28 setembro 2006

qual é o objectivo?

Ok, não há maneira bonita de dizer isto: comprei um champôo que cheia a pum. Uma pessoa vai ao supermercado, não encontra o produto habitual e pensa: ah, aquele tem uma embalagem bonita. Abre-se a tampinha, cheira-se e, enganadoramente, parece que está tudo muito bem. Acorda-se de manhã, salta-se para a banheira (repara-se que o umbigo já está a querer saltar cá para fora...), liga-se a água, abre-se o champôo, despeja-se uma porção para as mãos - oh, que bonito, é côr-de-laranja fluorescente - e eis que, em contacto com a água, aquilo cheira a pum. E agora? Deito o resto para o lixo? Compro um amaciador para disfarçar, correndo o risco de misturar outro odor ainda menos agradável? O que vale é que quando passei por água aquilo passou (espero eu...). Pronto, toda a gente tem direito a um post de humor (?) escatológico de vez em quando.

26 setembro 2006

mais um mimo burocrático

Na secção de mestrados da minha universidade, depois de meia hora à espera para ser atendida:
- Bom dia, vinha saber se existe algum regulamento para a apresentação das teses de mestrado. Algum tipo de normas, regras...?
- Sim, mas vai ser-lhe enviado um auto para casa com isso.
- Está bem. Já agora, podia ver no sistema qual é a minha morada que tem aí? É que eu mudei duas vezes de casa nos últimos meses.
- Ora bem... É esta: Rua de Cima, número...
- Logo vi, essa é mesmo a mais antiga. Será que pode alterá-la aí no seu computador?
- Não, não. Tem de preencher um formulário. Só um momento que eu vou buscar.

5 minutos depois...

- Aqui está.

Preencho o meu nome e a nova morada.

- Já está, muito obrigada.
- Agora tem de ir ali à tesouraria pagar 1,25€. Tem de tirar uma nova senha.
- Desculpe? (grande sorriso incrédulo) Tenho de pagar para alterar a minha morada no vosso sistema?
- Próximo!

Lá tirei a senha. E lá esperei. E lá paguei os 1,25€. Tenho uma página A4 de recibo que o comprova. Vou apressar-me a guardá-lo para os descontos nos impostos.
Para quando a cobrança do papel higiénico? É que, nessa altura, vou exigir um que não tenha consistência de lixa. Ah, claro, e com isto tudo continuei sem saber quais as regras para a apresentação da tese.

25 setembro 2006

meet the fockers

Quem tiver visto este filme compreenderá o estado de nervos em que eu estava antes do almoço de ontem. Para evitar que os meus pais e os do L. se conhecessem na maternidade, e depois de anos de evitamento do inevitável, lá resolvemos juntar os projenitores todos e tentar sobreviver a este dia memorável. É que os nossos pais são diferentes da noite para o dia. Deixem-me lá ver o que é que eles têm em comum? Umm... São humanos. Pesadelos e pesadelos que eu tive antes mas até nem correu mal. Estavam todos muito arranjadinhos, muito reservados e munidos dos devidos por-quem-é. Com um bocadinho de malabarismo da minha parte, lá se conseguiu evitar colisões de maior. Ou seja, evitar os assuntos políticos, económicos, religiosos, de educação, financeiros, futebolísticos, regionais. O que é que sobra? Os cães e o neto que vem a caminho.
Pai do L.: E o estado em que este país está, heim?
Gralha: Pois, olhem só que dia tão bonito que afinal se pôs. Ninguém estava à espera...
Pai da Gralha: Dá-me ideia que o Sócrates ainda vai ficar por cá mais uns tempos.
Gralha: E se fossemos dar um passeio a pé? Estava mesmo a apetecer-me era um passeio a pé.
Mãe da Gralha (dirigindo-se à Mãe do L.): Veja lá que a Gralha sonhou no outro dia que estava a vender os cães (é verdade... para minha grande vergonha...). Não é engraçado?
Gralha: E se fossemos à Torre de Belém? Está um tempo tão agradável, pode ser que não comece a chover entretanto...

