16 fevereiro 2006

as coisas não ditas

Uma relação, para sobreviver - de uma forma que valha a pena e não simplesmente a arrastar-se -, precisa de ingredientes como os sentimentos, a admiração, o respeito, a capacidade de ajuste mútuo. E se é verdade que a comunicação é fundamental (até para mim, que não sou de muitas conversas), também é indispensável que certas coisas não sejam ditas. Se ambos contarem tudo, falarem de tudo, confessarem tudo, surgirá, mais cedo ou mais tarde, um pequeno tremor de terra silencioso.
Não podemos dizer que não gostamos mesmo nada daquela música, a preferida do outro ("não se ama alguém que não ouve a mesma canção").
Não podemos admitir que achamos aquele amigo um grande imbecil.
Não podemos reconhecer que aquela saia linda que nos ofereceu é a coisa mais horrível a sair de uma loja desde a invenção daqueles tops que alargam da cintura para baixo, e que só ficam bem às grávidas.
Sobretudo, não podemos dar a entender que nunca nos poderemos entender com os pais do respectivo.
Nunca, por nunca, tecer comentários menos abonatórios da masculinidade/ feminilidade do outro.
Mas o pior dos pecados relacionais é abrir-lhe as portas àquele quartinho onde temos guardadas (mentalmente, entenda-se!) todas as outras pessoas que já tiveram ou poderão ter significado romântico na nossa vida: ex-namorados, paixões não concretizadas, flirts sem importância. Todos estes têm de estar bem guardadinhos, sem nomes, sem cara, sem aparente protagonismo, como demónios domesticados que só nós, na mais extrema intimidade, podemos gerir.

2 comentários:

Margarida Atheling disse...

Tens a certeza?!
Eu prefiro contar. E prefiro que me contem.
Prefiro que me fale "dela" todas as vezes que lhe passar pela cabeça, prefiro isso a que se cale e a guarde só para ele.
E prefiro fazer o mesmo. Pelo menos nesta altura da vida, mas admito que nem sempre foi assim.
Agora... realmente há coisas que não é preciso trazer à conversa.

Beijinhos!

gralha disse...

Não digo que nunca se diga que houve este, aquele ou aquele. Agora estar a dissecar o que se passou...