30 outubro 2012

para manter sempre à mão

Por que é que não terás mais filhos, gralha maria:

1. Porque adoecem e sofre-se terrivelmente, em impotência, nessas alturas;
2. Porque NUNCA mais ninguém ficaria a fazer baby-sitting a todos duma só vez;
3. Porque não conseguirias pagar as mensalidades da creche e terias de deixar de trabalhar;
4. Porque, se deixasses de trabalhar, não serias daquelas mães encantadoras e serenas, mas daquelas que elouquecem e gritam o tempo todo;
5. Porque NUNCA mais iriam todos juntos à Disneyworld;
6. Porque deste toda a roupa de grávida e de recém-nascido;
7. Porque não tens mesmo vontade de voltar a lavar fraldas reutilizáveis e não tens coragem de usar descartáveis;
8. Porque o teu mais velho já tem uma trabalheira com o mais novo;
9. Porque o teu mais novo daria um terrível irmão "do meio";
10. Porque, valha-nos Deus, podiam ser gémeos.

Ommmmmmm...
Inspira...
Ommmmmmm...
Expira...

Já passou, não já? Vai lá mas é à maternidade visitar o teu primo acabado de nascer e snifa-lhe o pescocinho até à exaustão. That's all the baby you're gonna get.

22 outubro 2012

micronanoutilidades

Para quando, meus senhores,

Chuchas que não caiam da boca dos bebés adormecidos?
Meias de vidro que não se estraguem à primeira utilização?
Uma substância que nos tire o sono na hora, e não quando queremos adormecer serenamente à noite?
Alimentação wireless para equipamentos eléctricos?
Um aparelho que aproveite o metano libertado nos gases? (é que eu sou tão amiga das leguminosas)
Vocês não sabem nem sonham a quantidade de cientistas que tenho à minha volta todos os dias, e não há quem se chegue à frente para resolver coisinhas destas – querem todos dar resposta às imensas questões universais e aos grandiosos dilemas da humanidade. 
Fossem só os cientistas. Quantas vezes ficamos parados na vida, diante de dúvidas existenciais, e não damos vazão aos pequeninos problemas quotidianos? For falar nisso, tenho mesmo que arranjar joelheiras de jeito para o catraio.

19 outubro 2012

o que nos sustenta

Não é tanto o teor calórico de uma refeição mas a experiência de novas combinações de paladares, de preferência na companhia de quem mais gostamos. Não é o livro-objecto, nem a ideia iluminada no LCD, é a estória que está por trás. Não é o produto de artesanato local que trazemos de uma viagem, é o conhecimento de outros cheiros e sonoridades linguísticas. Não são os sapatos, as malas, os automóveis, os aviões supersónicos, os smartphones ultra-leves - é aquilo que, ao conseguirmos aceder-lhes, nos fazem sentir, momentanea e ilusoriamente: poder e segurança. Será que algum dia vamos perceber isso?

Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Terminei hoje o excelente curso de Introdução à Sustentabilidade, da Universidade do Illinois. Do muitíssimo que aprendi, deixo-vos só esta ideia:
"The transition to a sustainable, low-carbon global economy - by means that do not impoverish billions of people in the process - looms as nothing less than the Great Cause of the 21st century, and without doubt the greatest challenge humanity has faced in its long residence on earth.”

17 outubro 2012

as maiores qualidades de um homem

Tenho quase a certeza que já escrevi sobre isto (ahh, então é para isso que serve aquela coisa dos tags nos posts) mas, olhem, é uma actualização. Uma revisão. A verdade é que isto será um assunto a reavaliar enquanto tiver sangue na guelra, por isso cá vão os meus cinco tostões do momento.
[para eu gostar dele,] Um homem deve ser forte. Um homem deve ser inteligente. Um homem deve ter sentido de humor. Um homem deve gostar de mulheres inteligentes e com sentido de humor. Um homem não pode ser preguiçoso. Um homem deve gostar de aprender e não ter certezas absolutas acerca de nada. Um homem deve gostar de cães. Um homem tem de tratar bem os mais fracos. E finalmente, na versão 2012: um homem tem de ter a capacidade de apanhar com uma valente chuvada de merda, uma tempestade sem fim de injustiças, dificuldades, incertezas e, contra o que todos (inclusive ele) poderiam prever, sacudir a porcaria da camisa impecavelmente engomada, arregaçar as mangas e seguir em frente.
O que a mulher faz com muito mais naturalidade, claro.

