Adoro esta fase dos meus rapazes, sobretudo do mais novo, em que andam fixados nos conceitos do bem e do mal, dos bons e dos vilões. Ainda que vá desconstruindo um bocadinho essa ideia do mundo a preto e branco, também me parece importante deixá-los explorar estes alicerces da moralidade, criando personagens, desempenhando papeis e escolhendo referências reais e imaginárias. Este é o tempo dos super-heróis e das armas imaginárias. Diariamente sou raptada por malfeitores e resgatada pelos meus bravos salvadores. Às vezes sou ladra, outras polícia. Também vou salvando alguns príncipes em apuros, que isto há limites ao respeito pelos estereótipos da narrativa infantil. O grande fascínio do momento é o Super-Homem, desempenhado pelo Christopher Reeve. E a verdade é que mesmo eu tenho um fraquinho pela estória, sobretudo na versão original.
Esta conversa toda serve para contextualizar o seguinte episódio de espectacular dramatismo do meu cavaleiro andante com quase quatro anos de idade. Aquela amostra de gente vive tudo com tal paixão e arrebatamento que só posso imaginar que venha a ser um grande artista. Ou um grande farsante. Senão, vejam:
O cenário: À mesa, durante o jantar.
Os personagens: Pais e filhos.
O enredo: Filhos devoram gigantes pratadas de massa com atum. Pai põe a tocar na estereofonia o tema principal do Super-Homem, do John Williams. Mãe começa a dançar na cadeira e filhos seguem-lhe o exemplo. Eis senão quando, filho mais novo começa a ficar com os olhos marejados de lágrimas, o beicinho a despontar, e desmancha-se numa choradeira monumental, com direito a ataque de tosse e metade da refeição devolvida à procedência. Sobrecarga de emoção para quinze quilos de criança.
É muito exagerado, este meu filho. Até parece alguém que eu cá sei.
P.S. Para quem esteja a precisar de uma purga gastroemocional pós-festas, cá vai uma ajuda.
1 comentário:
Também não percebes que a emoção é mesmo para ser sentida assim... em doses exageradas :P
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