29 fevereiro 2012

leva-as o vento

Era bom que idade fosse sinónimo de sabedoria mas começo a suspeitar que isso nem sempre é verdade. Se há coisa que gostava de ver a aparecer em mim, em vez das rugas e dos cabelos brancos, era a capacidade de medir as palavras. Não é que eu fale muito, sai-me é tudo em catadupa, sem medidas de contenção nem gestões emociorçamentais que me valham. Não posso continuar a desculpar-me com o signo, com o género, nem com a nacionalidade, e envergonho a minha Mãe se disser que foi da criação (não foi, que ela é a rainha do auto-controlo). A verdade é que sou uma desbocada sem remédio. E já era altura de não ser assim, caramba.
As palavras, esses pequenos seres volúveis e imprevisíveis, não costumam ir com o vento sem antes entrarem em ouvidos e marcarem corações. Por isso, tive de ir aprimorando pedidos de desculpa, acho que já podia escrever um manual. Mas isso é de pouco consolo. Resta-me acreditar que, lá pelos quarenta, vou mesmo conseguir ficar calada. E que, entretanto, também abro a boca para dizer coisas bonitas, que amaciam almas e enchem egos. Os mais sensíveis que me vão perdoando.

28 fevereiro 2012

ainda recuperando das gravidezes

Vejo por aí o pessoal a queixar-se de como é duro recuperar o corpo depois de ter filhos.
Eu queria era recuperar o cérebro. Ca burra que me sinto às vezes, senhores! Isto antes não era assim.

27 fevereiro 2012

ommmm

Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.
Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.
Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.
Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.
Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.
Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.
Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.
Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.
Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.
Não voltarás a negligenciar o teu corpo porque quando te mexeres vais sentir-te uma múmia estropiada.

22 fevereiro 2012

ciências exactas vs. ciências sociais

Gugas: Por que é que os copos são transparentes?

Em uníssono:
Pai: Porque são feitos de vidro.
Mãe: Para vermos o que está la dentro.

E tanto, tanto que estas respostas dizem sobre cada um de nós. Em abono da verdade, diga-se que a minha resposta não foi apropriada, eu respondi a "para que é que os copos são transparentes?". O que também revela que eu quero cá saber de como são objectivamente as coisas, só me interessa o que está por detrás do imediato.

20 fevereiro 2012

gestão dos recursos humanos

O tempo passa, eles crescem, e parece que aumenta a desproporção entre adultos e crianças lá em casa. Não é que esteja a dar a mão à palmatória para reconhecer que os miúdos crescidos dão mais trabalho que os bebés, mas dão um trabalho mais elaborado. Aqueles seres mais ou menos inertes, anémonas sociais, passam a ser cada vez mais pessoas. E nós, crescidos, temos de nos habituar às novas nuances, dançar ao ritmo de diferentes sensibilidades, susceptibilidades e maneiras de estar.
Em suma: o pequeno toureia-nos. Tão depressa é um doce irresistível como um tiraninho implacável, um napoleãozeco que precisa muito que lhe assentem os pés no chão; já o grande vê a sombra do outro a aumentar depressa, se calhar mais do que nós. Anda murcho e a precisar de mimo. Com quase 5 anos, numas coisas é tão maduro, e noutras tão bebé. Tento cultivar-lhe a inocência temperada com a assertividade necessária. Olha, pode ser que aprendam um com o outro, que nós, adultos, também andamos um bocado aos papéis.

19 fevereiro 2012

coisas que me têm feito bem

Os dias maiores. Atirar bolinhas saltitonas à parede da minha colega de trabalho. O meu bebé estar crescido e engraçado como tudo. Apanhar bocadinhos de sol. Fazer festas ao Roger (que está acampado cá em casa). Comer peixe grelhado. Conhecer pessoas verdadeiras. Retomar o Yoga (bom, esta é só na próxima semana). Rir um bocadinho mais.
Em compensação, ler a Trilogia Millennium tem-me feito mal. Uma heroína antissocial e ligeiramente psicótica é tudo menos o exemplo que preciso de seguir.

