Uma criança brinca sozinha, de cócoras, enquanto esgravata o solo. Risca e alisa, ignora que, no final do dia, lhe vão esfregar as unhas a escova e sabão. É a mesma criança que se há de deitar na terra a olhar para as nuvens. Faz a experiência ancestral do conhecimento pelo toque. Testa a textura dos torrões, tenta pinçar uma formiga. Coleciona sementes, faz festinhas na erva. Bichos-de-conta para tantas horas de recreio, uma vida novinha em folha. Ser terra-a-terra é não deixar que o vento disperse essa herança. A corrente que prende a âncora de um navio ao fundo do mar precisa de ser móbil mas sólida. A corrente que prende a divagação à essência do que somos agarra-se à terra com mãos e pés que aprenderam desde cedo a dar de si, ou a enfiar os dedos mais fundo, quando é preciso.
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