31 julho 2012

(também) é para isto que servem as férias

Depois do pequeno aperto de coração ao receber um relatório da escola que elogia, elogia, mas anota que ele "é uma criança insegura", não há nada melhor do que acordá-lo (após uma semana de mergulhos, body-board, novos amigos) e ouvi-lo dizer que sonhou que estava a receber uma medalha de ouro olímpica. Tenho a certeza que pode tornar-se realidade, meu amor.

19 julho 2012

post interesseiro

Visto que tenho de fazer a lista de coisas para emalar hoje à noite, para as férias, e inspirando-me nas dicas devidamente surripiadas à  Muxy-muxy, aqui fica a minha lista por pax (que assim já serve para as próximas viagens, sem gastar papel). Ah, desafio-vos a fazerem uma menor que a minha :)

toalha de praia
7 t-shirts
2 sweat-shirts
3 calções
2 calções de banho
chinelos
ténis
cuecas e peúgas
pijama
fraldas e toalhitas
biberon/caneca
nécessaire com: soro, termómetro, ben-u-ron, brufen, protector solar, repelente de insectos, escova e pasta de dentes, pente.
brinquedos de praia e livros
respectivo peluche para dormir
garrafa de água
babete

(ah, como é bom eles já estarem crescidos!)

17 julho 2012

aprovisionamento

A boa formiga passa o Verão a juntar sementes, de um lado para o outro, atarefada e aplicada na antevisão de um Inverno de penúria. A boa gralha aproveita esta época para guardar bons momentos junto daqueles de quem gosta, a fazer coisas que lhe dão prazer, e a sonhar (acordada e não só). Volta qualquer dia, quando tiver a sacola bem cheia e as penas devidamente tostadas e cobertas de sal. Até breve :)

12 julho 2012

coisas que nunca quis ser mas, em particular, hoje em dia

EMELica.
Professora de Ciências da Natureza num colégio masculino da Opus Dei.
Técnica de endoscopia.
Operadora de telemarketing.
Funcionária de uma unidade suinícola.
Miguel Relvas.

Humilde contributo para o anedotário rélvico em permanente actualização.

deixando de ser parte de nós


Não sei se já alguma vez alguém se dedicou a construir um indicador de galinhismo na maternidade (com tanto sociólogo e psicólogo social por aí, já deve haver alguma dissertação sobre o assunto), mas suspeito que devo andar dentro da média nacional desta medida. Digamos que me sinto equidistante entre o terror permanente que me roubem as crias e a vontade de lhes sacudir o pó quando desatam à bulha pela enésima vez, para ver quem escolhe a estória antes de ir dormir. Enfim, isto para dizer que não devo ser a única que já percebeu que eles nunca deixam completamente de ser parte de nós. E que, cada vez que deixam mais um bocadinho, o coração murcha-nos mais um pouco (e enche-se proporcionalmente de orgulho). Desde que nascem, perdemo-los quando cortam o cordão umbilical. E quando saem do nosso quarto. E quando deixam de mamar. E quando vão para a creche. E quando comem sozinhos, quando largam a chucha, a fralda, a mão, ao atravessar a rua… E depois são eles e só eles, únicos. Mal reparam que replicam o nosso olhar e o nosso sentido de humor. Saem do ninho, uma e outra vez. De cada uma destas vezes, alegro-me por não depositar toda a energia, emoções e expectativas nos meus filhos, por muito que estejam no topo das nossas prioridades.

10 julho 2012

yes we can (even if we shouldn't need to)

Estou cansada, can-sa-da, de ouvir mulheres* apregoando o seu estoicismo intocável, a sua dedicação à dieta desnecessária, o seu investimento hiperactivo em múltiplos projectos profissionais que disfarçam tão malzinho inseguranças laborais e incertezas vocacionais, e o seu empenho - e consequente sucesso - em relações de sonho. A sério, cansam-me mais do que as cascatas de pulseiras, sapatos e vernizes que adquirem tons néon nesta altura do ano e nos ferem a vista mas, pelo menos, não nos fazem questionar se seremos nós as únicas cansadas, com medo, a chamar nomes à sorte de vez em quando, e com vontade de beliscar o parceiro nem-sempre-perfeito, que se esquece de levantar a tampa da sanita mas, vá, gosta de nós mesmo nos dias de maior rabujice.

* sim, porque não há homem que se sinta na necessidade de suportar tudo e mais alguma coisa desde que a metrossexualização lhes assaltou os nécessaires e as conversas.

