31 dezembro 2012

resolucinhas

, que as resoluções carregam tanta ambição que estão condenadas à partida.
Mimar mais e melhor. Stressar muito menos. Fazer os Kegel. Reparar bem nas coisas bonitas. Dançar, que não dancei nada este ano.
Boas entradas, minha gente!

expectativas do casal para o réveilhão

Ele: Comer pregos naquela tasca em Benfica com tanta mostarda quanta conseguir equilibrar num pedaço de carne untuosa.
Eu: Ter uma desculpa praticamente válida para comprar um par de sapatos que nunca mais voltarei a usar (mas estará no próximo saco de doações, que eu ainda sou mais boazinha que a Jonet).
Parece que a conjugalidade é mesmo feita destes equilíbrios improváveis. E, a brincar, a brincar, já vai para quase metade das nossas vidas que nos conhecemos.

27 dezembro 2012

o melhor de 2012

Este ano não foi bom para muita gente. Mesmo assim gostava que pudéssemos olhar para trás e perceber que, em muitos casos (infelizmente não todos), a angústia que se nos infiltrou nos ossos no final do ano passado foi como uma neblina da costa ocidental, que lá acaba por levantar ao fim da tarde. 2012 foi um ano generoso para mim, essa é que é essa. Não mudei nada de muito significativo mas retive o que era fundamental.
Durante a adolescência, coleccionava numa caixa de chá rolinhos de papel onde escrevia coisas boas, que me faziam sentir feliz, para mais tarde voltar a saboreá-las. Não sei onde a meti por isso deixo aqui algumas das melhores coisas que tive oportunidade de viver este ano.

Melhor refeição: jantar no Yakuza, a 24 de Julho. E em casa, todas as vezes em que fiz canja e que os meninos comeram em silêncio devoto, sorrindo.
Melhor mergulho no mar: na minha praia, por volta das 16h, a 29 de Julho.
Melhor gargalhada: a do resto da família, quando me explodiu o ovo quente na cara.
Melhor livro: Freedom, de Jonathan Franzen.
Melhor filme: Moonrise Kingdom, de Wes Anderson (se bem que o We Need to Talk About Kevin me marcou muito mais).
Melhor música: Simple Song, dos The Shins, em ex aequo com o Madness, dos Muse.
Melhor série: Continua a ser o Mad Men.
Melhor momento: na noite de Natal, quando o Diogo abriu um presente que adorou e o Gugas, vendo-o tão feliz, teve de dar-lhe um grande abraço. Isto, meus senhores, é amor.

Apesar das más notícias que também chegaram este ano, não me inibo de abrir à descarada as comportas para deixar inundar-me de esperança num 2013 cheio de coisas boas – para mim e para todos vós :)

21 dezembro 2012

retomar isto das expectativas

Posto que o mundo e a vida continuam, como lidar com a existência de um futuro? Já tinha contas saldadas no banco e no coração, deitei-me tão consolada ontem a achar que o mais importante estava assegurado, e afinal volto a ter de criar expectativas e assentar compromissos na agenda. Não é que me falte ânimo para o que há de vir, é só que já está tudo tão perfeitinho assim: tenho um filho de dois anos que me prega partidas e até já come e tudo; tenho outro de cinco que leva o irmão ao bacio quando vê que ele está com cara de caso. E projecta arranha-céus futuristas onde dará casa a todos os sem-abrigo do mundo. Um exagero de meiguice, os dois, sempre a fazerem-me declarações de amor. Dois homenzinhos criados. O que é que se pode pedir mais do amanhã? Ah, pois, os dias que recomeçam a crescer :)

19 dezembro 2012

espírito de natal

O sorriso solar dos nossos filhos quando nos descobrem no meio da audiência da festa de Natal; as boas notícias no trabalho, depois de tanta ansiedade e tanto esforço conjunto; o anúncio de férias em família, inesperadas; um gesto pequeno e majestoso, de quem podia fechar-se nas suas dores mas decide abrir-se cada vez mais ao mundo; uma Fé teimosa que nasce em quem tinha medo de acreditar; a espantosa revelação de humanidade de alguém que nos parecia ser de pedra; e também todas as coisas más, toda a doença, todo o desemprego, todo o medo, o que nos retiram a cada dia, tudo menos a possibilidade de acreditar, de dar, de deixar que o Amor nos inunde o coração irremediavelmente. É só deixá-Lo entrar. Boas festas!

