27 setembro 2012

cada um se aconchega como pode

Entre manifestações, abaixo-assinados e irritações com diversas entidades de suposto interesse público, vou-me defendendo com os mimos dos meus amores e pequenas coisas boas, que isto uma pessoa não se pode deixar arrastar para a sarjeta da amargura e do desânimo. Donde,

1. O So You Think You Can Dance (temporada 9) continua a ser o programa que me faz rir, chorar e prometer a mim própria que não passa deste ano que me inscrevo no ballet para velhas de coxa farta (como eu);
2. Ando febril a gastar todos os vouchers de experiências que há lá por casa, porque aquelas empresas estão todas a falir e qualquer dia não nos aceitam nada;
3. Quando estou mesmo cansada e chocha, abro o Pinterest para ver cores bonitas e sossegar a vista. Aquilo para mim não é aglutinação de pin e interest, é mesmo de pinte e de rest...

Continuação de boa semana :)

26 setembro 2012

uma dúzia de coisas boas

Têm pele de veludo. Umas bochechas tão rijas que apetece morder. Fazem disparates, mas pequeninos (bom, logo se vê daqui a umas semanas). São tão espontâneos, tão genuínos, trazem uma tal quantidade de sol dentro deles, que quase me sinto vampiresca, tentando absorver um pouco daquela infância tão flagrante. Combinamos assim, miúdos: eu dou-vos um ano a cada e já me sinto um bocadinho mais radiosa, um bocadinho mais inocente e convicta de que a vida ainda tem muito de bom para vir. Dou-vos a verdade que tenho cá dentro, testemunho do Amor mais incondicional e revolucionário que conheço. E prometo também não vos massacrar demasiado com a minha guitarra desafinada e a minha voz de cantora pimba. Ah, como é bom estar de volta à catequese :)

24 setembro 2012

o inimigo comum



Tenho levado os últimos dias a matutar nisto das relações e em como parece que a monogamia para a vida parece condenada à extinção. Que irónico que é: nunca os casais tiveram tanta liberdade para escolher estatuto legal, distribuição de papéis, descendência (ou ausência dela), o que fazer ao tempo e aos recursos livres. Nos nossos tempos, podemos escolher estar com qualquer ser humano – desde que não tenha laços sanguíneos de primeiro grau nem seja já casado com outra pessoa (e conto os anos até esta regra também ser repensada); e, no entanto, nunca como agora as relações não duram.
Fala-se no egoísmo mas acho que isso é uma desculpa. Sempre fomos egoístas, antes tínhamos era mais medo das consequências do nosso egoísmo. O que acho que nos falta agora, como casais, é um inimigo comum contra o qual lutar. Antes lutávamos contra os pais que se opunham a uma união socialmente desequilibrada. Contra uma sociedade que não aceitava casais do mesmo sexo. Contra um futuro desconhecido que não nos prometida uma velhice com os pés aquecidos por uma pensão de reforma. Era o mundo contra o valente casal, enfrentando ventos e tempestades para sustentar a sua família. Havia sempre terceiros a quem apontar o dedo. Agora somos forçados a olhar para nós próprios e a reconhecer as nossas fraquezas e limitações, que o nosso parceiro não se inibe de nos apontar, cobrando-nos as faltas sob a forma de uma tampa de sanita levantada ou de um rabo descaído. Somos casal apenas enquanto não somos um contra o outro.
A minha esperança está na crise. Podia ser brincadeira, mas não é. Se é verdade que muitos se separam porque não aguentam a pressão da dificuldade, quero acreditar que haverá aqueles que vêem aqui o novo inimigo comum. O Inverno pode ser frio e as jantaradas uma miragem distante; mas é bom adormecer abraçados a um corpo que conhecemos de memória, partilhando a última tablete de chocolate de avelãs que havia na despensa.

21 setembro 2012

manifestação por encomenda



Para grande pena minha, hoje não vou poder estar lá mas agradeço que façam chegar a minha mensagem ao Aníbal:


“Sr. Presidente, quero acreditar que o senhor não é burro (como é o PM). Quero acreditar que, apesar da sua perturbação no espectro do autismo, o senhor consegue ver as imagens e ouvir as vozes das pessoas que estão aí à sua porta. Essas pessoas não se estão a manifestar porque são preguiçosas nem porque gostavam de poder almoçar na praia a 50 euros a cabeça, como vejo regularmente o senhor fazer – e permita-me desde já congratulá-lo por essa ginástica orçamental, dada a sua parca reforma. Não, senhor Presidente, essas pessoas estão é em sérias dificuldades para sobreviver a cada dia, ou conhecem várias pessoas que assim estão. E desagrada-lhes que, ao mesmo tempo, haja uma minoria que não faz nada de produtivo, que não tem qualificações, e que recebe ordenados que lhes permitem todos os almoços na praia que quiserem. E essas pessoas também estão maçadas porque tudo indica que este esforço todo será em vão. Por isso, peço-lhe que considere seriamente tomar as medidas que só a si lhe competem – ou usa da sua doçura para persuadir o senhor PM que tem de mudar drasticamente a orientação que leva, ou diz-lhe simplesmente que está na hora de, também ele, ir estudar para Paris. Melhores cumprimentos, gralha.”