09 julho 2012

carreira

Ao que parece, dos dois aforismos:

Ninguém é insubstituível
e
Mãe há só uma

, o primeiro é mais falacioso, pelo menos a atestar pelo estado de farrapo emocional em que encontrei os meus filhos este fim-de-semana, depois de vários dias em que vendi o corpo e a alma à entidade patronal. Ainda assim, apesar de ter dado com eles de unhas ratando sapatos, cabelos desgrenhados, ranho seco escorrendo pela roupa de cores desirmanadas, e muita, muita necessidade de colo, também houve o lado bom de verificar que isto de ser uma mulher 100% carreira é largamente sobrestimado. Está bem que fiz coisas interessantes, conheci pessoas inteligentes, estive onde e quando as coisas estavam a acontecer. Mas admito que não me dá tanto prazer o reconhecimento de um ilustríssimo conferencista como o de um filho, quando vê que fico à espera para lhe acenar enquanto entra no autocarro para ir em passeio com os colegas. Já sabia que as minhas ambições eram comezinhas; não sabia era que alguns dias de baldanço maternal me davam logo cabo das competências, ao ponto de me esquecer de fraldas ou de deixar de compreender o dioguês. Se é para fazer malabarismo, é melhor ficar-me pelas habilidades que já conheço.

05 julho 2012

para a semana é que é

Diz-me a wikipédia que o Sr. Gulbenkian quis deixar coisas bonitas ao nosso bom povo, não sei se só por devoção cristã, se também porque antevia com uma espécie de moralidade visionária a herança pesada de ter ajudado a estabelecer algumas das futuras grandes petrolíferas. O que é certo é que tenho à porta de casa uma entrada secreta para o País das Maravilhas. Passamos o portão e mergulhamos no silêncio das árvores, dos arbustos, das famílias de patos, dos auditórios onde ecoam os concertos da noite anterior, e das obras de arte que nos miram, se passarmos distraídos. Gosto muito deste meu jardim das traseiras. Gosto de ler na relva. Gosto de pastar as crianças. Gosto de ir bem cedinho e correr, tentando evitar a rega automática implacável, e prestando atenção para não pisar nenhum cágado nem torcer um pé nos degraus de cimento. Serena-me pensar que aquela possibilidade de tantas coisas boas está mesmo ali ao lado. E mesmo que ainda não tenha ido a um único concerto ao ar livre desde que lá vivemos, ainda que esteja sempre a adiar planos de piqueniques espontâneos ao fim da tarde, é bom saber que é só sair porta fora.

04 julho 2012

porque é tudo muito bonito, mas convenhamos

Já suspeitava o que hoje confirmei: o mundo ocidental separa-se entre os que salivam com o kitsch e os que acham que aquilo é tudo uma grande piroseira. Antes do conceito se vulgarizar, eu via envergonhada o Made in Portugal, aos sábados à tarde, e arrepiava-me gulosamente com os requebros da Ruth Marlene. Em plenos anos 2010 - ainda não há designação para isto, pois não? - posso sair do armário e dizer: sim, eu gosto de ver uma mesa posta com toalha de papel sobre um chão de linóleo. Gosto de sacos de ráfia e pacotes de Omo. Fazem-me sorrir as cortinas de tiras-de-plástico-afasta-moscas, enternecem-me as Nossas-Senhoras-de-Fátima fluorescentes e homens pequeninos de bigode (do tempo em que ainda não tinha voltado a ser moda) a beber minis. Ver o Aquele Querido Mês de Agosto inunda-me o coração, como me enchem de orgulho os empreendedores que arrendam antigas salas de fiação na LX Factory, onde os fantasmas de tecedeiras sindicalistas de filhos ao colo dançam com designers de óculos de massa e Birkenstock no pé. Passado e futuro numa promiscuidade assumida, pobrezas envergonhadas e precariedades abrilhantadas convivem alegremente. Adoro isto no meu tempo e no meu espaço. Principalmente porque o vejo como espectadora, que isto uma pessoa chega a casa e gosta de ter toalhas turcas lavadas e da ligeira sensação de superioridade moral de ter vindo a ouvir Antena 2 pelo caminho.

03 julho 2012

fases

Houve o tempo em que todos os amigos se casavam, em que nos queixávamos da quantidade de vestidos, e penteados, e fins-de-semana de Verão dedicados a bodas com muito marisco e mesas de bolos até de madrugada. Depois (muito depois de nós), veio a época do filhos. Barrigas, ecografias, fraldas bordadas, nomes, coisinhas pequeninas iguais aos nossos amigos (ou amigas), sobrinhos herdados, primos emprestados. E agora chega a temporada das separações e dos divórcios. É triste. E faz-nos pensar que, de alguma forma, já devemos ter passado o pico da montanha.

02 julho 2012

sinto-me na obrigação de alertar para isto





(e ainda: colega de outro centro de investigação que trabalha num gabinete perto do meu)

Minhas senhoras, existe uma coisa muito útil que, certamente, usavam na escola primária:

Post muito patetinha, no seguimento de outros posts muito patetinhas, que ainda hei de descobrir formas menos infantilóides de lidar com a preocupação. Mas ainda não descobri.