13 dezembro 2012

a minha sugestão de lembrancinha natalícia

É simples: um voucher Presente 25€ do Millenium BCP. É que é uma ideia tão boa e universal que nem dá hipótese para hesitações. E por que é que vos sugiro isto? Porque passo pelos mupis de rua com publicidade a este brilhante produto e as lágrimas só não me escorrem pela face porque estou de lentes de contacto e, parecendo que não, secam-me um bocado a vista.
A sério, se a compaixão e a generosidade são os fundamentos desta quadra, como não ficar assolada de ternura pelos senhores que tiveram de criar um anúncio destes? Atenção, isto é um anúncio que tenta convencer as pessoas a oferecer um bocado de papel que vale menos do que a erva daninha da berma do IC19. E como não gritar interiormente com a abnegação de uma senhora que usa uma camisola cor-de-rosa de angorá, um colar de pérolas, e esboça um sorriso como se estivesse realmente radiante ao receber um pedacinho da certidão de falência iminente de uma instituição bancária cujas acções valem menos do que um pacote de açúcar? A sério, ofereçam estes vouchers ao vosso esposo, à vossa tia, à senhora da farmácia, ao bobi. Garanto que eles irão retribuir o gesto com muita meiguice no próximo ano.


10 dezembro 2012

se o mundo fosse mesmo acabar daqui a 11 dias

Saía daqui, pegava nos miúdos e no homem e alugava um helicóptero para ir jantar com os meus pais, a minha avó e o meu irmão a Monsaraz. Dormíamos por lá e ainda dava uma voltinha a cavalo junto à barragem antes de voltarmos a Lisboa e embarcarmos no TP103 do 12:45 para Orlando. Ficávamos 3 dias a amansar o jet lag na DisneyWorld. Andava três vezes na splash mountain e quatro na casa assombrada. Vestia-me de Branca-de-Neve e comia pizza, crepes e cheese cake com muita coca-cola. Depois embarcávamos no AA1873 das 8:40 para Caracas e, daí, apanhávamos o barco para uma ilhota qualquer de Los Rocques. Ficávamos por lá a apanhar sol todo o santo dia, a beber mojitos e a comer o peixe grelhado, as panquecas com tapioca e a goiaba que nos coubessem na pança. E a dançar. E a ler. Na mala, levávamos só os bonecos de peluche dos miúdos, o The Very Hungry Caterpillar, o Winter of the World, fatos de banho, protector solar e Guronsan. The End.

05 dezembro 2012

desmistificando as agruras da monoparentalidade

Pai dos meus filhos: cuida-te. Cuida-me. Sê um bom marido. Ri-te das minhas piadas. Elogia o meu penteado. Mete-te comigo. Valoriza o meu esforço. É que esta semana voltou a acontecer algo que já antes tinha experimentado: fiquei sozinha com eles e foi... fácil. E divertido. Sabes, quando não estás cá eu sou menos mãe e mais amigalhaça. Comemos pizza. Deitamo-nos mais tarde. Cantamos alto músicas inventadas para celebrar o lugar de estacionamento encontrado ao fim de muitas voltas. Eles vão para a cama sem tomar banho e com os dentes provavelmente mal lavados. Nem uma birra. Nem um queixume. A louça vai toda para a máquina. E eu deito-me sossegada a ver todos os filmes franceses sem legendas que me apetece. Estás a ver o problema que isto levanta, não é?

E não venhas agora dizer-me que eu é que insisto nas refeições nutritivas, nos banhos, nos horários, na pressão das mil-e-uma-coisas que me deixa rabujenta, nas roupas impecavelmente dobradas, só porque é tudo verdade. Se calhar o que falta é mesmo virar tudo de pernas para o ar, de vez em quando. Para depois te recebermos de braços abertos e com muitas saudades. Principalmente porque as noites continuam frescotas.

