Mais uma carta no baralho dos what ifs desta vida: e se, há três anos atrás, tivéssemos ficado nos EUA em vez de regressar a Portugal?
É muito difícil adivinhar onde estaríamos, na verdade, porque há muita mobilidade no meio da investigação pós-doc e não é natural que continuássemos em Princeton. Talvez tivéssemos ido suportar os ventos gelados do Illinois, talvez estivéssemos a torrar num laboratório ultra-secreto do Arizona, quem sabe?
Se prolongássemos a estadia na Costa Leste, pelo menos teríamos o prazer de quatro estações do ano bem definidas. Os rapazes ja teriam um cerrado sotaque nova-jersiano (que felizmente perdemos, uff!) e já saberiam as regras do baseball. Brincaríamos na neve no Inverno, apanharíamos frutos silvestres na Primavera, ouviríamos o coaxar das rãs nas noites húmidas de Verão e participaríamos em coloridas hayrides no Outono. A nossa vida social consistiria em playdates, festas com eminentes e excêntricos cientistas e muitas idas ao mall. A vida familiar seria feita exclusivamente a quatro, com o Skype a manter uma ténue linha de contacto com avós, tios e primos.
Profissionalmente, não faço a mínima ideia do que poderia estar a fazer. Enquanto lá estive, trabalhei numa agência de apoio a pessoas portadoras de deficiência, numa empresa de desenvolvimento de sustentabilidade energética, e numa gigante biblioteca universitária. Tendo um mestrado e fazendo boa figura nas entrevistas, o céu é o limite no que toca à empregabilidade naquela zona, sobretudo agora que já passou o pior da crise por lá. Com horários muito menos tardios, não sei onde encaixaria o meu tempo, aquele que uso para ler e para o desporto, pelo que é possível que estivesse a ficar uma pequena matrona yankee. Se calhar até já tinha mais uma filha e começava a sonhar levá-la aos concursos de beleza para crianças. Entretanto, o mais velho andaria numa elementary school pública um bocado reles, porque não teríamos como pagar uma privada melhorzinha, e o mais novo estaria a apanhar com blocks na cabeça, cortesia dos colegas do kindergarten, que quando se portam mal são amavelmente convidados a ler um livro em vez de serem repreendidos. Provavelmente teríamos uma pequena casa com jardim onde eu me dedicaria a massacrar algumas plantas com a minha inépcia floral nos reduzidíssimos tempos livres, enquanto tentava acumular trabalho, três crianças e tarefas domésticas nas muitas ausências de um marido sempre com conferências e seminários em algum ponto distante do planeta. Bom, já estou deprimida que chegue com a ideia. Bolas, ainda bem que voltámos.
5 comentários:
Num dos grupos do FB que participo, uma americana pergunta que arma as outras levam quando vão correr. Ri-me da pergunta, assustei-me com as respostas.
Deixa-te estar por cá.
É giro imaginar essas coisas... Este verão, na Irlanda, perguntei-me muitas vezes como teria sido tudo se tivessemos optado por ficar a viver lá, ao casar! Os meus filhos teriam quase dez vezes mais primos lá do que têm cá... Enfim, a escolha foi feita. Só se vive uma vez! E acho que foi bem feita! Ab Teresa
O nosso Portugalinho ainda é bem bom para uma certa qualidade de vida :)
Glup, Melissa.
Teresa, ainda bem que também estão felizes com a vossa escolha :)
Naná, o nosso país é maravilhoso, disso nunca duvidei.
Estou com a Naná... Portugal é um país absolutamente delicioso e tenho muita pena de viver tão longe. Nem o Skype atenua as saudades. Mas, lá está, a qualidade de vida aqui é outra. E tenho tempo para apanhar amoras no meu jardim e fazer uma tarte. Quer dizer, não é bem ter tempo. Ou não é apenas ter tempo "em horas". É principalmente ter tempo "de espírito".
(Acho que isto ficou um bocado confuso...)
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