"No fundo, queria viajar, cada vez mais longe, queria perder-se nos espaços que a fantasia lhe abrisse. Mas assim que se via fora de Lisboa, era atacado pelas saudades, umas saudades insuportáveis, não se podia assistir àquilo. As pessoas diziam-lhe: está bem, pronto, Lisboa é bonita, mas... Elas não compreendiam que, no fundo, não se tratava de Lisboa, mas dele próprio (...) Era algo muito mais profundo, algo para ele nuclear: o desejo de se refugiar dentro dos diques estáveis e conhecidos que o protegiam da perigosa ressaca e das traiçoeiras correntes submarinas da sua alma."
Pascal Mercier, O Comboio Nocturno para Lisboa
E não, apesar de tudo, não me arrependo de ter voltado nem por um só segundo.
7 comentários:
Gostava de não estar a ver do que é que estás a falar. Por uma questão óbvia de equilibrio emocional e funcional.
Mas tu passas para aí um quarto do ano em Portugal, é como se uma perna nunca saísse de cá. E acho que a outra perna, os braços, etc. (para não falar na cabeça) estão muito bem onde estão, certo?
Nos últimos dias tenho pensado em ti... como é que ainda não te arrependeste.
Porque prefiro a incerteza à infelicidade, Inesa. E sou tão ingénua que acho que tenho de dar a minha parte para melhorar as coisas por cá.
Que frase tão bonita, consigo ver exactamente o que citaste, o que queres dizer e um bocadinho do que sentes.
Sinto isso em relação a este bocadinho de chão a que teimo agarrar-me.
Preocupa-me que se vão embora daqui, que casa sim, casa não tenha uma tabuleta a dizer "vende-se" e no meio outras já destelhadas tenham um aspecto de que já nem vale a pena vender. Preocupa-me os tremeliques dos poucos empregadores daqui, porventura até o meu empregador. Às vezes acho que isto vai acabar por morrer, este bocadinho de chão, mas daqui não arredo, principalmente porque acho que tenho qualquer coisa para dar ao sítio e para fazer pelo sítio.
Beijinhos!
Por acaso é tarefa pouco complicada viver apenas com uma perna ? Semanas a fio ao pé coxinho ?
Vera: O mundo precisa de finca-pés como nós, senão já viveriamos todos em Londres, Tokyo, Nova Iorque, S. Paulo e Shangai e o resto estava entregue à bicharada (ummm... até nem é má ideia, essa parte).
Carla: tu chamas-lhe pé coxinho, eu chamo-lhe um arabesque :)
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