01 março 2013

fazendo a ponte sobre o abismo

Este post não é sobre política, é sobre pessoas. As pessoas conhecem-se mal a si próprias, acham que conhecem benzinho quem as rodeia e não fazem puto de ideia do que é a realidade de quem está mais distante. Essa distância vale em tempo, espaço, clube de futebol, religião, e postura geral perante a vida. A massificação das comunicações trouxe a esperança de um maior interconhecimento mas, frequentemente, serve apenas para colocar o enfoque sobre as nossas ignorâncias mútuas. E as distâncias não se superam facilmente; na verdade, ampliam-se - e muito - neste tempo de adversidade.
Apesar do facilitismo perigoso de conceitos como “ricos” e “pobres”, o que é facto é que há estatisticamente um abismo cada vez maior entre a larga maioria que luta pela sobrevivência e os pouquíssimos que concentram a fatiazorra dos recursos da Terra. Cada um tem uma carrada de preconceitos imbecis sobre o outro. Os pobres são preguiçosos, invejosos, dependentes, oportunistas, exigentes, desorganizados e uma praga com a qual os contribuintes têm de levar; os ricos são uns egoístas, materialistas, sortudos, arrogantes, fúteis, gananciosos, obtusos, e mereciam todos ser fuzilados em praça pública. É tão fácil acreditar nestas imagens redutoras.
Toda a gente concorda que as coisas não estão nada bem, como estão. Atira-se culpas pelo ar e não se avista uma solução. Discordo profundamente dos que acham que reduzir o metabolismo de uma sociedade pode resolver alguma coisa (e já nem estou a falar das injustiças brutais na aplicação dessa dieta). E discordo também dos que acham que é preciso arrasar tudo para começar de novo, improvisando pelo caminho. A verdade é que não tenho soluções mas sou firme na denúncia dos problemas. E não há problema que se resolva enquanto as pessoas não aprenderem a sair de si e a colocarem-se no lugar do outro. É por isso que vou estar , onde importa, amanhã. Não é para gritar obscenidades nem para dissolver na multidão as minhas angústias. É para estarmos uns com os outros e vermos que, na verdade, estamos todos juntos. Vemo-nos por lá.

14 comentários:

Melissa disse...

La nos vemos!

Carla R. disse...

Não vou chegar a Portugal a tempo, mas gostava muito de ir a esta manifestação. Por tudo isso que dizes, mas também para ver se no meio do protesto se deslumbram alternativas.
Viste as ultimas sondagens ? Fazem medo, parece que existe ainda muita gente que não quer que as coisas mudem. Não se percebe ...

gralha disse...

As pessoas morrem de medo da mudança. E há muitas que acham mesmo que não há alternativa, que é o que merecemos. Triste.

disse...

Gralha primeiro peço que não interpretes mal o que vou dizer.
Vive-se muito mal neste momento em Portugal, famílias que viviam bem são agora os novos pobres. Neste momento tornei-me descrente, já não acredito em ninguém é tudo farinha do mesmo saco...acho que nunca mais vou votar na minha vida. Mas "que se lixe a trioka" e depois o quê??? Quais são as alternativas? Todos sabemos que neste momento andamos ali à tona a tentar respirar...muitos já se afogaram, outros tantos é uma questão de semanas, de meses. Mas se não for assim é de que forma...não é só gritar e insultar. Mas e se ás tantas a Troika se lixar mesmo pra nós vamos sair deste esgoto como?
Isso é que ninguém é capaz de dizer.
Como está é certo e sabido que não dá.
Mas alternativas também não vejo ninguém a chegar-se à frente.

OK este post não é sobre politica. Desculpa o desabafo ;)

gralha disse...

Té, eu não subscrevo tudo do que diz o Que se Lixe a Troika, nem pensar. Mas aproveito a iniciativa para me juntar a outros e mostrar o meu descontentamento. Como disse, também não sei qual é a solução, só sei que não é por aqui - e estou farta que o Governo venha dizer que os que pensam como eu são uma minoria.

Anónimo disse...

Eu devo ser extremamente ignorante ou entãoe stou há muito tempo fechada aqui no interior mas, sinceramente, amiga, nunca na vida me parece que vá por os pés numa manifestação. Mas achas/acham mesmo que adianta alguma coisa? A sério?
Porque na minha perspectiva só "adianta" se morerem dezenas de pessoas e o governo tenha mesmo que se demitir, pelo caos instalado ou assim.
Comove-me, mas de chorar, ver a ligação entre as pessoas nas manifs, acho que é uma exemplo de sintonia e dor comum e luta, enfim, percebe-se ali uma força que me ultrapassa e comove mas penso que é só isso. Não acredito que os membros do governo se comovam com as imagens...
A minha irmã que, como sabes, tem uma bebé(a mais linda do mundo) com semana e meia já soube que perdeu o emprego e o meu cunhado também está desempregado há meio ano (além do c****o do cancro que volta e meia reaparece). Mas eu vejo neles, ainda, a esperança, sabes? Claro que têm muito apoio e nunca ficariam na rua ou a passar fome e aí, lá está, há quem fique mais desesperado. Mas eles não param e têm corrido tudo e já se perspectivam possiveis trabalhos, bem diferentes das áreas deles... E esse não parar adianta-lhes muito mais do que ir a uma manifestação. Eu posso estar mesmo a ser uma burra quadrada, mas é isto que penso. E ponho em causa a minha ideia das manifs porque sei que és inteligente e vais quando dizes que as pessoas morrem de medo de mudança, isso tem que começar em cada um, não é apenas na mudança de um governo. E a alternativa tem que começar por ser procurada por cada um... e isto eu sei que é verdade porque há muitos casos de sucesso nessa mudança, nessa busca de alternativa.

