28 setembro 2011

detalhes que não interessam a ninguém

E habituarmo-nos outra vez a usar sapatos sem ser na rua?

27 setembro 2011

vir para aqui descansar

Pois que estou feliz com o meu regresso ao trabalho (e à investigação) e devo confessar que não é só pelo que faço aqui - que, na maior parte do tempo, não é blogar - mas pelo facto de os meus ouvidos e a minha cabeça descansarem um pouco. Uma mãe decente não admite uma coisa destas mas eu admito, do fundo da minha indecência, que já estou a dar em maluquinha com o Diogo a chorar cerca de 15 horas por dia e a pedir colo sempre que está acordado. Meu rico filho, compreendo o teu sofrimento e desdobro-me para te ajudar a ultrapassá-lo, mas já faltou mais para os teus avós nos convidarem a sair lá de casa.

26 setembro 2011

o alentejo também estava uma maravilha


E que bom que foi rever amigos e conhecer os novos sobrinhos :) É uma sensação nova, esta de ser tia, e gosto muito. Tenho vontade de os ver crescer todos juntos e fazer muitos mais programinhas destes.
Agora é mais uma semana de trabalho e tentar fazer render os dias, que parecem sempre demasiado curtos.

23 setembro 2011

a adaptação

Tem sido feita de acordo com as características de cada um. O pai está bem em qualquer lado. A mãe (que nunca mudou o fuso horário do computador - denial is a river in Africa...) acha normalíssimo estar aqui e não se lembra sequer de como foi possível viver noutro sítio. O filho mais velho está bem em qualquer lado (desde que esteja lá a mãe). E o filho mais novo? O filho mais novo está a lidar como pode com tanta mudança que não compreende. Num dia está nos EUA, noutro em Lisboa. Noutro no Algarve, de novo em Lisboa e depois no Alentejo. Num, em casa dos avós maternos, noutro em casa dos avós paternos. De 24/7 com a mãe e o irmão em casa para a entrada progressiva na escola (travail oblige), felizmente com o irmão. São fusos horários, hábitos alimentares e camas diferentes, muitos abraços desconhecidos de gente que o adora mas que ele não conhece de lado nenhum. O meu filho pequenino anda perdido neste reboliço e só desejo que a poeira assente para que ele se possa sentir de novo em casa. Meu querido, a mamã não vai a lado nenhum. E em breve vais perceber que, nas horas em que te deixo na escola, não podias estar melhor entregue. Até lá, dou-te todo o mimo a que tens direito.

22 setembro 2011

beira-rio

Equipei-me e saí para correr. Estava vento, como sempre, mas não vi corvos-marinhos. Dantes via-os, de manhã, quando não havia mais ninguém ali àquelas horas.
Ao fim do dia, o cenário que passa por mim enquanto mal piso o chão é feito de gente. Gente sozinha, sentada junto ao rio, debaixo dos pinheiros mansos. Gente debruçada sobre o corrimão, resistindo ao cheiro da maré baixa. E casais, de diferentes idades e níveis de intimidade. Uns sucedem-se aos outros. Atravesso, de raspão, primeiros encontros, relações ilícitas, arrufos, despedidas. Caras e caras que se conheceram em redes sociais. Ou numa discoteca. Ou num centro paroquial. Não sei se nos Alunos de Apolo. Tantas pessoas que cedem, momentaneamente, e reconhecem em público a solidão própria, a solidão alheia, e tentam superá-las. Têm posturas medidas. Desenham gestos previamente ensaiados. Falam de coisas banais e de coisas íntimas. As mulheres rindo, os homens inclinando a cabeça, esforçando-se por ouvir. Tanta, tanta gente que procura o amor ao longo das margens do Tejo. E não sabem que esse amor ribeirinho só está lá para quem tem 17 anos. Para os outros, já esgotou o prazo de validade. Mais valia dedicarem-se à pesca.

as (inevitáveis) comparações

Aqui
é tudo muito barato (à excepção da gasolina, portagens e produtos farmacêuticos). Acreditem!
os homens são muito mais bonitos e interessantes.
as mulheres são menos bonitas e, como dizê-lo?, menos voluptuosas.
(ou seja, isto rende bastante para as mulheres mais ou menos)
ainda é Verão.
a televisão é a mesma m.....
há gatos.
as pessoas andam todas de trombas.
vê-se gente a esconder lágrimas no Metro.
(nota-se que as coisas estão difíceis e, sobretudo, que as pessoas têm medo - acho que vou juntar-me ao movimento dos abraços de graça)