30 novembro 2012

a narração em suspenso

Estando numa fase da vida em que, para o bom e para o mau, escasseiam os argumentos para usar o estilo narrativo (como tão bem insiste a Melissa), não escrevo. Há um número limitado de vezes em que podemos falar do sorriso radioso dos nossos filhos, das tosses, das incertezas do trabalho, das descobertas culinárias, das dores no lombro, dos livros lidos e daqueles que esperam na estante. Cheguei ao limite. Enquanto não acontecer alguma coisa de extraordinário - e desejo preguiçosamente que não aconteça, desculpem lá mas é o meu modo de lidar com os dias cinzentos - este blogue não tem uso. Até qualquer dia :)

23 novembro 2012

às vezes apetece-me fazer festinhas a mim própria, por me esforçar

Momento mais ridículo do (meu) dia: aquele em que sorrio ao espelho para botar o blush no sítio certo das bochechas. Mas faço questão de simular uma tez jovem e saudável, de quem vive em eterna Primavera e não deixa que as semanas cada vez mais avassaladoras dêem cabo da frescura natural dos trinta e três anos.

16 novembro 2012

comunidade

Sexta-feira não é o meu dia preferido da semana, mas é o dia do ‘deixem-me acreditar’. Deixem-me acreditar que vou ter dois dias inteiros para descansar, para mimar, para tratar de tudo o que há para fazer. Deixem-me acreditar que tudo o que está mal, todas as preocupações e anseios podem entrar em suspenso.
Imbuída do espírito de sexta-feira, olho à minha volta e tento não pensar nas estúpidas e ilusórias divisões recentes, entre caritativos e revolucionários, entre os que que dão voz própria ao descontentamento e os que atiram pedras de forma metódica, sistemática e cega; não, nesta sexta-feira, penso apenas que andam a tirar-nos tudo e mais alguma coisa mas, ainda assim, há um fundo de humanidade que nos faz contornar a reacção mais primária, que seria a da negação e do egocentrismo. Vivemos todos juntos isto do não sabermos como será o dia de amanhã, as notícias de desemprego, de fome, de desistência. E pensamos em maneiras de ajudar. E levamos umas tangerinas da horta para o trabalho. Partilhamos um almoço. Abrimos uma teimosa garrafa de vinho. Pomos a música a tocar. A generosidade e a esperança fazem-se clandestinas mas não baixam os braços. Deixem-me acreditar.

13 novembro 2012

porque diz que hoje é o Dia Mundial da Bondade

Aqui vai o meu sentido muito obrigada à querida médica que acaba de me ralhar com um "ai, ai, os estudantes e as noitadas...", pensando que era a isso que se devia a minha anemia e tensão arterial pela hora da morte. É sempre quando pensamos que vamos dar (sangue, neste caso) que mais recebemos (elogios improváveis de uma senhora a precisar de mudar a graduação dos óculos).
Agora ide todos vós por aí fora e, se não puderdes ajudar de outra forma, tende ao menos um gesto ou uma palavra de bondade para com alguém.

09 novembro 2012

como é que eu não me lembrei disto antes?

Ahhhh, o Pinterest (de novo, eu sei)... Ou: como fazer-nos acreditar que juntar uma cangalheira de inutilidades, atirar-lhe com corante aimentar e fotografá-la com um filtro fofinho, é receita garantida para decorações estrondosas, presentes low-cost e refeições que farão os nossos convidados abraçar-nos com lágrimas de incredulidade perante talentos há tanto tempo ocultos. Sim, mais, por favor. Era a dose de negação da realidade que ainda nos faltava.

