16 novembro 2012

comunidade

Sexta-feira não é o meu dia preferido da semana, mas é o dia do ‘deixem-me acreditar’. Deixem-me acreditar que vou ter dois dias inteiros para descansar, para mimar, para tratar de tudo o que há para fazer. Deixem-me acreditar que tudo o que está mal, todas as preocupações e anseios podem entrar em suspenso.
Imbuída do espírito de sexta-feira, olho à minha volta e tento não pensar nas estúpidas e ilusórias divisões recentes, entre caritativos e revolucionários, entre os que que dão voz própria ao descontentamento e os que atiram pedras de forma metódica, sistemática e cega; não, nesta sexta-feira, penso apenas que andam a tirar-nos tudo e mais alguma coisa mas, ainda assim, há um fundo de humanidade que nos faz contornar a reacção mais primária, que seria a da negação e do egocentrismo. Vivemos todos juntos isto do não sabermos como será o dia de amanhã, as notícias de desemprego, de fome, de desistência. E pensamos em maneiras de ajudar. E levamos umas tangerinas da horta para o trabalho. Partilhamos um almoço. Abrimos uma teimosa garrafa de vinho. Pomos a música a tocar. A generosidade e a esperança fazem-se clandestinas mas não baixam os braços. Deixem-me acreditar.

2 comentários:

Naná disse...

Por enquanto temos mesmo que acreditar que isto não vai ser sempre assim.
Mas tenho um sentimento semelhante ao teu... o de que à sexta feira tudo se suspende!

Melissa disse...

Só agora digo: que post bonito. Avé, sextas-feiras, com todas as suas promessas.