19 setembro 2011

o regresso

Depois de 3 dias caóticos, em que desmontámos o resto da mobília, limpámos a casa de cima a baixo e deitámos os últimos restos da nossa existência princetoniana para o lixo, chegou finalmente a hora de apanhar o avião de regresso a casa. À partida, o cansaço era tal que nem houve cabeça para nostalgias. Não vale a pena estar para aqui com estórias delico-doces de que hesitei, senti frios na barriga, ou vi as cores da bandeira americana com outras tonalidades: a verdade é que só queria chegar aqui e ir dormir. Do mesmo modo, também não me emocionei à chegada. Tinha os olhos demasiado secos para lágrimas, umas olheiras até ao umbigo e mesmo assim fui trabalhar no próprio dia.
De modo que a nova rotina se fez rapidamente e quase já parece mentira que ainda há uma semana estava lá, do outro lado. De uma forma ligeiramente perversa parece quase que deixei para trás a verdadeira gralha e que sou apenas um doppelgaenger que se conseguiu escapar e fazer o que desejava. Será mesmo possível que isto, aqui, agora, sou eu, somos nós? Não me belisco para não acordar.

14 setembro 2011

casa

O sino da minha igreja. Falar com as pessoas em português (sentir-me eu, portanto). E dizer ao meu cão que não o vou deixar mais. O Natal pode continuar a ser todos os dias, muito obrigada.

12 setembro 2011

lá vamos nós

E hoje não me apetece dizer mais nada.

11 setembro 2011

onze de setembro, segundo a mãe

Querido Khalid,

Faz hoje dez anos que te perdi, meu filho. Tanto tempo e o meu peito ainda arde. Tem um buraco do tamanho da cratera que eles agora estão a reconstruir. A ti, ninguém te traz de volta.
Como sabes, os teus irmãos já se juntaram a ti (o Hani não recuperou da operação e o Aroun desapareceu nos primeiros raides) mas a tua irmã Fatima está bem. Casou e tem dois filhos, vivem todos connosco. A tua sobrinha Adeeba é que está a escrever esta carta, já que eu nunca aprendi as letras. É bonita e vai à escola, diz que quer casar-se com um bom homem temente a Deus e ser professora. Vamos ver o que se arranja.
Queria dizer-te que nem tudo é mau, meu querido filho. Faltam muitas coisas mas não vivemos com medo. Uma pessoa habitua-se. As paredes da nossa casa ainda estão crivadas de balas das RPG-7s mas a horta dá algumas cebolas e já conseguimos um melão este ano.
Penso em ti todos os dias. Lembro-me de como eras um menino bom, amigo de todos, sério. Lembro-me de te dar o saco da merenda quando saías de casa de madrugada para caminhar uma hora até à madraçal. Como me sentia orgulhosa de ti, filho!
Sabes, já não fico a pensar se valeu ou não a pena. Não te tenho mais e muitos outros se perderam. E as coisas não mudaram muito, principalmente para eles. Eles ficaram com medo, revoltaram-se. E agora voltam às suas vidas, como nós.
Gostava de estar contigo de novo. Gostava de ter a certeza de que encontraste a recompensa que procuravas. Mas a única esperança está no dia do Juízo. In shaa Allaah não tarde muito.

A tua, sempre
Mãe

09 setembro 2011

e onde estavas tu (quase) dez anos depois do nineleven?

A tentar não enlouquecer numa casa vazia, habitada por dois rapazinhos com demasiada energia e já nenhuma forma de a canalizar. A despachar os últimos tachos. E a ajudar um casal muçulmano (persas? jordanos?) à espera de gémeos, que ficou com muitas das coisas de bebé que ainda tínhamos. Eis o que conseguiram, senhores terroristas: ocidentais e orientais a conviver sem problemas, aliás, a conviver com os mesmos problemas corriqueiros do dia-a-dia. Ela com véu, eu com o cabelo lavado depois de ir correr, mulheres num mundo que não é assim tão grande, em certas coisas.