15 outubro 2012

neste fim-de-semana, dois pontos

E agora escrevia qualquer coisa muito europeia, a comentar o espectáculo de sexta-feira, em que a coisa mais bonita que vimos foi uma carrada de lixo a cair em cima do dançarino (não estou a ser irónica, gostei muito; e, ainda assim, que pena que não tenha havido nem uma extensão impossível de perna, nem um salto para o ar que consolasse a minha alma de bailarina de caixinha-de-música). Isto no meio de tantas outras coisas muito conceptuais, que nos fizeram pensar e questionar e superar as fronteiras da nossa estética praticamente de VHS.
E depois falava da emoção de entoar motes que antes me faziam levantar só uma sobrancelha, a alegria de caminhar até ao concerto-manif com os meus filhos e ficar um bocadinho envergonhada por haver tão pouca gente ali, por ainda serem muitas mais as velhinhas na mercearia que acreditam que isto não vai lá com protestos.
E depois terminava com uma nota harmoniosa sobre o novo tinto, tão jeitoso e bem em conta, que descobri, que vai bem com tudo aquilo que cozinho, principalmente porque ajuda a colmatar a falta da mousse de Oreo que me anda a apetecer há que tempos.
Escrevi isso tudo e afinal, quando abri o blogger, vinha pronta a choramingar que, nesta altura do ano, só me apetece mesmo é mudar-me para dentro de um dos livros da Jane Austen e bordar junto à lareira, com um vestido de corte império e um chapeuzinho minúsculo daqueles que nunca terei desculpa para usar na vida real.

10 outubro 2012

um post aparentemente sexista mas, na verdade, só babyblóguico

Tenho um filho bastante chorão. E outro tão piegas, que valha-nos Deus. Qual foi a parte que falhou do teste da linha e da agulha, repetido fervorosamente na minha adolescência, que prometeu que eu teria dois machos (e uma menina, chiuuu....)? Será que têm razão aqueles me apontam o dedo quando lhes ofereço tachinhos e esfregonas em miniatura? É suposto inscrevê-los no Ai-ki-dô, ou assim, para ver se a testosterona rebenta a escala?
Pronto, estou a mentir descaradamente, como aquelas mães que se queixam que os filhos comem tanto que a conta do talho roça a pornografia. Os meus meninos lacrimejam, riem com imensos dentes pequeninos, são fiteiros, dramáticos e inquisitivos. Discutem quem topa mais Porsches no caminho para a escola. Criticam-me o tom do verniz das unhas. Perfeitos, portanto.

09 outubro 2012

pela estrada fora*


Ainda vou encontrando pessoas que não via desde a temporada nos EUA. Sucedem-se as mesmas perguntas, a mesma incredulidade quanto à intenção do retorno, o mesmo silêncio perante as minhas respostas breves e serenas. Depois destas conversas, volto a interrogar-me acerca do sentido do regresso e, uma vez mais, vejo que tudo está onde devia estar: Eu, agora, aqui. Eu, naqueles dois anos, a passar por tudo aquilo.
Enquanto conduzia sob a chuva fininha desta manhã, regressei ao trajecto da Route 31 para chegar a Flemington. O nosso Taurus a guinchar permanentemente e os estofos a cheirar a tabaco. Aquela estrada que subia devagarinho a montanha e onde apareciam ursos pretos no fim do Verão. A Magic 98.3 a passar Ace of Base (ou qualquer outra coisa intragável do género), o copo de papel com o café do 7/11 a escaldar esperando na consola central, e eu mais sozinha que nunca. O bom e o mau de estar assim no meio do nada. A convicção profunda de que, por muita necessidade que tenhamos de espaço e de tempo só para nós, o longe pode mesmo ser longe demais. Os anos passam e vamo-nos tornando cada vez mais nós próprios. E parte disso é não sentir necessidade de justificar aos outros aquilo que, para nós, é evidente e fundamental

*On the road, do Jack Kerouac. Mais um que ainda preciso de ler - que isto do sonho americano à distância de um postal ilustrado tem outro encanto. 

04 outubro 2012

ervinhas

Se não estivesse como estou hoje - desalentada, cansada, invernal -, vinha aqui escrever um post engraçado acerca de como tanto me queixo de não ter um pedacinho de terra que até me mandaram produtos da horta pelos correios. Mas estou mesmo sem ânimo. Limito-me a agradecer imensamente à minha querida amiga Vera, coisa boa do meu coração e grande lusitana da melhor cepa, que me enviou estes mimos. Quem tem amigos assim nunca está desamparado neste mundo! Cada pacotinho será devidamente desembrulhado com os meus meninos, para que conheçam aquilo que os teus têm todos os dias. E vê lá se começas a plantar coisas enroláveis e fumáveis, que isso agora também calhava que nem ginjas :)