gralha disse...

Continuarei a esticar a linha, nesse caso ;)

angela disse...

Olá Gralha!
O meu médico fala-me em tom de brincadeira,mas ao mesmo tempo com certa sobranceria sobre o Dr. Google:)
Estou num processo de fiv´s e atormenta-me tanta coisa, mas o que realemnte me destroi é a falta de certezas. Parece-me que é preciso ter uma fé na medicina que não tenho (aliás estou nesta caminhada devido a ter sido vítima de negligência médica....)
Para mim estamos num processo de tentativa/erro...para o médico estamos a investigar e a saber cada vez mais...
Enfim, a mim o Dr. Google dá a sensação de dever cumprido porque tentei, esforcei-me por fazer a minha parte e estar alerta a falhas e negligências.

gralha disse...

Olá Ângela! Sou grande fã do Dr.Google mas há que tentar filtrar aquela informação toda, o que muitas vezes é difícil. Boa sorte com a(s) FIV e coragem para a espera :)

Maria Bê disse...

Também sou fã do Dr. Google. A mim, dá-me alguma informação que me permite compreender melhor o que o médico diz e, às vezes, antecipar algumas questões que poderiam não ser respondidas. Não gosto de médicos sobranceiros, não somos iguais no conhecimento médico, obviamente, mas é um direito meu ser bem informada sobre o que me aflige e essa é uma obrigação do profissional. Tenho a vantagem de saber ler artigos científicos (não sobre medicina, naturalmente, mas sobre a estatística que usam) e isso dá-me segurança (e a necessária arrogância). Mas mesmo que não tivesse...
Também lhe chamo Dr. Google--sorrisos!

gralha disse...

Convém é não esquecer que o Dr.Google não nos devolve resultados de uma forma isenta e que uma mentira com muitos hits (ou patrocínio) ultrapassa verdades menos populares. Nem vou entrar na questão dos artigos científicos, Maria Bê (não sei se sabes mas trabalho numa revista científica).
Por exemplo, como é que googlando "gralha" eu só venho em sexto lugar? Há aqui marosca.

Ana disse...

Ângela, eu tirei um "doutoramento" via google à pala da infertilidade :) Li tanta coisa, tantos estudos, tantos testemunhos, que quando ia às consultas o meu marido dizia que só faltava eu fazer o tratamento a mim própria, tal a conversação de pormenores entre mim e a médica (sim, durante um tempo roçou claramente a obsessão, precisamente porque custava-me aceitar que não poderia controlar a hipótese de não ter um filho). Com o tempo vamos aceitando aqueles números chatos e terríveis do mundo das probabilidades, mas acho que nunca se aceita totalmente que não controlamos de todo, vai-se fazendo o que se consegue com essa maldita ansiedade (e que já agora não me impediu de engravidar fica sabendo ;). Desejo-te muito boa sorte, com ou sem Dr. Google.

Ana disse...

E sou também da opinião da Maria Bê, de que procurar informação pode ser uma mais valia. Basicamente, descobri que tinha os ovários poliquisticos pela net... andei em ginecologistas, dermatologistas, etc e nenhum me fez um diagnóstico que afinal era tão simples e que me encurtou caminho em procurar a especialidade certa. É um pau de dois bicos o acesso a tanta informação, mas numa balança. prefiro que o Dr. Google não se reforme :)

Amigo Imaginário disse...

A pediatra dos miúdos diz que hoje em dias os pais já só vão ao consultório para passar a receita, porque o diagnóstico e o tratamento já trazem de casa. :)

E, sim, não há coisa pior do que abrir mão do controlo que temos - ou pensamos ter - sobre a nossa vida. Mas, bem vistas as coisas, somos sempre obrigadas a fazê-lo quando temos filhos.

gralha disse...

Mãe Sabichona, ninguém questiona que a Internet é uma grande ferramenta para a democratização do acesso à informação. É preciso é cuidado na filtragem.

Amigo Imaginário, quando temos filhos temos a maior das ilusões de controlo. E depois bem levamos com uma frigideira na cabeça.

Ana disse...

Claro que sim, não digo o contrário. Com a filtragem e com o coração... (faltou contar que conheço uma pessoa que fez uma TAC e quando veio ver à net os resultados, só aparecia informação duma doença degenerativa gravíssima, quando afinal não era nada).