08 setembro 2011

uma crueldade assentida

"Who has more power than a child? She can be as cruel as she wants to be. He can't. He'd never. Please, Bea. Please have mercy. Children don't. Do they? Did you, Peter, have mercy on your own parents?"
in Michael Cunningham, By Nightfall

Quando eles nos vêm parar aos braços, os filhos, compramos um bilhete vitalício para a montanha-russa do amor sem reservas. Cuidamos deles, deixamo-nos inundar de amor, um amor posto à prova por muitas concessões de nós enquanto pessoas. Mas esse amor não é testado só com fraldas sujas, noites insones, doenças, também é quando crescem e desenvolvem a capacidade única de nos magoar. Não por mal, não conscientemente, mas com a inevitabilidade insidiosa de finas agulhas, que nos levantam a pele e nos deixam à mercê do que quiserem fazer de nós.
Deixam de falar connosco. Ou falam, e as palavras são avalanches de impiedade. Ou uma chuva fria, de Novembro. Porque nos conhecem tão bem (conhecem?). Portas fechadas. Segredos. Distância. Desdém. Auto-suficiência e superação. Quanto mais um pai ama um filho (e não falo de mimo, nem daquela reverência tão corrente nas famílias reduzidas de hoje), mais este se sente seguro. Tão seguro, tão confiante, que não questiona o amor que os pais lhe devem. Tem carta branca para pisar, para julgar, para magoar. Infelizmente, não é garantido que tudo isso passe com o fim da arrogância da juventude.
Sim, muitas vezes não tive (tenho?) piedade dos meus pais. Ainda que os adore.
Sim, os meus filhos vão fazer o mesmo comigo, mais tarde ou mais cedo. E acho que não há nada que ninguém possa fazer acerca disso.

07 setembro 2011

afinal se calhar fico

Tinha-me esquecido que, em Portugal, em qualquer esquina, por detrás de qualquer viela, cheira a carapaus grelhados. Isso ainda é pior do que política, futebol e telenovelas.

06 setembro 2011

gratidão

Caros Estados Unidos da América,
Ao longo destes dois anos, insultei-vos (sobretudo mentalmente) quase tanto como um orador num comício do PCP em Aljustrel. Contudo, é bom reconhecer o que vocês me trouxeram de positivo. Obrigada
Pelas torradas com manteiga de amendoim e doce de morango
Pela apple cider
Pelas saladas e sobremesas do Blue Rooster, em Cranbury
Pelo leite de amêndoa
Pelos melhores frutos silvestres, melancias e maçãs Macoun do mundo
Pelas Terhune Farms, em Lawrenceville
Pelo combóio a vapor, em New Hope
Pelo Dinky
Pela natureza e pelas pequenas e grandes construções, dos arranha-céus de NY à biblioteca pública de Princeton
Pela neve
Pelos Verões quentes e húmidos, em que dormi sempre de janela aberta a ouvir os sapos
Pelo Halloween e por fazerem uma grande festa a propósito de todos os pretextos imagináveis
Pelos autocarros escolares
Pelos camiões gigantes e carros de bombeiros cromados
Pelas lojas com "promoções" 365 dias por ano
Pela Paper Source, a Anthropologie, e a TerraCycle
Pelo D&R Canal e pelo Mercer County Community Park
Pelas oportunidades de emprego e pelo reconhecimento do meu trabalho
Pelos livros
Pela irrepreensivelmente funcional instituição-cidade que é a Universidade de Princeton
Pelos amigos, colegas e vizinhos norte-americanos, ucranianos, portugueses, irlandeses, gregos, búlgaros, italianos, peruanos, indianos, jamaicanos, equatorianos, dominicanos, dinamarqueses e chineses:
Anatoly
Marina
Rogério
Lúcia
Ana
Kathleen
Dimitrios
Katia
Dionisios
Lorenzo
René
Erica
Carol
Sarah
Emily
Rupah
Jamie
Jackie
Eva
Maria Emília
Addy
Thomas
Anne
Jen
Lauren
Jim
Dan
Rachel
Lindsay
Mai
Jonas
Daniel
Ane
Sean
Jack
Sofia
Isobel
Pela vossa inocência, determinação e capacidade de dar a volta por cima. Essas levo-as emprestadas, sim?
Vossa sinceramente,
gralha