22 setembro 2006

educar para o futuro desconhecido

O tempo passa e tornamo-nos cada vez mais educadores, com cada vez menos paciência para ser educandos. Já não podemos ouvir os comentários, críticas e reparos dos pais (normalmente mais das mães...), mesmo que bem intencionados, que não sabem muito bem como gerir o seu novo papel de pai/mãe de um adulto que já saíu do ninho. Ao mesmo tempo, educamos cães (ou, antes, tentamos. os meus andam impossíveis ultimamente), crianças e jovens (enquanto professores, formadores, catequistas). Enquanto casal, tentamos educar-nos mutuamente para estabelecer limites, para definir prioridades, estabelecer terrenos de convivência pacífica no meio das diferenças e do amor. Andamos muitas vezes aos apalpões, no jogo da tentativa/erro, definindo-nos a nós próprios pela forma como entramos em cada uma destas relações e lidamos com as regras que cada uma delas define.
Tendo consciência disto tudo, não me assusta assim muito antever que terei de educar em breve um novo ser humano. O que me impõe respeito é saber o peso incomparável (bom, comparável apenas ao do pai) que terei na formação desta pessoa que aí vem. Porque o meu filho será uma pessoa autónoma um dia. Começará por depender de nós para tudo, mas depois vai sair para o mundo com os instrumentos que lhe dermos. Será que vou criar um cientista? Será que vou criar um ditador? Será que vou criar um cidadão anónimo que vai limitar-se a viver a sua vida em tranquilidade? A maternidade é mesmo uma arma muito poderosa.

20 setembro 2006

a bela da sande

Quando uma pessoa está grávida, várias coisas se alteram, umas mais óbvias que outras. Uma das mais estranhas é a mudança de gostos no que toca a comida. No meu caso, (ainda) não tive nenhum desejo estranho mas há coisas que passaram a saber-me muito melhor e outras muito pior.
Estou em condições de afirmar que ontem comi aquilo que me soube melhor nos últimos 5 anos. Não houve lagosta, chocolate, cheesecake, feijoada, tarte de limão, pizza, caviar (já vêem que gosto de coisinhas muito saudáveis), coisa nenhuma que se tenha comparado à bela da sandes de fiambre (que até devia ser era do chamado filete afiambrado, barradinho com margarina) que comi ontem ao lanche. Por que é que estava tão boa, transcende-me, mas até sonhei esta noite que tinha ido pedir para me reservarem uma sandocha daquelas todos os dias. Mal posso esperar pelas 17h00!

19 setembro 2006

por que é que não gosto de andar de taxi

Qualquer condutor de Lisboa partilhará comigo a irritação com os taxis que sistematicamente apitam 1 milésimo de segundo depois de o semáforo passar a verde, que não usam o pisca antes de virar, que fazem as rotundas todas pela faixa da direita para depois se atravessarem à nossa frente (esta é a minha preferida), entre muitas outras pérolas. Ontem, ao conviver pelo lado de dentro com esta realidade, pude ficar ainda mais encantada. Passados 2 minutos de entrar no dito veículo, já o motorista me estava a tratar por tu e a dizer: "sabes, gosto muito de ti..." mau! "gosto, gosto! gosto muito de meninas assim novinhas...". E assim continuámos, ele espumando um sorriso medonho pelo espelho retrovisor e eu a ver que não podia saltar em andamento porque já estavamos a entrar na auto-estrada de Cascais e lá se ia o meu bebé num abrir e fechar de olhos. Ele mandava boquinhas e dava-me conselhos automobilísticos. Eu mantinha o meu carão mais antipático possível e respondia com monossílabos, mas só se acalmou um bocado quando lhe disse que sim, que ia falar disso da mudança do óleo ao meu marido. Mesmo assim, à saída, só faltava pedir-me uns beijinhos de despedida: "não te vais esquecer de mim, pois não?" ai não, não vou! "gostei muito de vir contigo, também gostaste?" amei...

Com isto tudo, não pretendo dizer que todos os motoristas de taxi sejam condutores pouco civilizados e/ou tarados. Já viajei com alguns educados e cuidadosos. Infelizmente, são as más experiências que marcam.