14 fevereiro 2012

vinte e seis anos e não sei quantos mil quilómetros de estilo

Como descrever a alegria de conduzir de novo o nosso primeiro automóvel? Imaginem uma gralha empoleirada num pequeno jipe verde, agarrando-se com unhas e dentes a um volante enorme sem direcção assistida, e com um sorriso rasgado que já não via a luz do dia desde a última vez que andou a tocar à porta dos vizinhos e a fugir muito depressa.
O meu jipe voltou. Aquele que a minha mãe empurrou, à chuva, connosco lá dentro, quando afogou o motor pela enésima vez (coitadinha). O transportador de mais de uma vintena de miúdos a caminho das festas de aniversário. O veículo onde aprendi a conduzir aos 10 anos, aquele em que atravessei pela primeira vez a Ponte Vasco da Gama, o minúsculo tanque de guerra que me fez sentir poderosa, adulta!, quando saía das aulas da universidade e tudo era ainda possível. É nosso de novo, com todas as suas quatro velocidades, atingindo a loucura dos 110 quilómetros/hora (em descida), uma buzina de camião TIR e muito, muito charme. Os meus filhos ainda hão de conduzir aquele jipe, queira o bicho da ferrugem poupá-lo só um pouco mais. E assim se vê que poucas coisas me fazem tão bem como viajar no tempo.

13 fevereiro 2012

seguro social faz-de-conta-que voluntário

O frio lá de fora vai-se tornando mais apetecedor à medida que as horas avançam e o ambiente, cá dentro, aquece e embacia as minhas lentes de contacto. Já li quase 300 páginas e começa a ser difícil abstrair-me do que me rodeia: a Carolina; a Avó da Carolina, que guincha a chamar a neta de minuto a minuto; a senhora do meu lado esquerdo, com um impossível mau hálito mesmo de boca fechada; o senhor do lado direito, cujo cabelo não vê champô desde o ano passado; a desempregada que chora; o velhote adormecido; muita, muita gente à conversa, ao telemóvel, a ver a Praça da Alegria, a espreitar o meu livro - mais ninguém a ler, como é possível? -, a folhear a Maria, a limpar as unhas. Alguém comenta a "guerra civil lá na Grécia" e sugere que falta o mesmo por cá. Alguém que, como eu, está a passar a manhã numa cadeira de plástico para pedir um papel. Para se encostar mais um pouco a um sistema de protecção social que parece ser direito incontestável de nascença. Vou lá fora comer duas queijadas e beber uma bica queimada. Volto e alegro-me porque já vai na senha 61. Só estive lá 3 horas e resolvi o problema à primeira. A nossa eficiência burocrática aproxima-se incontestavelmente dos níveis da Europa-de-cabelos-louros. Há esperança de continuarmos todos a ter repartições, subsídios, bodes expiatórios durante mais uns bons tempos. Mesmo que tenhamos de ouvir dizer que somos piegas.

10 fevereiro 2012

sim, é possível

Uma das consequências de gostar mesmo do trabalho que fazemos é a diminuição do apelo da blogosfera. Facebook, então, nem vê-lo. Gosto das mesmas pessoas mas perco-me menos à procura de outras coisas quando há tantos textos lindos para editar, tantos erros absurdos para corrigir (e autores para insultar), tanto htmlzinho cheio de bugs para exterminar. A alegria no trabalho é uma coisa bonita. E até me esqueço que nunca hei de chegar a rica, por este caminho. Quero lá saber.

09 fevereiro 2012

olha o livetan 500 mg ali a sorrir para mim

Afinal, a coisa que mais me arrelia na vida não são os taxistas nem os pivots da TVI; não, o que me descontrola mesmo os nervos é a lentidão impossível com que o Diogo leva à boca uma colher de iogurte. Um episódio da Casa do Mickey dá para umas 4 colheradas. Graças a Deus que as embalagens aqui são metade das americanas.