A Naná bem me disse para fazer um blog em que os posts são comentários a outros blogues, pelo tamanho deste acho que tenho que lhe dar ouvidos! :)

Naná disse...

Também eu vou marcar presença, mas mais a sul.
Vou pela mesmas razões que tu apontas, porque acho que esta solução não dá.
Até poderia concordar com a dieta, desde que ela fosse equilibrada e distribuída de forma mais ou menos equitativa. Se isto é uma utopia, até pode ser que sim... mas o facto permanece, que andam uns a pagar as facturas dos outros... com ou sem número de contribuinte.

Vou porque sinto que a dieta que me impuseram (a mim e a tantos outros como eu) não vai ter qualquer efeito do que era desejado. Vou porque acho que a dieta passou a ser quase uma forma de greve de fome numa qualquer solitária prisional...

disse...

Estamos num beco sem saída, penso eu.
Se eu chegar ao pé de ti e der um murro na mesa e gritar bem alto que assim não pode ser, tu vais querer saber então qual é a minha sugestão. Se assim não pode, pode de que maneira.
Estamos todos f******, é o que é!
:(

Naná disse...

Vera, vês?! Eu bem te disse!

Quanto à questão da mudança, eu não tenho medo dela, se o esforço de mudança for para melhorar o que está mal.

Fado miserável o nosso nos últimos anos que as mudanças não resultaram na melhoria, mas sim na degradação de tudo o que conhecemos...

gralha disse...

Minha querida Vera, a mudança de que falo é de sistema socioeconómico e não de governo. Parece que não há alternativas civilizacionais ao século XX do Ocidente mas basta estudar um bocadinho de História para ver que as coisas estão sempre a mudar :)
Um beijinho muito grande para a tua irmã (para toda a família) e que possam ter a possibilidade de sonhar com vôos mais altos! Sinto que andamos todos tão rentinho ao chão...

Ana C. disse...

Tu escreves bem, gralha. Aliás, muito bem ;)
Um povo calado e conformado é um povo encavado por diversos orifícios. Já não basta não termos voz que nos represente e nos defenda no governo, não podemos deixar de falar em defesa própria. Mesmo que não dê em nada. É simbólico e só deus sabe como precisamos de simbolismos positivos.
A única coisa que odeio são manifestações com partidos instigadores por trás. Por isso, a manifestação de Novembro de 2012 foi tão "bonita". Ali não se sentiu partidarismos. Ali sentiu-se apenas um povo descontente.

calita disse...

Eu não tenho dúvidas que cada um de nós deve procurar o seu caminho, deve encontrar soluções, alternativas para a sua vida (de preferência que não envolvam suicídios e homicídios), mas isso não significa que não possamos (eu diria até que é quase um dever) mostrar a nossa indignação com as opções que os nossos Governantes, escolhidos por nós, estão a tomar. É claro que eu vou continuar a gritar ao vento que é nas urnas que podemos fazer a diferença, mas já sei que essa, sim, é uma luta perdida.

P.S Qual a alternativa? Fazer como a Islândia, por exemplo: "os responsáveis pelas dívidas que entalaram a Islândia começam a ser responsabilizados - muito à conta da pressão popular sobre o novo governo de coligação, que parece o único do mundo disposto a investigar estes crimes sem rosto (até agora)."

http://www1.ionline.pt/conteudo/113267-islandia-o-povo-e-quem-mais-ordena-e-ja-tirou-o-pais-da-recessao

Anónimo disse...

Hoje o L. pediu leitinho às 6h27. Voltei a deitar e vi que eram 6h30 certinhas e pensei (mas juro que pensei mesmo): "Ai Jasus, a Gralha deve estar a levantar-se para ir correr..."
Eu ainda pensei: "se fosses esperta ias para a máquina (16 exercícios, que o R. comprou com o ultimo subsidio de natal que recebeu) e depois mandavas um mail à Gralha a dizer: estamos juntas nisto!". Não sei como, só voltei a pensar quando o despertador tocou, perto das 8h, isto é muito mais forte do que eu...

gralha disse...

Vera, na próxima semana, quando for correr, vou desejar muito que o L. tenha o juizinho de deixar a mãe dormir e não pedir leite a meio da noite. Beijinhos!