Há um grito no meu peito que não pode ser mais contido: por que é que, hoje em dia, parece um crime uma pessoa querer casar-se? Porquê? É piroso, sintoma de submissão, quadrado ao mais alto nível, sinal de que não se é ambicioso o suficiente para dedicar os 20s e 30s, em quase-exclusividade, à carreira. Quando fui à minha primeira entrevista de emprego, numa multinacional-queremos-o-seu-coiro-aqui-a-dar-no-duro-das-9h-às-23h, cada pessoa no grupo a ser testado tinha de ir respondendo sem pensar a perguntas-relâmpago do entrevistador-do-Mal:
Entrevistador-do-Mal: Qual é o seu maior sonho?
Gralha-pura-e-ingénua: Casar e ter filhos.
Como todos vós adivinhais, recebi um sorriso de desprezo e não uma bela proposta para começar na próxima semana.
Qual é o mal de se viver no século XXI e não achar que a carreira deve vir em primeiro lugar? Mais, qual é o mal de achar que há alguma coisa de sagrado na decisão de duas pessoas viverem juntas para sempre, e querem assumir perante a Lei - ou, no meu caso, perante Deus - essa decisão? Quando tento demonstrar o meu ponto de vista tratam-me como se estivesse a confessar que tenho piolhos: isso já lhes passou pela cabeça mas só quando eram crianças.
Partidários-do-casamento-já-não-se-usa: Mas que diferença faz um papel? O que interessa é o que se sente, sem haver prisões.
Gralha-terrorista-pró-matrimónio: Lá está! Não é um papel, é um voto, uma decisão formalizada. Os seres humanos têm destas coisas, um dos traços que nos destingue dos animais irracionais.
OK, é verdade que vivo num contexto urbano, provavelmente é diferente noutros sítios. O que é certo é que nenhum dos meus primos se casou ou casará tão cedo, e apenas uma das minhas amigas o fez. Será que tenho um efeito anti-enlace em meu redor?
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