07 fevereiro 2012

amizades

Sempre tive poucos amigos. Há um grupo de amigas que conservo há mais de dez anos e que nunca me falha. A mais nova tem mais de 60 anos, a mais velha aproxima-se disfarçadamente dos 90 - e ainda é a mulher que conheço que conduz melhor. Estiveram sempre comigo, mesmo quando estive longe. Houve um postal, houve uma carta, houve um email quando precisei e há sempre, sempre um abraço quando nos encontramos. Não passam o tempo todo a falar de doenças mas gostam de me contar as façanhas dos netos e as gracinhas dos bisnetos. Têm todas um coração de ouro. Vou vendo estas minhas amigas na minha Paróquia. E agora são também amigas dos meus filhos. Ontem passámos por uma delas (que estava com outra pessoa) e o Gugas parou e quis voltar atrás para ir dar-lhe um beijinho. São estas coisas que me fazem pensar que, no meio de um mundo com tanto sofrimento e tantas injustiças, ainda há muita Luz.

06 fevereiro 2012

a minha cozinha

Nas fantasias milionárias de cada um de nós vestem-se marcas impronunciáveis, calçam-se sapatos de sola vermelha, circulam automóveis topo de gama e constroem-se moradias pós-modernas, decoradas a branco absoluto. Eu sonho apenas com uma coisa: uma cozinha nova.
Esta cozinha teria todos os equipamentos de última geração. Estaria permanentemente abastecida dos melhores produtos. Revestida a travertino, com iluminação inteligente sob os armários, sistema de limpeza automática e sistema integrado multimédia de origem nórdica. E nem uma migalha perturbaria a lisura da bancada.
Estou a mentir descaradamente. Desculpem lá mas estou-me a cagar para como seria a tal cozinha. O meu sonho era nunca mais pôr os pés numa cozinha. Nunca mais mexer em louça suja. Nunca mais abrir uma tábua de engomar. Nunca mais limpar o congelador. Nunca mais descascar uma cebola e, oh sim, nunca mais tirar a nhanha que sempre acaba por ir parar ao fundo do caixote do lixo. O meu sonho de rica é politicamente incorrecto. É uma criada. Muda, de preferência.

03 fevereiro 2012

o meu bebé faz dois anos

O dia em que nasceste foi só nosso. Enquanto o teu pai e o teu irmão ouviam estórias na biblioteca, eu dancei em sossego até quereres vir cá para fora. E depois dormi contigo no meu peito. Foi tudo perfeito.Tenho saudades de te ter na maminha enquanto a neve caía lá fora. De resto, desculpa mas não tenho saudades de mais nada de quando eras pequenino. É muito melhor agora que és um bebé crescido, engraçado, surpreendente, pantomineiro e muito, muito espertalhão. É sem sombra de modéstia que afirmo que o mundo ficou um lugar melhor porque te gerámos. Mas o mérito de seres exactamente como és, esse é cada mais teu. Parabéns filhote bom.

Não sei o que aconteceu à primeira versão deste post... Puff, evaporou-se na blogosfera.

01 fevereiro 2012

na senda dos passarinhos

O frio não vai durar para sempre. E mesmo que a chuva só chegue em Março (e se prolongue até Agosto...), haverá dias em que o tempo permitirá estar fora de casa e sentir o cheiro da Primavera a chegar. Haverá até dias em que não teremos doenças nem contas com que nos preocupar - ou então aprendemos a ignorá-las com muita força - e vamos acordar de manhã, antes do despertador, e tomar o pequeno-almoço com calma. É capaz de haver até um ou outro fim de tarde em que aterraremos numa esplanada na praia, o vento estará manso e a sangria muito, muito fresca. Com ameijoas. E salada de polvo. E ainda que as coisas não façam sentido, os pés enterrados na areia vão fazer-nos sentir que as coisas não precisam realmente de fazer sentido.