Acho que era um sábado de Junho, em Saarbrücken. Caía uma chuvinha miserável, daquelas do Verão na Alemanha. Mal saímos da estação, demos de caras com a montra de uma agência de viagens cheia de imagens de Albufeira em saldos. Desistimos do passeio pela cidade e fomos para casa de uma outra amiga italiana secar os sapatos. Deram-me a provar frisella e vinho apuliano. Um parêntesis importante para coser as pontas à história: a frisella tem de demolhar-se. E não é que, em vez de uma papa sensaborona, sai um petisco delicioso? Nem só de açorda vive uma mulher. Fim do parêntesis. Não me lembro do que elas cantavam em dialecto mas sei que, nessa altura, andava eu a ler o Dona Flor e Seus Dois Maridos. Queria era ir para casa enfiar-me na cama a ler, até me subirem os calores. Não parou de chover e regressámos a Trier no último comboio. Subi sozinha até ao campus, perguntando-me de novo o que estava ali a fazer.
Isto a propósito de mais este Janeiro interminável. É como se estivesse num elevador parado entre dois andares. Desde que uma pessoa não esteja aflita para fazer chichi, há situações mais desagradáveis. Para quem não anda com um pé-de-cabra, a solução é aguardar pelo técnico. Mesmo assim, sente-se um bocado a consciência do desperdício.
21 comentários:
Sou pela abolição de Janeiro no calendário. É o pior mês do ano. Não há nada a fazer, é esperar que passe.
Já parou de nevar aí? Aqui já está a passar o frio (repara no meu optimismo incipiente, ninguém pode dizer que não me esforço por isso).
O meu "esperar que passe" é dezembro. Janeiro é o mês de negociar resoluções para mais baixo.
Oh, ler até subirem os calores. Hahahaha. Tão bom. :) Nunca li dona Flor, só vi o filme. Se calhar levo hoje da biblioteca.
Eu amo, mas amo de paixão estes teus raciocínios, os parêntesis e a forma absolutamente genial como escreves.
Já perguntei e volto a perguntar: para quando um livro de pequenas crónicas e reflexões? Caraças, pá, anda por aí tanta merda publicada e por aqui há tanta coisa boa que merecia outro destaque!!
Pensa nisso, gralhinha, pensa nisso!
:)
E sim, que puto de mês interminável... Nunca tive um igual.
(Este é o meu blog preferido de todos. A sério.)
Ena, já não caibo em mim com tanto elogio :)
Por acaso aqui está uma grande lacuna na literatura contemporânea: a narrativa erótica. Anamê, vou começar por aí, está decidido.
Lê o livro, Melissa. Vale a pena.
Já cá está ao meu lado. :)
Na literatura e no cinema. Estou farta de dizer que quando me dedicar a fazer cinema erótico para mulheres, fico podre de rica.
Cinema, ainda vai havendo umas coisitas, Mãe Sabichona. O pessoal está disponível para pagar bilhete para ver truca-truca. Ler truca-truca é que dá uma grande trabalheira. Ou antes, escrever bom truca-truca que ponha o pessoal a ler não é coisa fácil.
Oh god!! Tens a certeza de que narrativa erótica é uma boa ideia?!!
Confesso que não tenho paciência nenhuma para sensualidades em papel!!
Prefiro que se me subam os calores com o gajo que me faz chá Noites Tranquilas!!
Mas uma coisa não invalida a outra, Ana. Até pode dar um belo tema de conversa ;) E nada de confundir boa narrativa erótica com Sombras e essas coisas. Olha um Lolita, um Ligações Perigosas, um Amante de Lady Chatterley. Agora é que não vejo nada de novo.
A Casa dos Budas Ditosos!!!
Adicionado ao Goodreads, Melissa. Obrigada :)
Hummm... no, not my cup of tea!!
:)
A tua descrição faz-me lembrar Bruxelas. Tão boa!
Erotismo puro não sei, mas ler Paixão e senti-la no estômago é muito bom!
Viste que morreu a Colleen, motoqueira? RIP.
Só para rematar o tema da narrativa erótica (Anamê revira os olhos de aborrecimento), melhores blogues nessa categoria: Ana de Amsterdam e Menino de Sua Mãe. É uma pena que a Ana Cássia Rebelo não publique logo o que anda a escrever há tanto tempo.
Nunca, jamais, em tempo algum te revirarei os olhos, gralhita de mi corazón!!!
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