07 novembro 2012

olha, é mesmo isto

A Anette acaba de me dar um abanão que já fazia falta. Dia após dia vemos os filhos a crescer e, ainda que tentemos deter-nos nos pequenos detalhes maravilhosos de cada etapa, a maior parte do tempo é passada ansiando pelo filho que será, pela conquista que ainda não veio, pela resistência que ainda lhe falta e a maturidade que tarda. Caramba, não. Cada dia é mesmo precioso. Que se lixe se nos atrasamos sempre a sair de casa porque agora quer mesmo despir-se sozinho, porque quer trazer aquele livro (não, afinal é o outro). Que se danem as horas de deitar, o enésimo abraço e aconchego na cama, as coisas programadas, o chão coberto de migalhas, as calças rotas nos joelhos, a corrida para o carro debaixo de chuva batida a vento. Eles nunca mais serão bebés. Eles nunca mais olharão para nós com uma avalanche de amor e confiança cega como a que têm agora. Obrigada, filhos. Obrigada, hoje.

02 novembro 2012

este país é para velhos, ou pessoas rabujentas de meia-idade, vá

Passou-se o Halloween, passou-se o Dia de Todos os Santos, e quantas crianças acham que nos bateram à porta com ameaças de nos abominar, ou com saquinhos de pão-por-Deus? Zero.
O país não é o meu bairro, bem sei, mas o meu bairro é aquele onde quase não há crianças. Há velhos. E imigrantes escondidos nas caves húmidas. E canários pardacentos em gaiolas junto ao chão, nas traseiras dos prédios a cheirar chichi de gato. Apartamentos vazios de tectos altos e paredes nuas. Às vezes, sinto que a minha família é uma ilha. Quando acendemos as luzes de Natal, somos o topo do Empire State Building no meio da Manhattan às escuras, à passagem da Sandy. Não ligamos a televisão para não descobrirmos que em tantos lados ainda é pior do que fora do bairro. Mas esta vida de ilha não anima ninguém. Ainda se estivessemos em latitudes tropicais...

30 outubro 2012

para manter sempre à mão

Por que é que não terás mais filhos, gralha maria:

1. Porque adoecem e sofre-se terrivelmente, em impotência, nessas alturas;
2. Porque NUNCA mais ninguém ficaria a fazer baby-sitting a todos duma só vez;
3. Porque não conseguirias pagar as mensalidades da creche e terias de deixar de trabalhar;
4. Porque, se deixasses de trabalhar, não serias daquelas mães encantadoras e serenas, mas daquelas que elouquecem e gritam o tempo todo;
5. Porque NUNCA mais iriam todos juntos à Disneyworld;
6. Porque deste toda a roupa de grávida e de recém-nascido;
7. Porque não tens mesmo vontade de voltar a lavar fraldas reutilizáveis e não tens coragem de usar descartáveis;
8. Porque o teu mais velho já tem uma trabalheira com o mais novo;
9. Porque o teu mais novo daria um terrível irmão "do meio";
10. Porque, valha-nos Deus, podiam ser gémeos.

Ommmmmmm...
Inspira...
Ommmmmmm...
Expira...

Já passou, não já? Vai lá mas é à maternidade visitar o teu primo acabado de nascer e snifa-lhe o pescocinho até à exaustão. That's all the baby you're gonna get.

22 outubro 2012

micronanoutilidades

Para quando, meus senhores,

Chuchas que não caiam da boca dos bebés adormecidos?
Meias de vidro que não se estraguem à primeira utilização?
Uma substância que nos tire o sono na hora, e não quando queremos adormecer serenamente à noite?
Alimentação wireless para equipamentos eléctricos?
Um aparelho que aproveite o metano libertado nos gases? (é que eu sou tão amiga das leguminosas)
Vocês não sabem nem sonham a quantidade de cientistas que tenho à minha volta todos os dias, e não há quem se chegue à frente para resolver coisinhas destas – querem todos dar resposta às imensas questões universais e aos grandiosos dilemas da humanidade. 
Fossem só os cientistas. Quantas vezes ficamos parados na vida, diante de dúvidas existenciais, e não damos vazão aos pequeninos problemas quotidianos? For falar nisso, tenho mesmo que arranjar joelheiras de jeito para o catraio.