05 setembro 2011

a despensa americana

Enquanto cá estive não consegui mais do que vislumbrar a ponta do icebergue da imensidão de porcarias coisas saborosas e inúteis que se vendem por cá. No entanto, há alguns produtos que me conquistaram e levo um pouco de (quase) tudo isto no contentor. Quanto mais não seja, este ano tenciono fazer um jantar de Acção de Graças por já não estar na América :D

o hidratante com o cheirinho mais guloso de todos os tempos

o cheiro da minha casa no Outono
 
chocolate + grãos de café, não há por onde falhar





porque o wasabi não serve só para sushi e sashimi
 


para o perú do Dia de Acção de Graças ou qualquer lombo assado
(também comprei secos, infelizmente não dá para levar frescos)





para a minha tarde de abóbora e nozes de pecan



03 setembro 2011

horários

Quase toda a gente que conheço é noctívaga ou, pelo menos, declara-se not a morning person. Note-se que, para mim, noctívago é alguém que acha que depois do pôr do sol é que a vida começa. Eu sou o contrário. Acordo muito bem às 6h, desde que tenha dormido. Tenho toda a energia do mundo de manhã. Depois do almoço gostava de poder fazer a sesta, mas longe vão esses tempos. À tarde ainda funciono mas a noite é para dormir. É por isso que me habituei lindamente aos horários que se praticam por aqui, em que se almoça ao meio-dia (quando não é antes), se janta às 18h (por acaso nós só jantamos às 19h) e a criançada está na cama às 20h.
Voltando a Portugal, não me safo de alterar as nossas rotinas. Paciência, faz-se. Mas o mais estúpido de tudo é que já sei que vou ser sujeita ao julgamento habitual quando manifestar o meu desagrado pelas horas mais tardias. Jantar antes das 21h é coisa de velho. Deitar antes da meia-noite é só para quem não tem vida. Acordar antes das 7h é sina de pobre. As pessoas são diferentes, OK? Tal como não estou à espera que todos comam o mesmo que eu, por que é que tenho de gostar de dormir até tarde ou de ficar acordada a ver porcarias na televisão até às 2h? Já para não falar que a maioria do mundo não vive nesse fuso horário que a nossa cultura europeia do Sul nos vende como sendo o mais adequado. Como se um mocho tivesse mais estilo do que uma gralha, tss, tss.

02 setembro 2011

materialisticamente falando

Dobrei, acondicionei e empacotei todos os bens da nossa família em 10 caixotes grandes e 7 malas de viagem. Uns senhores simpáticos com sotaque beirão e uma camioneta pintada de verde e vermelho já vieram buscar a encomenda que vai de navio até ao lado de lá. É nestas alturas que penso que é muito bom ter pouca coisa. E mesmo assim é tanta! A próxima pessoa que oferecer um brinquedo aos meus filhos (excepto o Pai Natal), uma moldurinha mimosa ao casal, um pano de cozinha para o nosso lar será fuzilada. Ou obrigada a desencaixotar a nossa tralha toda quando a formos buscar em Outubro.

01 setembro 2011

balde de água fria

A primeira recordação que tenho do meu marido é do dia em que ele fez 16 anos. Estávamos todos no ginásio a treinar, ele acabou uma série de abdominais e eu fui buscar um balde de água e despejei-lho em cima, com um sorriso rasgado e um caloroso "parabééééns!". Constato agora quão simbólico foi esse acto e quão profético da geração vindoura.
Foi uma parvoeira, claro que sim. Ainda para mais, não foi a única vez que fiz uma coisa deste género. Mas, ao passo que outros houve que reagiram com um murro nos meus dentes (e ganharam um murro no nariz, de brinde), o bom rapaz que o meu futuro cônjuge sempre foi ficou dividido entre a estupefacção e a superioridade perante gesto tão insignificante. E o que é que isto diz de mim? Que fazia coisas muito parvas, por exemplo. Que sempre tive dificuldade em conter os impulsos e medir as consequências dos meus actos. E que já arranjava maneiras mais meiguinhas de chamar a atenção do sexo oposto.
E agora, passados 14 anos, o que é sucede? Sucede que temos um filho pacífico, que só quer estar de bem com tudo e com todos. E depois temos outro que é o cúmulo da meiguice, enche-nos de abraços e beijinhos, só para depois nos bater e puxar o cabelo (e depois fazer festinhas, rapidamente arrependido). Ter filhos também é isto, é olhar um bocadinho ao espelho e perceber melhor certas coisas.