11 setembro 2011

onze de setembro, segundo a mãe

Querido Khalid,

Faz hoje dez anos que te perdi, meu filho. Tanto tempo e o meu peito ainda arde. Tem um buraco do tamanho da cratera que eles agora estão a reconstruir. A ti, ninguém te traz de volta.
Como sabes, os teus irmãos já se juntaram a ti (o Hani não recuperou da operação e o Aroun desapareceu nos primeiros raides) mas a tua irmã Fatima está bem. Casou e tem dois filhos, vivem todos connosco. A tua sobrinha Adeeba é que está a escrever esta carta, já que eu nunca aprendi as letras. É bonita e vai à escola, diz que quer casar-se com um bom homem temente a Deus e ser professora. Vamos ver o que se arranja.
Queria dizer-te que nem tudo é mau, meu querido filho. Faltam muitas coisas mas não vivemos com medo. Uma pessoa habitua-se. As paredes da nossa casa ainda estão crivadas de balas das RPG-7s mas a horta dá algumas cebolas e já conseguimos um melão este ano.
Penso em ti todos os dias. Lembro-me de como eras um menino bom, amigo de todos, sério. Lembro-me de te dar o saco da merenda quando saías de casa de madrugada para caminhar uma hora até à madraçal. Como me sentia orgulhosa de ti, filho!
Sabes, já não fico a pensar se valeu ou não a pena. Não te tenho mais e muitos outros se perderam. E as coisas não mudaram muito, principalmente para eles. Eles ficaram com medo, revoltaram-se. E agora voltam às suas vidas, como nós.
Gostava de estar contigo de novo. Gostava de ter a certeza de que encontraste a recompensa que procuravas. Mas a única esperança está no dia do Juízo. In shaa Allaah não tarde muito.

A tua, sempre
Mãe

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