19 outubro 2012

o que nos sustenta

Não é tanto o teor calórico de uma refeição mas a experiência de novas combinações de paladares, de preferência na companhia de quem mais gostamos. Não é o livro-objecto, nem a ideia iluminada no LCD, é a estória que está por trás. Não é o produto de artesanato local que trazemos de uma viagem, é o conhecimento de outros cheiros e sonoridades linguísticas. Não são os sapatos, as malas, os automóveis, os aviões supersónicos, os smartphones ultra-leves - é aquilo que, ao conseguirmos aceder-lhes, nos fazem sentir, momentanea e ilusoriamente: poder e segurança. Será que algum dia vamos perceber isso?

Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Terminei hoje o excelente curso de Introdução à Sustentabilidade, da Universidade do Illinois. Do muitíssimo que aprendi, deixo-vos só esta ideia:
"The transition to a sustainable, low-carbon global economy - by means that do not impoverish billions of people in the process - looms as nothing less than the Great Cause of the 21st century, and without doubt the greatest challenge humanity has faced in its long residence on earth.”

17 outubro 2012

as maiores qualidades de um homem

Tenho quase a certeza que já escrevi sobre isto (ahh, então é para isso que serve aquela coisa dos tags nos posts) mas, olhem, é uma actualização. Uma revisão. A verdade é que isto será um assunto a reavaliar enquanto tiver sangue na guelra, por isso cá vão os meus cinco tostões do momento.
[para eu gostar dele,] Um homem deve ser forte. Um homem deve ser inteligente. Um homem deve ter sentido de humor. Um homem deve gostar de mulheres inteligentes e com sentido de humor. Um homem não pode ser preguiçoso. Um homem deve gostar de aprender e não ter certezas absolutas acerca de nada. Um homem deve gostar de cães. Um homem tem de tratar bem os mais fracos. E finalmente, na versão 2012: um homem tem de ter a capacidade de apanhar com uma valente chuvada de merda, uma tempestade sem fim de injustiças, dificuldades, incertezas e, contra o que todos (inclusive ele) poderiam prever, sacudir a porcaria da camisa impecavelmente engomada, arregaçar as mangas e seguir em frente.
O que a mulher faz com muito mais naturalidade, claro.

15 outubro 2012

neste fim-de-semana, dois pontos

E agora escrevia qualquer coisa muito europeia, a comentar o espectáculo de sexta-feira, em que a coisa mais bonita que vimos foi uma carrada de lixo a cair em cima do dançarino (não estou a ser irónica, gostei muito; e, ainda assim, que pena que não tenha havido nem uma extensão impossível de perna, nem um salto para o ar que consolasse a minha alma de bailarina de caixinha-de-música). Isto no meio de tantas outras coisas muito conceptuais, que nos fizeram pensar e questionar e superar as fronteiras da nossa estética praticamente de VHS.
E depois falava da emoção de entoar motes que antes me faziam levantar só uma sobrancelha, a alegria de caminhar até ao concerto-manif com os meus filhos e ficar um bocadinho envergonhada por haver tão pouca gente ali, por ainda serem muitas mais as velhinhas na mercearia que acreditam que isto não vai lá com protestos.
E depois terminava com uma nota harmoniosa sobre o novo tinto, tão jeitoso e bem em conta, que descobri, que vai bem com tudo aquilo que cozinho, principalmente porque ajuda a colmatar a falta da mousse de Oreo que me anda a apetecer há que tempos.
Escrevi isso tudo e afinal, quando abri o blogger, vinha pronta a choramingar que, nesta altura do ano, só me apetece mesmo é mudar-me para dentro de um dos livros da Jane Austen e bordar junto à lareira, com um vestido de corte império e um chapeuzinho minúsculo daqueles que nunca terei desculpa para usar na vida real.