20 setembro 2012

turbilhão

Esta semana estive na meditar na noção de 'palavras de vida eterna'. E é tão irónico, porque parece que já nada é eterno. A vida dá muitas voltas. Há coisas imprevisíveis a acontecer a cada dia. Esta semana tem sido difícil, com notícias que nos entristecem e fazem perder o pé. Não consigo adoptar a postura dos males que vêm por bem, da escrita direita por linhas tortas, do acreditar que todos os túneis tenham uma luz ao fundo. Mas é nestas alturas que confirmo a importância das únicas verdadeiras seguranças que podemos ter: que somos imensamente amados por Alguém que nunca deixará de estar ao nosso lado; e que não há nada como vivermos cada dia de acordo com as nossas convicções, cultivando o amor próprio e o respeito pelo outro. Às vezes é só a isso que podemos agarrar-nos enquanto esperamos por melhores dias.

16 setembro 2012

o trigo do joio

É em momentos fracturantes que ficamos a conhecer melhor as pessoas, habitualmente protegidas pelo véu da norma nos dias mais corriqueiros. Como diria a Pólo Norte, o mundo divide-se entre aqueles que não se inibem de dizer o que pensam e os outros. Os que afirmam o seu sportinguismo no meio de benfiquistas; os que trauteiam musiquetas fáceis no meio de amigos convictamente eruditos; os que admitem que não sabem tudo mas agem de acordo com aquilo em que acreditam. E depois há os que ficam calados, à espera de ver o que acontece na dianteira, com medo de perder privilégios, reconhecimento e consensualidade. Está bem que até S. Pedro negou o Senhor três vezes antes do galo cantar - ninguém está livre deste tipo de fraqueza. Mas gosto de ver-me rodeada de uma mão cheia de gente com a tomatásia no sítio, que não vacila nas suas convicções em alturas decisivas. E, meus meninos, não duvidem: esta é uma altura decisiva.

14 setembro 2012

insurreição

Filho: "Mas o dinheiro dos velhinhos não tiram, pois não?"
Mãe: "Tiram."
Filho: "Mesmo o da Bisa?"
Mãe: "Sim."
Filho: "E o meu...?"
Mãe: "Não te preocupes, eu não deixo ninguém mexer no teu mealheiro."

Esqueçam lá isso das aflições parentais para explicar o sexo, as drogas, a morte, a possibilidade de vida alienígena. Difícil, difícil é explicar o conceito de dívida externa e a razão por que se chega a um ponto em que alto e para o baile! ao cumprimento cego de regras. Mas é isso mesmo que quero transmitir, mais do que a moralidade e o civismo: que fomos dotados de cabeça para pensar, coração para sentir e braços e pernas para agir.

13 setembro 2012

um ano depois do regresso

"No fundo, queria viajar, cada vez mais longe, queria perder-se nos espaços que a fantasia lhe abrisse. Mas assim que se via fora de Lisboa, era atacado pelas saudades, umas saudades insuportáveis, não se podia assistir àquilo. As pessoas diziam-lhe: está bem, pronto, Lisboa é bonita, mas... Elas não compreendiam que, no fundo, não se tratava de Lisboa, mas dele próprio (...) Era algo muito mais profundo, algo para ele nuclear: o desejo de se refugiar dentro dos diques estáveis e conhecidos que o protegiam da perigosa ressaca e das traiçoeiras correntes submarinas da sua alma."

Pascal Mercier, O Comboio Nocturno para Lisboa

E não, apesar de tudo, não me arrependo de ter voltado nem por um só segundo.

10 setembro 2012

se é para explorar o pessoal, que se faça a coisa com pés e cabeça



Os problemas multiplicam-se como cogumelos: Não há dinheiro para o Estado Social. Não há como pagar a gasolina, o passe social, o supermercado, a renda da casa. Os professores estão no desemprego e os pais não chegam a horas decentes para dar o jantar aos filhos. A nossa produtividade continua baixa, muito baixa. E não há uma única proposta séria para resolver tudo isto, para limpar o quadro e voltar a escrever a nossa História. Pois bem, eu ouso dizer que sim, há uma solução. E a solução são as camaratas no local de trabalho.
A coisa funciona assim: os trabalhadores passam a viver no emprego durante a semana e só vão a casa ao fim-de-semana. Os eventuais filhos ficam na mesma situação, mas na escola (venha agora a FENPROF dizer que isto não gera emprego…). Poupa-se nas deslocações diárias, passa tudo a comer na cantina, e não há cá perdas de tempo a conviver com a família, a confraternizar com os amigos, e coiso. Vai tudo para o beliche às 21h e tudo acorda fresco para pegar ao serviço às 6 da matina. Até parece que já vejo as portas de S. Bento abrindo-se de par em par para me receberem depois da eleição. Vou preparar um quartinho mimoso para os pequenos, para quando eles me forem visitar aos Sábados. Sim, porque as minhas medidas serão verdadeiramente justas e equilibradas.