14 setembro 2006

respiro

Peço desculpa aos amantes do sol e do calor - grupo no qual orgulhosamente me incluía antes de estar a gerar um rebento - mas OBRIGADA pela chuva e pelo fresquinho que finalmente chegaram! Para o ano volta o Verão e, com sorte, eu também vou voltar a gostar de torrar o dia inteiro na praia (ataquem-me agora os dermatologistas, vá), de subir a uma montanha às duas da tarde, de passear pelos (quase) desertos do Alentejo no pico de Agosto. Mas, para já, deixem lá vir a chuvinha e o cheiro insidioso do Outono que se aproxima. Deixem-me conseguir dormir com alguma roupinha sobre o corpo para não ser apanhada desprevenida pelos cães quando me levanto a meio da noite (lá por eles andarem nús pela casa, eu não tenho de partilhar o mesmo com eles).
Ah, e excelente notícia: 1 ano, 1 mês e 3 dias depois de terminar a tese de mestrado, vou finalmente defendê-la (não que ela mereça muito, mas isso é um aparte) . Há esperança de ser mestre antes de ser mãe, fantástico!

13 setembro 2006

(in)tolerâncias

Vi anteontem um filme muito bom, Algures em África, que conta a história de uma família judia alemã obrigada a fugir para o Quénia no início da 2ª Guerra Mundial. Tal como tinha acontecido com o Colisão, fiquei a pensar que, realmente, há um bocadinho de intolerância em todos nós, e que cada um, mais ou menos, a dirige para aqueles que desconhece, que não compreende.
Como socióloga, católica, filha, amiga, entre muitas outras identidades que tenho, contacto muito com estas diferenças e mesmo com divergências relativamente grandes. É curioso como a quase todos os que me rodeiam mais directamente reconheço alguma tolerância... E, no entanto, o que uns defendem é precisamente o que os outros não aceitam. O que é 'normal' para uns é exactamente o que é fora do 'normal' para outros. Nenhum consegue ver sem ser através dos seus próprios óculos, sem sequer ter consciência que não tem, como ninguém, uma visão 100% isenta. E cada um, com a melhor das intenções, me tenta vender a sua sentença.
Às vezes sinto-me uma gralha muito pequenina, perdida no meio de tanta confusão, presa por ter cão e presa por não ter.

Se calhar este post está demasiado confuso mas precisava de o escrever.

11 setembro 2006

este mundo

Já assisti a muitas tragédias, de causas naturais e humanas, mas há qualquer coisa de angustiante com o dia de hoje, em que se assinala o ataque ao WTC. Lembro-me perfeitamente de sentir que o mundo tinha mudado nesse dia, como se só aí tivessemos mudado de século, como se a lógica das coisas a que estávamos habituados tivesse deixado de fazer sentido.
Houve outros ataques terroristas. Houve guerras com a justificação da luta contra o terrorismo. As pessoas continuam a fazer as suas vidas e, para a maioria de nós, a única coisa que mudou visivelmente foi a maior segurança nas viagens aéreas. Mas ainda acho, 5 anos depois, que o mundo mudou mesmo. Houve uma perda de inocência irreparável, o fim da ilusão de invencibilidade de uma minoria do mundo que se esquece (esquecemos) que é isso mesmo, uma minoria.
E é este o mundo em que o meu filho vai nascer. O que é que lhe vou dizer sobre isso? Ainda não sei, falta muito tempo. Mas quero transmitir-lhe os valores da tolerância e da empatia perante a diferença. Quero que esteja o mais informado possível sobre a sua História e sobre o dia a dia, para que possa pensar pela própria cabeça. Quero que não faça julgamentos precipitados mas que não deixe de ter e defender as suas convicções. E também queria que se pudesse sentir seguro como eu me senti sempre ao longo da infância.

08 setembro 2006

é um gralhinho!

Não há palavras para descrever a emoção que senti hoje, ao ver o meu bebé aos pinotes na minha barriga! Parece que só agora acredito mesmo que vou ter um filho, que há uma vida a crescer dentro de mim. Não quero soar lamechas mas é mesmo um momento único!
Felizmente, parece que está tudo bem. Pudemos ver os órgãos todos no sítio, os pezinhos, as mãos tão perfeitinhas! E a médica ainda disse que, em princípio, é um menino - contra a previsão de toda a gente menos eu, que senti logo que vinha aí um grande macho, eheh. Agora é esperar mais estes meses todos que ainda faltam e, entretanto, preparar-me para receber o meu filhote com muita alegria e tranquilidade :)