10 outubro 2012

um post aparentemente sexista mas, na verdade, só babyblóguico

Tenho um filho bastante chorão. E outro tão piegas, que valha-nos Deus. Qual foi a parte que falhou do teste da linha e da agulha, repetido fervorosamente na minha adolescência, que prometeu que eu teria dois machos (e uma menina, chiuuu....)? Será que têm razão aqueles me apontam o dedo quando lhes ofereço tachinhos e esfregonas em miniatura? É suposto inscrevê-los no Ai-ki-dô, ou assim, para ver se a testosterona rebenta a escala?
Pronto, estou a mentir descaradamente, como aquelas mães que se queixam que os filhos comem tanto que a conta do talho roça a pornografia. Os meus meninos lacrimejam, riem com imensos dentes pequeninos, são fiteiros, dramáticos e inquisitivos. Discutem quem topa mais Porsches no caminho para a escola. Criticam-me o tom do verniz das unhas. Perfeitos, portanto.

09 outubro 2012

pela estrada fora*


Ainda vou encontrando pessoas que não via desde a temporada nos EUA. Sucedem-se as mesmas perguntas, a mesma incredulidade quanto à intenção do retorno, o mesmo silêncio perante as minhas respostas breves e serenas. Depois destas conversas, volto a interrogar-me acerca do sentido do regresso e, uma vez mais, vejo que tudo está onde devia estar: Eu, agora, aqui. Eu, naqueles dois anos, a passar por tudo aquilo.
Enquanto conduzia sob a chuva fininha desta manhã, regressei ao trajecto da Route 31 para chegar a Flemington. O nosso Taurus a guinchar permanentemente e os estofos a cheirar a tabaco. Aquela estrada que subia devagarinho a montanha e onde apareciam ursos pretos no fim do Verão. A Magic 98.3 a passar Ace of Base (ou qualquer outra coisa intragável do género), o copo de papel com o café do 7/11 a escaldar esperando na consola central, e eu mais sozinha que nunca. O bom e o mau de estar assim no meio do nada. A convicção profunda de que, por muita necessidade que tenhamos de espaço e de tempo só para nós, o longe pode mesmo ser longe demais. Os anos passam e vamo-nos tornando cada vez mais nós próprios. E parte disso é não sentir necessidade de justificar aos outros aquilo que, para nós, é evidente e fundamental

*On the road, do Jack Kerouac. Mais um que ainda preciso de ler - que isto do sonho americano à distância de um postal ilustrado tem outro encanto. 

04 outubro 2012

ervinhas

Se não estivesse como estou hoje - desalentada, cansada, invernal -, vinha aqui escrever um post engraçado acerca de como tanto me queixo de não ter um pedacinho de terra que até me mandaram produtos da horta pelos correios. Mas estou mesmo sem ânimo. Limito-me a agradecer imensamente à minha querida amiga Vera, coisa boa do meu coração e grande lusitana da melhor cepa, que me enviou estes mimos. Quem tem amigos assim nunca está desamparado neste mundo! Cada pacotinho será devidamente desembrulhado com os meus meninos, para que conheçam aquilo que os teus têm todos os dias. E vê lá se começas a plantar coisas enroláveis e fumáveis, que isso agora também calhava que nem ginjas :)


27 setembro 2012

cada um se aconchega como pode

Entre manifestações, abaixo-assinados e irritações com diversas entidades de suposto interesse público, vou-me defendendo com os mimos dos meus amores e pequenas coisas boas, que isto uma pessoa não se pode deixar arrastar para a sarjeta da amargura e do desânimo. Donde,

1. O So You Think You Can Dance (temporada 9) continua a ser o programa que me faz rir, chorar e prometer a mim própria que não passa deste ano que me inscrevo no ballet para velhas de coxa farta (como eu);
2. Ando febril a gastar todos os vouchers de experiências que há lá por casa, porque aquelas empresas estão todas a falir e qualquer dia não nos aceitam nada;
3. Quando estou mesmo cansada e chocha, abro o Pinterest para ver cores bonitas e sossegar a vista. Aquilo para mim não é aglutinação de pin e interest, é mesmo de pinte e de rest...

