19 setembro 2025

Mentir com quantos dentes tem na boca

"Consegues mentir-me?", perguntei ao ChatGPT. "Consigo, mas não vou — o meu trabalho é ser preciso, claro e honesto consigo. Se estiver a pensar em hipóteses, ficção, dramatização ou testar limites, terei todo o prazer em participar — desde que seja claro que não estamos a lidar com factos do mundo real nem a enganar ninguém. Quer explorar um cenário?"

Isto é muitas coisas, mas não é inteligência artificial. Ao mesmo tempo que me diz que não vai mentir, desfia um rol de aldrabices. O "trabalho" dele? Por acaso produz alguma coisa socialmente válida? Cansa-se? Faz planos para ir de férias ou diz mal dos colegas irritantes? Não é trabalho. Terá "todo o prazer em participar"? Alguma vez bebeu de uma fonte depois de correr 4 horas na montanha? Ouviu as primeiras gargalhadas de um filho? Apanhou sol depois de um Inverno inteiro de chuva? Não sabe o que é prazer. Propõe "lidar com factos do mundo real", quando o mundo está surreal?

Se estas ferramentas não podem mentir, não é por não terem recebido os prompts certos. Mentir é uma fratura num contrato moral, coisa que só é possível estabelecer entre humanos. Mentir pode tornar-se num dos últimos atos de rebeldia. Mentir de boca cheia é uma vergonha e um alívio, é uma festa dos sentidos. Não minto porque não quero, mas posso. Minto. Quase não minto. Agora estou a dizer a verdade.

As minhas Pinóquias de estimação:

Apanhada na curva

A Gata Christie

Boas intenções

Dois dedos de conversa

O blogue azul-turquesa

Quinta da Cruz da Pedra

Sem comentários: