22 janeiro 2015

zangam-se as comadres

Para quem não tem pachorra para os meus comentários sobre artigos que leio por aí, por favor volte amanhã, que sai um post patusco sobre os meus filhos.

Não sei quão a par estão da actual crise no financiamento à ciência e à tecnologia neste país mas, numa casquinha de noz, a investigação nacional é maioritariamente paga pelo Estado e o Estado cortou a água a mais ou menos metade do pessoal. Sendo que uns passaram a poder encher piscinas olímpicas e outros estão a lamber o orvalho. Saltando por cima da discussão política, é claro que nestas alturas os visados se voltam todos uns contra os outros. Este senhor toca numa ferida que nunca vai sarar, porque a verdade é que a produção do conhecimento estará sempre associada a uma classe profissional que é militante no seu fechamento enquanto mantém uma relação algo dúplice com o poder – condenando-o, não deixando de beneficiar de protecção institucional. E ia isto ser uma explicação breve, não há pachorra para os sociólogos, pá.
Tenho sofrido com a degradação da situação da ciência não só porque estou aqui, estou a ir para o olho da rua, mas porque sou como a criança de leite que brinca junto ao ninho da cobra, acredito na sua capacidade de superação humana, na ciência como problematização com tomates e método, brio. Apesar de já me terem explicado que as víboras fazem dói-dói, custa-me imenso a concentração da investigação num punhado de áreas cujo valor utilitário é mais imediato. E arrelia-me a mercantilização dos produtos da pesquisa, o faroeste em que está a transformar-se a divulgação científica. Por exemplo, é triste que parte do meu trabalho seja averiguar a autenticidade de revistas científicas e de conferências, cujos clones falsos surgem como cogumelos e assediam muitos desgraçados (inserir caricatura de cientista despassarado). Sinto-me parte do trio de cordas que tocava de ladecos enquanto o Titanic mergulhava. E eu já nem na guitarra pego há imenso tempo.

8 comentários:

Pisco disse...

Como te compreendo, gralha...

Ana disse...

Cada vez mais não sabemos onde pára a ficção e começa a realidade. É assustador.

dona da mota disse...

Um beijinho e olha, Acreditar, Sempre e Apesar de Tudo, pode ser bom! Pode até ter bons resultados! Há-de ser a salvação deste mundo estranho1

mm disse...

Pois, pois (como dizem os brasileiros que os portugueses dizem), ando aqui a sofrer com o pensamento de que tenho um ano de bolsa pela frente e depois mais nada. Horrível este "nada"!

Amigo Imaginário disse...

Triste, triste, triste... :(

(gosto muito dos teus posts sobre os artigos que vais lendo, sim?)

LG disse...

Já agora a minha perspectiva, de quem já esteve a fazer investigação numa área menos desgraçada em Portugal (com mais dinheiro, pelo menos) - Física. E a perspectiva é simples. É que a autora deste blog tem imensa razão no que diz. A questão é esta: se não for o estado a investir em investigação fundamental - daquela que não se sabe ou não se percebe o valor utilitário imediato, quem é que vai ser? As empresas?? Queria recordar que todas as descobertas fundamentais do seculo 20 foram feitas por acaso, enquanto se investigava algo diferente. O electromagnetismo foi desenvolvido quase por acaso financiado por uma bolsa inglesa para algo completamente diferente. Para que serve o electromagnetismo? É só a base fundamental de toda a nossa sociedade moderna - telemoveis, radar, computadores, rádio, televisão, ... E ninguém percebia a utilidade daquilo na altura. Por isso dá-me um arrepio na espinha quando ouço o nosso Douto ministro da economia a dizer que só se deve investir em ciência aplicada. Não há dinheiro para tudo, é certo; mas os nossos governantes já começavam a usar o cérebro... (e ai reside o problema)

gralha disse...

Fico louca quando me tratas por "a autora deste blog" <3 Vamos já para casa fazer a menina. :P

Pisco disse...

Se fossem só os ministros...
Já ouvi um alto responsável da Faculdade de Ciências defender que temos de acabar com a ciência fundamental, e que temos todos de produzir ciência para as empresas, ou, preferencialmente, começar start-ups. Fiquei enojada.