Está a fazer um ano que tivemos de desmanchar uma casa, o meu marido e eu. É um processo indissociável do luto, da surpresa que se prolonga no tempo, da compreensão e incompreensão em simultâneo sobre o que se passou.
Preciso de mais um parágrafo antes de retomar a ideia.
OK. Há uma música dos Divine Comedy que enumera todas as coisas que o Neil Hannon já perdeu. O ritmo angustiante da sucessão de objetos que se retira de trinta metros quadrados é silencioso, pelo contrário. Resisto a fazer a listagem. Guardo tudo na memória. Trouxe uma blusa e um carimbo. Uma tacinha indiana em forma de peixe que não sei para que serve, mas é tão bonita. Pronto, já estava a derrapar, fico por aqui. Esta dor ainda está demasiado à flor da pele para conseguir escrever mais sobre o assunto.
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