10 agosto 2012

tempo de exclusividade


Toda a verdade: o melhor de ser mãe-que-trabalha não é a passagem diária pelo mundo dos adultos; também não é o luxo de pegar numa bolinha rabugenta que acordou com a telha e depositá-la confiantemente no colo de uma (santa) educadora; e nem sequer é sentirmos que nos reconhecem valor intelectual para além da capacidade incrível de preparar refogados e banhos ao mesmo tempo que contamos estórias. Não, o melhor é mesmo este momento antes de ir de férias, em que antevemos todo o tempo para mimar, brincar, passear, cozinhar, dançar, acampar no beliche, encher o cabelo de sal e areia, e não desejar estar em mais lugar nenhum do mundo.

09 agosto 2012

comedimento

Houve um cavalheiro chamado Luís (provavelmente) com uns pés menos bonitos - mas não foste tu, pois não, marido? - que ficou sentido porque comentei noutro blogue que os homens devem evitar o uso indescriminado do chinelo. Ora, uma pessoa leva a sua existência pretenso-pós-moderna a tentar livrar-se de cada um dos seus preconceitos e é assim confrontada com esta fraqueza: será verdade que sou intolerante? É. A liberdade é um dos conceitos mais bonitos que há mas o meu sentido estético é um monstrengo conservador e implacável. Não gosto de ver mamas vazias e pingonas de topless. Não gosto de ver coxas celulíticas de calçãozinho curto. Não gosto de ver portuguesas de tez azeitona-de-elvas vestidas de tons pastel e com nuances platinadas. Não gosto de ver homens barrigudos de tanga. Não gosto de ver homens com as pernas depiladas. Não gosto de ver isto e muitas outras coisas, mas vejo-as todos os dias porque as pessoas são livres de trajar o que lhes der na telha. E eu guardo as minhas opiniões no bolso e evito comprar, usar, experimentar o que muitas outras pessoas usam porque o meu espelho deve ter um problema qualquer de hiperrealismo para me compensar a hipermetropia congénita.

08 agosto 2012

como se não estivesse calor que chegue hoje


Gosto muito dos Jogos Olímpicos. O meu pai acordou-me na madrugada de 12 de Agosto de 1984 para eu não perder o Carlos Lopes a conquistar-nos o primeiro ouro. Desde então, fiquei com o bichinho. Bem sei que está tudo comercializado, vendido a interesses corporativos, pintando ideais de justiça e igualdade de oportunidades que não revelam diferentes níveis de investimento, dopagens administradas até aos limites regulamentares, e rivalidades cegas que alimentam muita fornalha de horas e horas de treinos até aos limites da dor e da resistência. Mas eu sou só humana, talvez até um bocadinho neardental: gosto de ver a nossa espécie a dar o máximo das suas capacidades físicas e anímicas. E gosto de ver isto, ah pois gosto. Desportos aquáticos, a que é que pensavam que me referia?





06 agosto 2012

desconcentração

Estou a ler um livro tão bom, tão bem escrito, e que se arrisca a mudar tanto a minha vida, que mal consigo lembrar-me de tirar a comida do lume antes de queimar, de lavar a cara aos miúdos, ou de como encontrar o caminho para o trabalho. Felizmente há a Bimby, eles estão homens feitos, e há três semáforos eternamente verdes entre casa e o emprego, numa Lisboa vazia. Não tenho é tema para blogar. Ah, é o Freedom, do Jonathan Franzen.