Admito que prezo com paixão sanguinária a minha liberdade. Será porventura dos traços que mais marcam a minha personalidade. Apesar de ser uma filha muito tardia do 25 de Abril – ainda andei de jardineiras castanhas e camisolas de gola alta amarelas mas nunca fui às cavalitas a manifestações do 1º de Maio – faço parte desta geração de herdeiros inconsequentes da liberdade. Ela não é uma conquista, é mais uma evidência.
Os da minha idade puderam escolher curso, namorados, profissões, trabalhos, onde queremos viver, com quem queremos viver, se e quando temos filhos, que amigos fazemos e mantemos. Mas é tão ilusória esta noção absoluta de liberdade. Todas as escolhas são condicionadas pelo nosso contexto particular e volúvel. Num dia somos a jovem universitária com um futuro promissor, no outro somos a mãe divorciada que não consegue esticar a carteira no mês de Setembro.
Liberdade é o tanas. Liberdade são breves momentos em que vimos à tona numa vida cuja maior fatalidade pode nem ser a hora do fim que, já agora, também gostaríamos de poder escolher.
Mesmo assim corremos atrás deste direito inalienável que é a liberdade. Chegará talvez o dia em que esta sede de controlo nos fará querer dominar em absoluto o nosso tempo e o nosso espaço, as pessoas que lá deixamos entrar, até nos sentirmos absolutamente livres, no topo da montanha. E completamente sozinhos, porque isto de encarar grandes desafios em conjunto implica conciliar ritmos e vontades diversas. Livres, sozinhos e tão leves que poderemos dissolver-nos no ar.
7 comentários:
É. E quando aceitamos que nunca somos totalmente livres, e que isso não é uma coisa má, parece-me que até ficamos muito menos presos.
Espero que sim, Mãe Sabichona. Mas eu sou muito lenta de compreensão, é uma maçada.
Para mim, neste momento, o máximo de liberdade que almejo é contratar alguém para ir a casa uma vez por semana passar a ferro. Há que estabelecer limites/objectivos, o meu é este! E é divinal!
Eu já nem consigo responder mansamente aos teus comentários do engomanço...
CAGA NO FERRO, mulher. Sim, é possível.
Ahahahaahahah
Só tu é que me fazes ter noção das vezes que falo nisso... estou mesmo traumatizada... Ahahahahahahahaahahh
Vou por uma nota no monitor a dizer: "Não comentes cenas de engomanço com a Gralha"!!!
Põe antes a nota... no ferro :P
Tão grande verdade, identifiquei-me em tudo, principalmente na parte geracional de filha tardia do 25 de abril com jardineiras e camisolas de lã, ou a mãe divorciada que não consegue esticar a carteira no mês de Setembro. Excelente.
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