Continuação de boa semana :)

26 setembro 2012

uma dúzia de coisas boas

Têm pele de veludo. Umas bochechas tão rijas que apetece morder. Fazem disparates, mas pequeninos (bom, logo se vê daqui a umas semanas). São tão espontâneos, tão genuínos, trazem uma tal quantidade de sol dentro deles, que quase me sinto vampiresca, tentando absorver um pouco daquela infância tão flagrante. Combinamos assim, miúdos: eu dou-vos um ano a cada e já me sinto um bocadinho mais radiosa, um bocadinho mais inocente e convicta de que a vida ainda tem muito de bom para vir. Dou-vos a verdade que tenho cá dentro, testemunho do Amor mais incondicional e revolucionário que conheço. E prometo também não vos massacrar demasiado com a minha guitarra desafinada e a minha voz de cantora pimba. Ah, como é bom estar de volta à catequese :)

24 setembro 2012

o inimigo comum



Tenho levado os últimos dias a matutar nisto das relações e em como parece que a monogamia para a vida parece condenada à extinção. Que irónico que é: nunca os casais tiveram tanta liberdade para escolher estatuto legal, distribuição de papéis, descendência (ou ausência dela), o que fazer ao tempo e aos recursos livres. Nos nossos tempos, podemos escolher estar com qualquer ser humano – desde que não tenha laços sanguíneos de primeiro grau nem seja já casado com outra pessoa (e conto os anos até esta regra também ser repensada); e, no entanto, nunca como agora as relações não duram.
Fala-se no egoísmo mas acho que isso é uma desculpa. Sempre fomos egoístas, antes tínhamos era mais medo das consequências do nosso egoísmo. O que acho que nos falta agora, como casais, é um inimigo comum contra o qual lutar. Antes lutávamos contra os pais que se opunham a uma união socialmente desequilibrada. Contra uma sociedade que não aceitava casais do mesmo sexo. Contra um futuro desconhecido que não nos prometida uma velhice com os pés aquecidos por uma pensão de reforma. Era o mundo contra o valente casal, enfrentando ventos e tempestades para sustentar a sua família. Havia sempre terceiros a quem apontar o dedo. Agora somos forçados a olhar para nós próprios e a reconhecer as nossas fraquezas e limitações, que o nosso parceiro não se inibe de nos apontar, cobrando-nos as faltas sob a forma de uma tampa de sanita levantada ou de um rabo descaído. Somos casal apenas enquanto não somos um contra o outro.
A minha esperança está na crise. Podia ser brincadeira, mas não é. Se é verdade que muitos se separam porque não aguentam a pressão da dificuldade, quero acreditar que haverá aqueles que vêem aqui o novo inimigo comum. O Inverno pode ser frio e as jantaradas uma miragem distante; mas é bom adormecer abraçados a um corpo que conhecemos de memória, partilhando a última tablete de chocolate de avelãs que havia na despensa.

21 setembro 2012

manifestação por encomenda



Para grande pena minha, hoje não vou poder estar lá mas agradeço que façam chegar a minha mensagem ao Aníbal:


“Sr. Presidente, quero acreditar que o senhor não é burro (como é o PM). Quero acreditar que, apesar da sua perturbação no espectro do autismo, o senhor consegue ver as imagens e ouvir as vozes das pessoas que estão aí à sua porta. Essas pessoas não se estão a manifestar porque são preguiçosas nem porque gostavam de poder almoçar na praia a 50 euros a cabeça, como vejo regularmente o senhor fazer – e permita-me desde já congratulá-lo por essa ginástica orçamental, dada a sua parca reforma. Não, senhor Presidente, essas pessoas estão é em sérias dificuldades para sobreviver a cada dia, ou conhecem várias pessoas que assim estão. E desagrada-lhes que, ao mesmo tempo, haja uma minoria que não faz nada de produtivo, que não tem qualificações, e que recebe ordenados que lhes permitem todos os almoços na praia que quiserem. E essas pessoas também estão maçadas porque tudo indica que este esforço todo será em vão. Por isso, peço-lhe que considere seriamente tomar as medidas que só a si lhe competem – ou usa da sua doçura para persuadir o senhor PM que tem de mudar drasticamente a orientação que leva, ou diz-lhe simplesmente que está na hora de, também ele, ir estudar para Paris. Melhores cumprimentos, gralha.”