“Eu tenho sorte pois, sendo pobre, sobra-me tempo e tenho sonhos”. A Floribela cantava que os ricos não têm sonhos, mas isso é porque ela era uma personagem ficcional do tempo das vacas gordas (Lembram-se? Aquela altura em que todos podíamos ir passar uma semana de férias ao Brasil? Tão bonito). Alguém havia de lembrar-se de fazer uma nova versão da Floribela, coisa de louvar neste período em que tanto precisamos de abraçar as arvenzinhas do bosque e acreditar que as fadinhas nos vão ajudar a pagar as contas. Podia ser que eu voltasse a ver televisão, e tudo, que até o Odisseia já me desarrumaram e ainda não voltei a dar com ele.
O único problema seria adaptar toda uma filosofia azul-cueca à realidade actual, em que os pobres já nem sequer têm sonhos e muitos ricos se autoflagelam mentalmente por tê-los. Vejamos: eu gostava mesmo muito de ir ao concerto dos Muse em Junho, no Porto. Mas a minha consciência de pobre diz-me que não posso, porque tenho de pagar o selo do carro; a minha consciência de rica diz-me que sou uma fútil alienada do mundo por querer gastar um dinheirão numas horas de barulho e numa viagem de comboio (que provavelmente não se daria, de qualquer forma, em virtude de mais uma greve da CP). A crise povoa-me a cabeça de macaquinhos, cerca-me de dificuldades materiais e restrições morais, prega-me rasteiras aos desejos e aponta-me o dedo às vontades. A crise é uma bruxa do pior.
Claro que esta conversa foi toda uma desculpa para ver se alguém se chega à frente e me oferece o bilhete. Pintinho, podes ser tu, visto que a festa é em tua casa e eu nunca lá fui, não há direito.
4 comentários:
O Odisseia agora é ao sábado às 21h.
Se sonhasses em ter Meo em casa, ainda o podias ver hoje no sofá. :-P
Aqui, pa : http://www.rtp.pt/programa/tv/p29649
Compra imediatamente o bilhete dos Muse, que depois esgota e vais andar a vender o que tens e não tens para o comprares no mercado negro e vai na volta é falso.
Sabes o que te digo!? Que o que levamos melhor desta vida são esses momentos, sejam concertos, viagens ou pequenas extravagâncias que nos dão prazer! Porque isto de andar a trabalhar para tudo o que ganhamos ser arrebatado por chulos e não nos gozarmos do que suámos, não é ser pobre, é não viver!
E eu não lhes dou essa satisfação!
O que é bom de ser um absoluto calhau musical é que nunca gastaria um tostão para ir a um concerto. Mentira, gastei uma vez e fui ver Caetano Veloso ao coliseu e nem o Leãozinho cantou... nunca mais me enganam.
Mas o que gostei mais neste post foi do título, o pormenor de teres escrito duas vezes "tenho"... que uma pessoa lê e começa logo a trautear a canção... Obrigada, Gralha, agora está em repeat na minha cabeça e não sai...
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