07 setembro 2006

louvores ao serviço público

E porque nem tudo é mau nos serviços do Estado, venho aqui dar testemunho do bom atendimento com que fui recebida hoje pela minha nova médica do Centro de Saúde. Não se atrasou (!), foi simpática e meticulosa, ou seja, não tenho razões de queixa. Lá me marcou as análises e tudo e tudo. Amanhã lá vou espreitar o meu bicharoco outra vez :D

06 setembro 2006

aqueles livros

Ao longo da infância e da adolescência li muito. Coisas boazitas, coisas medíocres, coisas incrivelmente maravilhosas e inesquecíveis. De há uns tempos para cá, e ainda que continue a ter de ler bastante - se calhar até por isso, sobretudo depois da dieta forçada de cerca de 3 livros técnicos por semana para as teses -, nunca mais encontrei daqueles livros que me arrebatem, me façam largar tudo para ler e, no fim, deixem saudades como poucas pessoas.
Lembro-me de casos como Os Pássaros Feridos, em que há cenas que tenho gravadas como se as tivesse vivido eu. Antes disso, A Ilha Misteriosa, sem dúvida responsável pela minha actual fixação na série Perdidos. Mais tarde, As Cinzas de Ângela e A Vida de Pi, que alimentaram o meu gosto pelo humor trágico e a curiosidade sobre a passagem da infância à idade adulta.
Sinto mesmo falta de viver intensamente pelos olhos de uma personagem, num lugar longínquo, num tempo diferente. Sinto falta desse desafio à nossa forma de ver o mundo e nos entendermos a nós próprios. Sendo assim, quem tem sugestões (sim, porque não tenciono passar os próximos meses a ler só sobre fraldas e chupetas)? Recomendem-me os vossos livros preferidos, aqueles que mudaram um bocadinho de vós. A gralha agradece.

04 setembro 2006

praias

Agora que a época de praia por excelência se aproxima do fim - ainda que a praia seja boa todo o ano - pus-me aqui a reflectir sobre o que faz de uma simples praia 'a praia'.
Todos já tivemos experiências melhores e piores no que toca ao molhar o pezinho na água salgada. Eu própria, este ano, tive uma inesquecível (pela negativa), como se poderão recordar. Se aquilo que define uma boa praia varia de pessoa para pessoa, já que há quem goste de ondas para surfar e há quem goste de dunas para namorar, como ainda quem goste de gente para se mostrar em quem goste de areais desertos para se perder, acho que todos encontram a sua praia como quem se apaixona. Chega-se lá, o mar inunda-nos os olhos até nos sentirmos a explodir com aquele exagero de azul e toda a envolvente parece única. Estava ali à nossa espera. E espera-nos sempre até regressarmos.
A minha praia é a mais bonita do mundo, claro ;). É interminável e termina numa baía com pequenas rochas, depois de quilómetros de areia dourada. Tem uma falésia branca, amarela e vermelha, do topo da qual espreitam pinheiros mansos e ninhos de abelharucos. Cá em baixo, ouve-se as cigarras e as ondinhas minúsculas a chamar por mim. E eu lá vou, quando posso, sempre menos do que gostaria.
Isto tudo porque ontem fui a uma praia ranhosa. Caramba, que desilusão! Em vez de mar, nevoeiro. Em vez de areia, gravilha. Mas também é a praia de alguém. Que lhe faça bom proveito!

01 setembro 2006

reacções

É tão engraçado como as pessoas reagem de maneiras completamente diferentes à notícia de que vem aí um gralhinho. É ver homens a chorar de alegria, amigas aos guinchos, amigos a só acreditar passados 5 minutos... Mas a reacção que mais antecipo é a da minha Avó. Como está no Norte e esta é uma notícia importante demais para ser dada pelo telefone, resolvi escrever-lhe uma 'carta de apresentação' com direito a cópia da ecografia. A carta será entregue pela minha prima, com o devido aviso para que a prepare para a surpresa. Estou certa de que vai ficar radiante e sem palavras :) Contar à minha Avó é diferente de contar a todos os outros... Ela é a última de uma geração e sinto que estou a passar o testemunho de tanta gente, tanta história, tantas estórias que não poderei deixar de contar. Mal posso esperar por vê-la com o meu bebé nos braços, com aquela ternuna que só ela tem.